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Quarta-feira, 26 de Outubro de 2022
Frei Bartolomeu de Las Casas e não só

Graças a uma aula on-line de Miguel Morgado, tomei há pouco tempo conhecimento de uma figura histórica da qual tinha ouvido vagamente o seu nome, mas que, pelo seu percurso e pela sua influência no pensamento europeu e ocidental, rapidamente me surpreendeu. Refiro-me a Frei Bartolomeu de Las Casas, um frade dominicano espanhol que viveu entre os anos 1484 e 1566.

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Segundo consta Bartolomeu, com nove anos, terá assistido à chegada de Colombo na sua primeira viagem às Índias Ocidentais. O seu pai, Pedro de Las Casas, acompanhou Colombo na sua segunda viagem. Em 1502 é o jovem Bartolomeu que atravessa o Atlântico para se fixar na ilha Hispaniola, actual território da República Dominicana e do Haiti.

O contacto com o Novo Mundo foi um acontecimento maior na história da humanidade e Bartolomeu tem consciência disso. Mais tarde descreve essa época histórica como “um tempo novo como nenhum outro”.

Juridicamente, a exploração do Novo Mundo tinha como base a Bula Inter Cætera, que foi promulgada um ano após o regresso de Colombo, e que estabelece que os novos territórios pertencem aos reinos de Espanha e Portugal (antecipando o que virá a ficar mais tarde conhecido por Tratado de Tordesilhas) referindo, no entanto, que essa posse depende e resulta da evangelização dos povos e da propagação da fé cristã.

Desde a sua chegada ao Novo Mundo, que Las Casas se incomoda com a crueldade com que os índios, ameríndios ou indígenas, consoante as diferentes designações, são tratados. O debate que se estabelece entre os colonos e alguns clérigos, remete para as doutrinas aristotélicas, que distinguem a escravatura convencional da escravatura natural. Segundo este filósofo da antiguidade, a escravatura convencional resulta dos direitos de conquista ou da aquisição, enquanto que a segunda sustenta-se numa superioridade natural do esclavagista em relação ao escravizado. Estes dois conceitos desencadearam vários debates ao longo da história da Igreja. Sobre esse tema, Santo Agostinho elabora dizendo que a escravatura era uma criação humana, e que continha traços do pecado original, afirmando por isso que não era natural. Daí resulta, ainda durante a Idade Média, a proibição de um cristão poder escravizar outro cristão.

Em 1507 Bartolomeu de Las Casas é ordenado padre da ordem dominicana e os seus sermões passam a ser manifestações da sua preocupação com os direitos dos índios. Após um outro clérigo dominicano, António de Montesinos, afirmar que os “espanhóis esclavagistas estão a perder a alma”, Las Casas sobe a parada e diz que está em causa também a salvação da alma do imperador, dirigindo-se assim ao Infante Carlos, futuro imperador Carlos V.

Todas estas “inovações” são suficientes para que os clérigos que defendem os indígenas consigam a atenção do imperador passem mas também que passem a ser perseguidos pelos colonos.

Entretanto, em 1537 o Papa Paulo III promulga outra bula, a Sublimus Deus, segundo a qual é estabelecido que os índios são providos de alma racional. Esse é um passo importante pois confirma que os europeus se devem relacionar com eles como se de europeus se tratassem.

Em 1540 Las Casas é nomeado bispo de Chiapas, o que significa que apesar dos incómodos causados, vai ganhando importância na hierarquia eclesiástica e em 1542 o Imperador promulga as Leyes Nuevas que proíbem a escravatura e os maus-tratos aos índios americanos.

A distância e o tempo necessário para que uma nova lei, especialmente impopular entre os colonos, percorresse a distância entre Madrid e os confins do império é enorme. Pouco tempo depois, à escala da época, o Vice-rei do Peru, Vasco Nuñez Vela, que representa o Imperador a as Leyes Nuevas, é aprisionado, julgado e executado pelos colonos em 1546.

É com todos estes episódios como pano de fundo que Carlos V, em 1550, convoca o Conselho das Índias para o que irá ser conhecido como o Debate de Valladolid, que decorreu no Colégio de São Gregório. Até que o Conselho se pronuncie, o Imperador ordena suspender toda a exploração e conquista no Novo Mundo.

Neste confronto, as duas visões opostas são representadas por Frei Bartolomeu de Las Casas, defendendo os direitos dos índios, e por Juan Ginés Sepúlveda, um jurista aristotélico, que representa os interesses dos colonos.

Sepúlveda é o primeiro a pronunciar-se e afirma que a escravatura dos ameríndios se justifica por direito natural, uma vez que estes são desprovidos de alma. Refere que os sacrifícios humanos e outras práticas de canibalismo são a prova disso mesmo, acrescentando que estes não mostram qualquer interesse pela conversão, chegando a ser violentos para com os evangelizadores. E assim, em menos de uma hora, Sepúlveda expôs os seus argumentos perante o ilustre Conselho das Índias.

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Chegando a vez de Bartolomeu de Las Casas se pronunciar, este começa a ler um tratado que tinha preparado para o efeito, e que não era mais do que o somatório dos pensamentos desenvolvidos durante toda a vida a defender os que, sendo diferentes, eram simplesmente semelhantes[1]. A leitura deste tratado demora vários dias. Por conhecer, há muito, os argumentos de Sepúlveda, Las Casas disserta sobre cada um deles, argumentando que se os indígenas são desprovidos de alma, então não poderão ser convertidos e isso esgota a validade da Bula Inter Cætera e esvazia a base intemporal da descoberta e exploração do Novo Mundo. Afirma ainda que a conversão deve ser um acto de amor, pelo pregador que ama o pagão enquanto criatura de Deus, e que este também acabará por se sentir amado por Deus. Só depois de convertido, o indígena dará cumprimento à bula papal, aumentando os direitos intemporais do Papa assim como os direitos temporais do Imperador.

Acrescenta dizendo que ao defender os direitos naturais de liberdade dos índios, defende também as almas dos colonos e até do imperador. E pelo contrário, os argumentos de Sepúlveda representam naquele debate o trabalho do demónio.

Passados os dias necessários para que todo o tratado fosse lido, os ilustres membros do Conselho das Índias recolhem para avaliação e meditação e, após quase um ano, acabam por reconhecer a validade dos argumentos de Las Casas, sem que, no entanto, tivessem forma de fazer que os colonos dessem seguimento às conclusões dali saídas.

Bartolomeu da Las Casas, os dominicanos em geral, assim como outras ordens religiosas, insistem em recusar os sacramentos a quem escravizar os índios, defendendo igualmente os direitos e o respeito pelos escravos africanos.

A distância a Madrid e a incapacidade do imperador que daí resultava, levou a que todos os tratados e argumentos elaborados por Bartolomeu da Las Casas não tivessem efeitos imediatos sobre as práticas que este condenava, mas lançou um sólido debate e também a má consciência do mundo cristão relativamente à escravatura.

É frequente associarmos o Padre António Vieira a este mesmo movimento, mas os seus famosos sermões foram proferidos mais de um século e meio depois de tudo isto, o que sublinha bem a importância de Frei Bartolomeu de Las Casas.

O interesse que este clérigo dominicano espanhol me gerou, resulta da confirmação do que já sabia, e que era que a escravatura, enquanto prática inaceitável e repugnante, além de existir desde a antiguidade, foi substancialmente questionada pelos pensadores dos impérios europeus cristãos e que a sua posterior abolição resultou exactamente do debate criado pelos teólogos da sociedade esclavagista.

Independentemente do que cada europeu, possa achar ou sentir sobre religião cristã e católica, só por ignorância ou má vontade, ou ambas, poderá negar que aquilo em que nos tornamos resulta do que fomos ao longo de uma história milenar.

O que podemos definir como Ocidente, é exactamente resultado, deste percurso, encharcado em pecados e em dúvidas, que por tentativa e erro, com más decisões tomadas por gente boa, assim como, por gente horrível, que por vezes fez coisas boas.

Existiu uma ciência na antiguidade longínqua, mas só os mais alienados podem fazer por ignorar que o método científico, conforme o conhecemos, só poderia ter surgido na procura, maravilhada, das regras divinas escondidas nos fenómenos físicos e químicos. Se existe uma matemática escondida na posição dos planetas e das estrelas, como é que o cosmos pode existir sem uma inteligência prévia?

São, ou não, as obras clássicas basilares da nossa civilização? O Messias de Händel, o Requiem de Mozart, a Paixão Segundo São Mateus de Bach, a Pietá de Michelangelo e a Deposição de Cristo de Raffaello. Como é que nos podemos desligar dessa herança espiritual, cultural e artística? Está ou não o cristianismo no âmago da nossa sociedade que, entretanto, se tornou anti-confessional?

E o Jazz, o Blues, o Samba e o Rock? Alguma vez teriam existido sem que tivesse havido a escravatura? E como é que foi possível criar algo tão maravilhoso em cima de tanto sofrimento?

O mundo nunca esteve resolvido. Sempre avançou como quem estica uma perna só para não cair. E isso é o que se faz para caminhar. Sempre andamos à procura de um equilíbrio que nos fez avançar, convictos de que o mais difícil é mesmo ficar imóveis. Por isso avançamos.

Olhar para trás é importante. Conhecendo a história, aprendemos artimanhas que nos poderão evitar mais trambolhões. Mas o mais importante é não nos deixarmos iludir pelos revolucionários, que por um impulso de autoritarismo ou apenas pela busca de uns momentos de glória, não hesitarão em lançar o caos.

 

[1] Ouvir este argumento nos dias de hoje, em que tanto radicalismo assenta exclusivamente na impossibilidade de aceitar os que pensam de maneira diferente, é especialmente interessante.



publicado por Paulo Sousa às 08:00
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Sábado, 28 de Setembro de 2019
A minha nova morada

Mudei de morada. A partir de hoje vou estar aqui.



publicado por Paulo Sousa às 17:42
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Sábado, 4 de Maio de 2019
Sobre o glifosato e o fim do mundo

Se a vida na terra tivesse 24 horas, o ser humano teria apenas aparecido apenas nos últimos minutos. Isto significa que o conceito do "fim do mundo" é geologicamente recente pois só existe desde que o primeiro humano formulou esse pensamento. Antes disso existia apenas mudança permanente e que afinal nunca foi interrompida. Os equilíbrios da natureza são importantes e dependemos deles, mas não são permanentes nem definitivos. Tal e qual como a espécie humana.

É altamente ver na TV os ursos polares a caçar, especialmente num écran grande e numa sala escura. O que perturba é o locutor a garantir que o fim do mundo vem aí, e que se não nos arrependermos eles vão morrer. Provavelmente irão mesmo extinguir-se tal e qual como aconteceu a milhares de outras espécies ao longo do imenso dia da vida na terra. De alguns deles nem sequer sobraram fósseis, o que os coloca em pé de igualdade com os dragões que nunca existiram.

Nesse longo dia a importância do glifosato é tanta como a das microfibras que são libertadas quando a nossa roupa vai para a máquina de lavar e que dentro em breve será a heresia da moda. Sem roupa lavada o mundo será um lugar pior para viver e sem glifosato (na UE) teremos de comprar batatas aos mercados emergentes onde a sua utilização é permitida.



publicado por Paulo Sousa às 23:00
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Quinta-feira, 21 de Março de 2019
#ClimateStrike

Como se terão deslocado o milhão e meio de manifestantes nos mais de 110 países que aderiram ao #ClimateStrike para os locais onde desfilaram? Terão utilizado automóveis, autocarros, metro ou qualquer outro meio de transporte que directa ou indirectamente gasta combustíveis fosseis? E onde adquiriram os cartazes que personalizaram? Em que parte do mundo foram fabricadas as telas onde foram manuscritas as palavras de ordem com marcadores coloridos que certamente atravessaram metade do globo até lhes terem chegado às mãos?
Quando nos anos 70 e 80 do século passado se começou a falar mais regularmente no Aquecimento Global (AG) foram apresentadas previsões segundo as quais, com o desgelo das calotes polares, todas as cidades costeiras já estariam actualmente inundadas. Felizmente isso não se confirmou. Os repetidos erros de previsão não chegam a gerar alívio por que nos esquecemos o seu sentido literal e retemos apenas o sentido catastrófico do fim do mundo. Por isso acabamos por não pedir responsabilidades a quem os apresenta. A mensagem é clara, se não travarmos as emissões de CO2 um dia vamos todos morrer. Mesmo sem ser cientista do AG atrevo-me a acrescentar que isso acontecerá em qualquer cenário.
Ainda falta provar que o AG seria interrompido se fossem desligados todos os motores de combustão. Mas se ainda assim insistirem em testar essa teoria não comprovada podem começar por banir o trânsito automóvel, o comércio internacional marítimo e a aviação. Além disso terão de banir acontecimentos como os incêndios florestais e erupções vulcânicas, uma vez que juntos conseguem em poucos dias colocar mais CO2 na atmosfera do que muitos países juntos durante um ano inteiro. Ovelhas, vacas e outros ruminantes terão de ser impedidos de libertar os gases intestinais o que por exemplo na Nova Zelândia tem mais impacto no ciclo do carbono do que toda a actividade humana. Pela nossa salvação todos estes elementos têm de ser eliminados.
Avançando com estas medidas bastará esperar duas ou três décadas. Depois disso, o que restar da civilização, poderá avaliar então se conseguimos travar o permanente e nunca estático ciclo climatérico da terra.
É sabido que há cerca de 20.000 anos a terra estava em pleno período glaciar e que só quando terminou se reuniram as condições para que a civilização humana como a conhecemos tivesse florescido. Sem o AG de então não estávamos aqui a agarrados à internet.
O ciclo climatérico da terra nunca foi estático e os profetas garantem-nos que agora está a acelerar. Até nos garantem que isso se deve à acção humana. Pela dimensão dos fenómenos climatéricos não há forma de, recorrendo ao método científico, o provar. Mas quem é que aceita regressar à Idade Média para travar um fenómeno que, mesmo que tenha sido acelerado pela acção humana, ultrapassa largamente a nossa capacidade de interacção com o ambiente?
Não dou para o peditório dos clérigos da religião do AG, que a todos querem exigir o arrependimento pelo CO2 emitido. Dizem que ainda vamos a tempo de nos arrependermos, e confessando os pecados, talvez consigamos travar a mudança.
Profetas do apocalipse existiram em todos os tempos e em todas as latitudes e sempre tentaram mudar o comportamento dos outros. Como o contexto vai mudando é necessário que a mensagem seja adaptada à época. O processo passa sempre por sacudir no ar o medo do fim do mundo, e como isso mexe com os nosso instinto de sobrevivência é difícil ficar indiferente.
Apesar de desvalorizar estes catastrofistas acho que se deve limitar a poluição. Não se deve ir além do mínimo necessário para atingir algum conforto. Mas só por radicalismo lunático se pode defender o zero absoluto de poluição, uma vez que o seu ponto óptimo não é nulo.
O mais ajuizado plano de acção deve passar por nos continuarmos a adaptar às mudanças. Darwin ensinou-nos que quem não o fizer será extinto.
Pode acontecer que dentro de várias décadas alguns territórios que agora tem um clima ameno se venham a tornar inóspitos e o contrário também. Isso será uma grande mudança com grande impacto. Mas a espécie humana saberá deslocar-se à procura das melhores condições.
Podemos analisar as manifs do #ClimateStrike observando-as com um funil. Pelo orifício mais apertado veremos pessoas preocupadas com o AG, mas virando o funil ao contrário encontramos apenas inconformidade perante a mudança.

“Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.“

Luís de Camões



publicado por Paulo Sousa às 17:00
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Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2018
O dia da metadona

A entrada do estado na esfera privada é uma tendência ainda em crescimento mas um dia terá de ser travada.

A invasão começou ainda sem esse propósito e era então justificada pela vontade de limitar as assimetrías sociais que existiam em proporções diferentes de país para país. O aumento dos impostos foi vestido com um fatinho domingueiro de forma a acrescentar ao estado a responsabilidade de tratar dos pobres e desvalidos. Quem é que de boa consciência humanista poderia questionar tal propósito? Até um certo ponto tudo funcionou dentro do benevolente espiríto inicial, mas ano após ano as garantias dadas a todos e a cada um foram sendo alargadas, pois era preciso alimentar a satisfação pública à frequência das eleições. Pouco a pouco chegou-se a pontos em que os encargos (e regulamentos) a quem cria riqueza, e por isso alimenta financeiramente o sistema, eram tais que deixou de compensar correr riscos e passou a ser mais racional mudar da coluna dos que contribuem para a dos que recebem. Alguns passaram a ser exclusivamente contribuintes e outros exclusivamente benificiários. Ao longo dos anos esta última tem aumentado significativamente. No nosso país os benificários de transferências directas do estado ultrapassa os 60% da população.

À minha volta isso demorou a ser notório, ou então fui eu que demorei a reparar. Sabiamos que no interior do país, num mundo social e economicamente deprimido, era o estado que ia mantendo a permanência de pessoas. Sabiamos que no interior havia menos empresas e negócios e por isso o peso do estado era superior ao das zonas mais dinamicas. Câmaras e Juntas eram ali os principais empregadores. À volta do Juncal, aqui perto da costa, graças às cerâmicas e às fábricas de moldes era tudo diferente.

Ano após ano a relação de dependência ao estado foi-se aprofundando. Os políticos para sobreviver precisam de se mostrar agradáveis e os cidadãos reagem positivamente a estímulos positivos. Esta simbiose manteve-se mesmo quando o ponto de equílibrio foi ultrapassado, e no caso português já foi ultrapassado tantas quantas vezes falimos nos últimos 40 anos.

Tudo isto já era para mim um facto, mas no passado dia 10 voltei a aperceber-me da dimensão da coisa. E é nesse dia que são pagas as pensões e é também nesse dia que nas pequenas povoações a economia local acelera com a nova injeção de liquidês. No dia 10 os balcões bancários estão apinhados de gente desde a abertura até ao final do expediente. O quadro de pessoal não pode tolerar folgas nesse dia e mesmo assim as filas chegam permanentemente à porta. Neste dia, por mim batizado pelo dia da metadona, não se pode ir ao banco por outros motivos que não seja ir levantar a reforma. Parecem os drogados a tremer e transpirar na fila à espera da dita substância.

Esta pincelada de realidade mostra como será difícil interromper este ciclo que alterna as falências do estado com os períodos de austeridade. Numa democracia onde a maioria decide, 60% dos eleitores escolherá sempre o benefício imediato em vez de um futuro diferente para as gerações futuras e isso impede as mudanças. De que forma se poderá interromper esta trajectória? Será mesmo este o nosso fado?



publicado por Paulo Sousa às 12:00
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Domingo, 13 de Maio de 2018
Senhor Marquês

Senhor Marquês

11 Maio, 2018

Ah, foi o homem certo no momento certo.
Ah, era o único primeiro-ministro com uma ideia, um plano, um projeto para o país.
Ah, se não fosse ele, não teríamos crescido economicamente.

Ah… Ah… Ah? Ah?? Corrupção? Branqueamento de capitais? Milhões na Suíça? Dinheiro em troca de benefícios a empresas? Passava o dinheiro pela conta de amigos até chegar a si, já bem lavado?

A sério? Diz que sim, que é sério. Bem sério.

O despacho final de acusação da Operação Marquês tem mais de 4 mil páginas. O Ministério Público vasculhou 500 contas bancárias, passou a pente fino milhares de documentos, em Portugal e no estrangeiro, inquiriu 200 testemunhas e mandou gravar não sei quantas horas de escutas telefónicas.

“Senhor Marquês… e o nosso fim do mês?” Sempre que ouço Operação Marquês é disto que me lembro: da música de Sérgio Godinho. “Passe pra cá a carteira/ Da sua algibeira/ Carteira em couro/ Relógio de ouro/ Não lhe faz falta/ E faz-nos jeito à malta”.

Senhor Marquês é apropriado. Sócrates tem um ar nobre, mais nobre do que qualquer político socialista. Fatos impecáveis, postura cuidada, elegante, bem falante.

Bem diferente dos anteriores: diferente de Guterres – bom orador, mas fraca figura (e nem falo do bigode mexicano) –, diferente de Sampaio – retórica incompreensível, pálido e frágil –, Constâncio – à época, nem bem falante. No Palácio de Cristal no Porto ia tendo um treco antes de subir ao palco e enfrentar a multidão.

Já para não falar nos compagnons de route. Sócrates encarnava tudo naquele 2005. O sorriso, os olhos claros, os fatos caros, o verbo fácil.

Era incisivo, feérico, feroz. Combativo e bem parecido. O pacote era perfeito.

Tanto que a maioria absoluta lhe caiu no colo. Ser bem parecido e ter os “ais” das senhoras ajuda imenso a ganhar eleições.

Lembro-me que em 2005, Sócrates teve de passar a beijar criancinhas e velhinhas nas arruadas. O aceno de longe não chegava. Precisava de ser tão simpático como o senhor do cartaz que tinha olhos azuis brilhantes e um sorriso afável. E foi. Em Reguengos de Monsaraz, na última semana de campanha – já tinham saído as primeiras notícias do Freeport no Independente –, teria pegado em anões ao colo, se tivesse encontrado um pelo caminho. Mas de propósito.

Na primeira maioria absoluta, no hotel Altis, a frase lapidar de Sócrates no discurso de vitória ficou-me cravada na memória. É uma frase simples, mas que encerra tudo. “Camaradas, conseguimos!”. Não consigo encontrar o meu texto nessa noite, mas o título era este: porque nele tudo está dito.

“Camaradas, conseguimos tirar o PSD do poder”. “Camaradas, finalmente uma maioria absoluta”. “Camaradas… chegamos ao cofre”. Foi a última que eu realmente ouvi quando Sócrates de sorriso de orelha a orelha e mãos levantadas, encadeava a plateia de socialistas, todos eles sequiosos de mudar de vida, à espera da oportunidade que Durão Barroso lhes lhe tinha tirado em 2001.

“Camaradas, conseguimos!!!!” E Sócrates conseguiu. Praticamente sozinho. Ele e a máquina que o acompanhava sempre a funcionar como um relógio: rodeou-se dos melhores. E dali seguiu caminho, a rasgar.

Os “soluços” eram os casos que iam surgindo. Alguém já se esqueceu que Sócrates sobreviveu à suspeição há mais de uma década? Com a surpresa da detenção, muitos se esqueceram dessas denúncias feitas por jornalistas atentos, dedicados, profissionais e por direções de jornais que não temeram o bullyingjurídico que foram sofrendo durante anos.

Cova da Beira, licenciatura, Freeport, o caso PT/TVI, as tais famosas campanhas negras que Sócrates acusava de serem protagonizadas pela estação de Queluz de Baixo e pelo Público.

“Ah, mas fez obra e impulsionou o país para a “frente” e investiu” e… levou o país aos braços do FMI.

Não vamos discutir política económica ou Formação Brutal de Capital Fixo (vulgo investimento) ou sequer opções do plano. Aliás, não vamos discutir nada porque não estou para isso.

Mas a sério que tem esse passado todo? A sério? É pá, não sabia.

Ceguinhos! Ou parvos, ou mentirosos, ou crédulos, ou imbecis, ou farinha do mesmo saco.

O que eu penso sobre o senhor, o que eu já pensava sobre o senhor, o que eu sempre pensei sobre o senhor, não é revelante para o caso. Mas a verdade é que tive acesso à “peça” mais de perto. E isso é um bom medidor de caráter: o frente-a-frente.

E mesmo que Sócrates seja mitómano, como claramente parece, e acredite nas suas próprias mentiras, é impossível conviver de perto, de muito perto, e não perceber o que ali se passava. A não ser que a sedução nos deixe cegos. Como deixou muitos jornalistas. Muitos, eles e elas, apaixonaram-se pelo magnetismo do animal feroz. Nada contra. Mas um jornalista tem que se imune à paixão. Imagino que não seja fácil – nunca me apaixonei por um político ou um entrevistado –, mas de um jornalista espera-se um bocadinho mais.

Quem acreditou que Sócrates tinha fortuna de família suficiente para aquele tipo de vida? Quem acreditou que era acaso o grupo Lena vencer constantemente concursos públicos, quer fosse para casas pré-fabricadas na Venezuela, quer fosse para a Parque Escolar? Essa conversa já se tinha nos corredores há muitos anos, antes de qualquer processo. Não me lixem: poucos foram os ingénuos que se deixaram magnetizar pelo brilho do grande chefe. Poucos.

Sócrates é um homem com carisma. Facilmente impressiona, facilmente seduz. Impressionou jornalistas, políticos. Impressionou-se com banqueiros, gestores e empresários. Serviu-se de uns. Dele serviram-se uns quantos.

Ambicioso, rapidamente viu a sua oportunidade no Partido Socialista. Em apenas dois anos, venceu no PS e venceu o PS – com uma bancada parlamentar renitente a apoiá-lo. Com dois anos de treino televisivo, rapidamente conseguiu virar os debates quinzenais. O Governo de Santana e o poder de Sampaio facilitaram tudo. Em muito pouco tempo, era primeiro-ministro.

O tirocínio tinha sido curto. Foi deputado, ministro e secretário de Estado do Ambiente. Já na pasta, deixou rasto. Aliás, desde muito cedo que, por isto ou por aquilo, Sócrates deixava rasto. Mas pareciam migalhas: os pardais comiam os restos rapidamente. E rapidamente todos esqueciam.

Para isso muito ajudou a comunicação social que agora rasga as vestes. Quem não se recorda de entrevistas fofinhas de páginas e páginas, de peças sobre o seu mau feitio – com um tom carinhoso, era o zangão dos anões da Branca de Neve, lembram-se? –, de telefonemas ao Zapatero, de longas conversas amenas sobre o crescimento da economia.

Também se lembram das derrapagens orçamentais, do défice a dois dígitos, do aumento salarial aos funcionários públicos, a poucos meses das eleições de 2009 – e a pouco tempo do resgate financeiro.

E também se aperceberam, presumo, dos amigos que teve na justiça: Pinto Monteiro e Noronha de Nascimento seguravam muitas pontas. Cândida da Almeida conduzia tudo com zelo.

Sócrates dominava a comunicação social – quanto mais não fosse pelos constantes telefonemas do gabinete, do próprio, da insistência, da teia que se urdia com a facilidade, da sedução, da agilidade com quem transformava tudo, como encobria e descobria e brincava com as marionetas que se deixam manietar –, mas não como gostaria: queria mais e em curso estava um plano maquiavélico de xadrez, onde o estratega movia os seus peões, soldados e generais prussianos, daqueles que não se amotinam, como prometia Afonso Camões, na altura diretor da Lusa e que passaria para diretor do Jornal de Notícias: tudo no âmbito desse golpe palaciano que o antigo PM queria fazer aos media em Portugal. A todos, numa megalomania típica de Sócrates.

Começava na Global (à época, a Controlinveste) – com Sócrates a determinar diretores para o JN e DN e com Proença de Carvalho no conselho de administração. Passava ainda pelo controlo da TSF (que faz parte do grupo), da TVI também, em join venture com a PT. A RTP já estava. E já agora que o Público fosse “dominável”. Essa seria a tarefa mais espinhosa: o jornal que Belmiro sustentava, e fazia questão que se mantivesse independente, não era “comprável”.

Aliás, foi dali (e da Focus), daquela redação que saíram os primeiros indícios do que Sócrates era, é e sempre foi o mesmo que o Ministério Público agora acusa. José António Cerejo foi processado – assim como o Público e a sua direção – de todas as vezes que descobriu um “podre” na vida de Sócrates. E de todas as vezes ganhou.

Essa perseguição que S. Bento fazia à liberdade de imprensa nunca deixou ninguém revoltado. Nem sequer os jornalistas. Poucos se indignaram. Só os que também faziam investigação sobre as diferentes patranhas de Sócrates.

Os outros estavam maravilhados com os Magalhães, o Chávez, as viagens a todo o lado e mais algum, com o Sócrates a falar espanhol com o Zapatero, com o Sócrates a falar com a Merkel, que o tratava de forma tão afável.

Afinal, quando é que o país teve um primeiro-ministro com ar distinto, como este? Com fatos feitos à medida… com frases lapidares, com resposta pronta para tudo? Quando é que o país teve um primeiro-ministro que não mostrava um pingo de receio, que nunca recuava, que atirava a matar?

Era o cartão de visita de um país em franca recuperação. De um país que tinha deixado de pensar em coisas comezinhas como o défice.

Alguma vez tinha havido um primeiro-ministro tão magnetizante? Não posso falar de Sá Carneiro, não sou desse tempo. Posso até apostar que Sá Carneiro mostrava coragem e virtude. Mas nenhum alguma vez se portou com a altivez de Sócrates. Com a distinção quase “real e nobre” de Sócrates.

“Venha por aqui ver isto/ Senhor Ministro/ Que estes bandidos/ Uns mal nascidos/ Ainda sem dentes/ E já delinquentes”.

Os que durante anos desconfiaram da personagem eram uns ingratos. Ingratos! Porque Sócrates fazia muito pelo país. Infames porque só o queriam atingir com uma reles e “travestida” (lembram-se?) campanha negra. Desprezíveis porque queriam um país pequenino e pobrezinho e não o Portugal do futuro, cheio de luzes e brilhos. Em que banqueiros e gestores de topo eram o milagre nacional. Os que tudo conseguiam. Os empresários mais “isto” da Europa e os mais “aquilo” do mundo. Os “Zeinais”, os “Mexias”, os “Granadeiros” desta vida.

Sócrates tinha aquele ar de quem era incapaz de falhar. Incapaz de errar. Incapaz de cair.

Mas só se ofuscou com brilhos e luzes quem quis. Porque tudo o resto, já estava pelas notícias e pelas reportagens. Até em televisão, no canal com mais audiência. Não há desculpa.

Mas o “senhor Marquês” gozou do facto de muitos jornalistas já não lerem jornais. E de se impressionarem mais em almoços e jantares faustosos em países distantes do que com a verdade seriamente investigada por quem se decidiu a procurar os factos, em vez de se alimentar da forma.

— Judite França

 

In Blasfémias



publicado por Paulo Sousa às 22:00
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Domingo, 29 de Abril de 2018
Sobre o Seminário Monfortino

Ontem foi um dia especial. Regressei ao Seminário Monfortino, de onde tinha saído há mais de 35 anos.
Reencontrei caras conhecidas e outras desconhecidas.
Foi bom encontrar os conhecidos de há muitos anos, mas terá sido ainda melhor 'reencontrar' aqueles que nem sequer conhecia.
Uma coisa é encontrar algumas das caras dos que com quem partilhamos um período importante da nossa vida, outra coisa, e não menos intenso, é encontrar caras desconhecidas dos que com quem nos sentimos irmanados apenas por sabermos que vivemos na mesma comunidade.
O Padre Vieira chamou a isso a espiritualidade monfortina, eu aceito o termo mas prefiro interpreta-lo pela vertente da partilha de uma identidade.
Lembrando o período em que fui seminarista monfortino, não tenho qualquer dúvida reconhecer a sorte que tive em ter pertencido a esta comunidade.
Fui atraído pelo facto de o meu irmão ter sido seminarista monfortino antes de mim, o que me levava ao seminário nas festas de natal e de fim de ano. Os eventos que eram apresentados aos familiares sempre me encheram as medidas.
Lembro-me de, do alto dos meus dez anos, querer pertencer a uma coisa assim. Pode-se dizer que foi quase como ter ido para a tropa com essa idade. Nessa altura da vida estar longe dos pais, ter de digerir rotinas rígidas, conhecer e conquistar um espaço entre desconhecidos, levar com sotaques de todo o país ao ponto de incorporar alguns como seus e até chegar ao ponto da tal partilha de um sentimento de pertença com mais de cem estudantes e mais de uma dezena de responsáveis e viver isso durante cinco anos… não se pode negar que tenhamos sido marcados por isso.
Não duvido que uma parte daquilo que sou, e somos, resulta da nossa passagem pelo Seminário Monfortino de Fátima.
Todos temos histórias na primeira pessoa dos saudosos Irmão Ricardo, Padre Leonardo, Padre Marcos, Padre João, Padre Sousa, Padre Luis Martinho e Padre Rogério. E também da Dona Maria da cozinha, do Tó Segura, das aulas de flauta, dos trabalhos exteriores, da biblioteca, da distribuição de roupa, de passar o chão a pano, dos ensaios de canto na Capela, das idas pontuais à enfermaria, do Padre Sousa ir 'dar à manivela' quando faltava a luz, do carocha do Irmão Ricardo, de lavar a loiça na copa ao fim de semana, de chamar toda a gente pelo sino (fui sineiro um ano ou mais), dos ensaios de teatro antes do Natal, de escorregar de joelhos no claustro em frente à capela, das competições de matraquilhos, sueca e quatro em linha e de arrancar o verniz velho das salas de aula com os esfregões debaixo do pé antes das férias grandes. Lembro-me também de ter ouvido pela primeira vez Dire Straits num leitor de cassetes na sala de jogos na Academia, da segunda-feira desportiva, que não era mais que o Domingo Desportivo diferido em VHS.
Lembro-me também de um companheiro ter assumido a autoria de barulhos nocturnos para poupar um outro colega. Não me lembro bem do detalhe, mas recordo que o efectivo prevaricador tinha já acumulado várias faltas e alguém (eu sei quem foi), sob pressão, entendeu que devia sacrificar-se pelo companheiro… podemos andar por lá anos mas há lições dadas pelo exemplo que aprendemos em segundos.
Já assumi a sorte de ter pertencido a esta comunidade, mas reforço ainda o facto de que, sem que disso tivéssemos consciência, termos vivido e crescido num espaço embrionário do que viria a ser o espaço europeu. Os meus colegas da primária ainda andavam na telescola e nós já ouvíamos pérolas do calibre do popular 'godverdomme' do vernáculo holandês.
Fomos uns sortudos. Há uma certa ideia de civilização que, mais ou menos próxima da mensagem religiosa, talvez conservadora nos costumes e liberal na acção de que todos partilhamos. Corrijam-me se discordam.
Um abraço a todos a até ao próximo encontro.



publicado por Paulo Sousa às 14:00
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Sexta-feira, 13 de Abril de 2018
Eu, na Prova Oral

Hoje participei no programa Prova Oral do Alvim. A convidada era uma socióloga defensora das causas LGBT e estava radiante por Portugal ser o quinto (!!) país do mundo a permitir que um(a) jovem com 16 já possa mudar de sexo sem ter de ouvir a opinião de um médico.

O programa permite enviar uma mensagem por WhatsApp e foi isso que fiz. Parei na berma e fiz pisca, ouve-se na gravação. Entrei no ar aos 17m30 do programa. A convidada respondeu à minha participação com ironia. No seu comentário à intervenção seguinte acabou por desabafar "finalmente uma pergunta muito bem formulada e inteligente", por contraposição às anteriores onde a minha se incluía.

Já há bastante tempo notei que o lobby gay tem dificuldade em lidar com o contraditório. Quem discorda, ou apenas tem dúvidas, é atrasado e retrógrado. Neste caso específico a falta de inteligência poderá ser uma explicação. Noutros tempos chamei a este modus operandi o argumento Ctrl + Alt + Del, que para quem não sabe é o comando com que noutros tempos se resolviam os impasses dos PC's. Quando não se tem argumentos desclassifica-se a outra parte e dá-se o assunto por terminado.

Toda a dinâmica é apresentada como sendo o que há de mais moderno, e que por isso é inquestionável. Quem levantar questões, não alinhar em tanta certeza absoluta e que coloque questões ouve frases como a da convidada algures durante o programa: "estamos em 2018, se calhar já mudávamos um bocadinho estas cabeças". No fundo dizem ao que vêm, querem mudar as convicções dos outros, o que não deixa de ser uma prática antiga já com a idade da história da humanidade.

Durante o programa a socióloga convidada ainda teve tempo para falar do ataque em curso à democracia brasileira. Se o programa tivesse mais dois minutos aposto de que ainda falaria do aquecimento global e do Grupo Bilderberg.



publicado por Paulo Sousa às 23:25
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Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2017
Sobre os livros

Antes de serem lidos, todos os livros encerram um potencial de nos poder vir a agitar o espírito, de nos ensinar, ou até assustar. Fazem-nos sonhar, sorrir, gargalhar e até chorar. Depois de lidos, muitos deles ficam connosco para sempre. Um punhado mais restrito altera a maneira como pensamos e por isso mudam também aquilo que somos. Tal como acontece com algumas das pessoas com quem nos cruzamos na vida, alguns livros são verdadeiros pontos de viragem. São como o fim ou princípio de capítulos que dividem a nossa existência em partes distintas, como se tudo se resumisse a um antes e depois de cada um deles. 

Lembro-me de haver sempre  livros à minha volta. Quando era pequeno eles eram muito poucos e por isso muito mais preciosos. A escassez fazia-os gozar de uma procura que levava a que fossem partilhados repetidamente.

Ainda antes de eu saber ler, o meu irmão e o meu primo já tinham lido todos os livros que existiam nas duas casas. Sempre que o magro espólio era aumentado nenhum dos dois aceitava esperar pelo outro e acabavam a ler em simultâneo. O mais rápido esperava uns segundos pelo outro para só então se virar a página. Lembro-me de os ver assim, sentados no último degrau da escada, lado a lado, ora a interiorizar a mensagem ora a ver qual dos dois lia mais rápido. Tal como na natureza, após a escassez vem a sofreguidão. Para saborear não se pode ter fome e eles, que já salivavam antes de abrir a primeira página, liam tudo sem mastigar e sem se preocupar com a digestão.

Eu via aquilo e queria também poder aceder àquele mundo que só existia quando as páginas se abriam. Esse mundo era frequentado por diversas pessoas da família de diferentes gerações. A muito partilhada lista de títulos fazia dos nossos livros um ponto de passagem que mais tarde ou mais cedo todos palmilhavam. Tornava-se por isso também num ponto de encontro.

Quando finalmente aprendi a ler, a lista do títulos disponíveis nas nossas casas já era um pouco mais generosa e foi crescendo sempre sem nunca mais parar. Nunca tive de ler à desgarrada e nunca soube de mais ninguém que o tivesse feito.

Olhando para as gerações mais recentes, nenhum membro da nossa família alargada partilha o gosto por ler com semelhante intensidade. Todos consomem a maior parte dos tempos livres à frente de ecrãs.

Será que estamos a caminho de um mundo onde, como antes de Gutemberg, os livros voltarão ser lidos apenas por uma minoria?

Da mesma forma que a fotografia não matou a pintura, nem a televisão matou o cinema, também não serão os suportes electrónicos que matarão o livro. Mas mais do que perguntar se os novos suportes são complementares ou alternativos ao livro impresso, a dúvida que me coloco reside na capacidade e na disponibilidade intelectual de quem cresce como espectador passivo em frente de ecrãs. Que capacidade de interpretar, ou até de fantasiar, sobre o que do passado chegou até aos nossos dias terá quem não conhece o cheiro dos livros?

 


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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2016
Totalmente atual

 

 



publicado por Paulo Sousa às 00:07
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Sexta-feira, 26 de Agosto de 2016
Sobre os burkinis

 

Na Pérsia do Xá Reza Pahlevi que governou o atual Irão até à revolução islâmica, o uso do véu islâmico era interdito.

Tal restrição impediu que durante doze anos, milhares de senhoras saíssem de casa. A educação e a sua vivência não lhes permitia sair de casa. O motivo da clausura não era apenas a proibição, era também uma questão social. Quem cresceu numa terra pequena como eu terá uma percepção mais espessa do que pode significar impedir o uso de uma peça de roupa de resguardo a uma senhora.

Parte do apoio popular que o Aiatola Komeni teve no inicio da sua revolução resultou também do alivio que os sectores mais tradicionais sentiram relativamente à ocidentalização forçada levada a cabo pelo regime do Xá.

Podemos também aqui lembrar a história do fez turco. Ataturk, o pai dos turcos e da Turquia laica que andará nos dias de hoje às voltas na tumba, disse aos turcos tradicionalistas que com ele no poder teriam de escolher entre manter o fez ou a cabeça. Após algumas decapitações o fez caiu em desuso.

O debate sobre estas questões de indumentária acabam sempre na liberdade individual. Os municípios franceses proibicionistas do nada estético burquini insistem em ignorar a história e em serem simetricamente idiotas aos clérigos islâmicos ideólogos dos tecidos que escondem a face das senhoras.



publicado por Paulo Sousa às 23:17
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Domingo, 10 de Julho de 2016
Sobre a final no Estádio de France

Nem todos se lembrarão mas o Estádio de France em St Denis foi construído para o Mundial de 1998 onde a França disputou a final e celebrou a titulo mundial.

Lembro-me de ouvir uma entrevista a emigrante português que trabalhou na construção desse mesmo estádio. Disse que todos os dias em ia trabalhar sonhava em ver ali a nossa equipa a jogar... e a ganhar.

Lembro-me também de não termos participado nesse mundial. Nesse tempo era habitual não nos apurarmos para as fases finais do troféus importantes. Mas a nossa equipa era na altura constituída pela chamada geração de ouro, que tinha sido duas vezes campeã mundial de juniores. Havia muita esperança no apuramento.

Lembro-me de no jogo decisivo do apuramento, contra a Alemanha, termos ficado sem o Rui Costa por cartão vermelho direto mostrado quando já estava a ser substituído. O árbito, Marc Batta, francês, achou que estava a demorar muito tempo a sair de campo. Ficamos fora do mundial e essa expulsão, completamente injusta, foi o momento que me ficou na memória. O Estádio de France ficou dessa vez inacessível para a nossa seleção.

Nos últimos jogos lembrei-me várias vezes deste emigrante, que para mim representa milhões de outros e que hoje, tantos anos depois e que talvez já cá não esteja, viu finalmente o seu sonho realizado.



publicado por Paulo Sousa às 23:50
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Sábado, 25 de Junho de 2016
Sobre o Brexit

Desde que me lembro que os analistas políticos evitam que as suas análises sejam ouvidas pouco tempo depois de terem sido proferidas. Muito poucas se concretizam e a maior parte não passam de ´wishfull thinkings´ facciosos não assumidos. Não deixam de ser legítimos opinadores mas também não deixam de ser ridículos e pretensiosos 'fazedores de opinião'.
Essa ideia ajudou-me a lidar hoje com tanto fatalismo apocalíptico perante o Brexit.
A vitória do 'Leave' traduz o divórcio generalizado entre os cidadãos europeus com as instituições europeias. Muito poucos saberão explicar para que serve a comissão, o eurogrupo, o parlamento ou o conselho europeu. Nem querem saber.
Mas à excepção dos radicais que existem nas margens da sociedade e que desejam a ruptura e a implosão do sistema (alguns deles sustentam a geringonça), a maioria dos cidadãos europeus identifica-se profundamente com os valores europeus, a democracia, a liberdade de expressão, os direitos das mulheres, a livre circulação de pessoas, bens e serviços.
Foram os mais novos que no Reino Unido votaram maioritariamente pela manutenção na UE e isso é também um sinal de esperança. Acredito que em termos etários uma divisão idêntica de opiniões se repita na esmagadora maioria dos estados-membros.
Já não vou para novo mas felizmente já não me lembro da Europa do equilíbrio de forças, onde se vê quem é o mais poderoso depois de contar quem tem mais tanques, aviões ou fragatas. Não é nessa Europa que eu quero viver.
Hoje festejam os grunhos do UKIP, da Frente Nacional, outros partidos xenófobos pela Europa e continua a aguardar-se uma posição oficial do PCP e do BE. Também o sr Putin e Trump estão a sorrir. Só isso é motivo para estarmos preocupados e alerta, mas o mais fantástico projecto civilizacional da humanidade não pode ruir depois de um referendo com uma vitória tão marginal.


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Quinta-feira, 16 de Julho de 2015
Sobre a mentira de que a Europa se está a desmoronar e sobre futura saída da Grécia do euro

A Europa não se está a desmoronar pois nenhum europeu de Lisboa a Helsínquia nem de Atenas a Dublin aceita o regresso ao equilíbrio de forças. Todos nos revemos nos valores europeus da democracia e da liberdade, mas poucos se revêem nas instituições europeias. São necessárias reformas sim, mas os credores da Grécia são os contribuintes europeus e os accionistas e depositantes dos bancos que compraram dívida grega. Se os bancos tivessem caído ficaríamos melhor? Quantos BES teriam de cair para que o Syriza fosse o herói da festa? Quantos milhões teria de Portugal perder para que o senhor Varoufakis merecesse uma estátua? Alguns países europeus perderam mais dinheiro no anterior perdão de dívida à Grécia do que gastam com as reformas dos seus idosos ou com os apoios sociais aos seus cidadãos. Onde é que termina a exigência de solidariedade da esquerda grega?

Ver o mundo a preto e branco em que de um lado estão os bons e dignos e do outro lado os pérfidos e fundamentalistas é intelectualmente cómodo mas demasiado simples para o que se está a passar.

A Europa sempre avançou no passado de crise em crise.

Da esquerda à direita são os radicais que desejam o regresso à Europa do equilíbrio de forças, onde se conta quem tem mais tanques, aviões ou fragatas. Os radicais unem-se quando as crises aparecem. De que outra forma se entende a coligação Syriza partido da esquerda radical com os nacionalistas de direita do governo grego? Ou a alegria da Mme LePen na vitória do Não no referendo grego. São eles que produzem os soundbytes repetidos pela imprensa e que alertam os cidadãos europeus.

É verdade que um dos pilares da construção europeia é a igualdade entre os seus membros independentemente da sua dimensão. Não acompanho o dia-a-dia nem sou entendido nos detalhes da política europeia mas apesar do direito de veto se manter, essa igualdade não se verificará dentro da União e ainda menos dentro do Eurogrupo. A distribuição nacional dos deputados europeus ajuda a que assim seja, mas existem também os directórios. O eixo franco-alemão sempre liderou o projecto e sem assim não fosse não teríamos vivído 70 anos em paz.

Discordo em absoluto com qualquer paralelismo entre a actual hegemonia alemã (que até parece que saiu derrotada na aceitação do plano grego) com o nazismo. Fazê-lo é mostrar que se desconhece a história.

 

Não ter sido prevista a possibilidade de saída do euro, aquando da sua criação, terá sido um erro, mas todos os países que embarcaram neste ambicioso projecto sabiam que estavam a perder soberania, pois deixavam de poder delinear a sua política monetária e cambial. Nem todos o quiseram fazer. O Reino Unido e a Dinamarca ficaram de fora e não são menos europeus por isso.

Ter o euro como moeda própria tem os seus custos e exigências.

Na semana que antecedeu o referendo estive dois dias em Atenas e um taxista disse-me que ter o euro como moeda era como ter uma amante fantástica mas financeiramente muito exigente. Ele achava de a relação devia terminar e preferia a Grécia fora do euro do que manter uma relação insustentável.

Também acho que o governo grego mesmo tendo aprovado o acordo negociado em Bruxelas, não conseguirá nem desejará cumpri-lo. Dentro de meses, muito poucos ou mais alguns, lá terá de se voltar ao assunto.

Se a Grécia saísse do euro já, de uma forma assistida, passaria alguns anos difíceis, como aliás passará em qualquer cenário, e depois da desvalorizar a sua moeda até à proporção da sua economia voltaria a ser competitiva e a crescer para voltar à normalidade. O adiar deste passo mostra a falta de estratégia dos líderes europeus que estão apenas a navegar à vista.

Para já não vou falar da relação dos cidadãos com o estado, que é diferente em cada país da UE e do mundo, e que está por detrás da incapacidade da Grécia em fazer reformas e cobrar impostos.

Nós também padecemos do mesmo problema embora a uma escala diferente. Mas isso fica para outro dia.


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Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2015
Auto de fé contra os valores ocidentais

Esta semana em Paris dois grunhos entraram na redacção de um jornal e assassinaram 10 jornalistas e 2 policias. Estavam combinados com um terceiro grunho que invadiu um supermercado e fez reféns os seus clientes, tendo vindo a assassinar quatro deles. Mais uma vez o radicalismo islâmico tenta espalhar o terror no mundo ocidental.

Importa dizer que o Charlie Hebdo era um jornal dirigido a um reduzido nicho de mercado e o ateísmo era um seus pilares. Não fosse terem sido alvo há uns anos de um ataque com uma bomba incendiária, seriam uns desconhecidos à escala global. Para a maioria do público francês era apenas um jornal desprezível e provocador. O seus editores, herdeiros do espírito de Maio de 68, desprezavam a sociedade mas ainda assim mereciam protecção especial da república, o que não deixa de ser caricato.

A questão que se coloca é se este tipo de publicação, ou outra, deve ser sujeita a limitações para prevenir problemas futuros, seja lá que isso for. Por isso o debate que levanta é sobre a essência da liberdade de expressão.

Exibindo cartazes dizendo 'Je suis Charlie' o mundo mostrou-se solidário nas redes sociais e nas manifestações que reuniram vários milhões de pessoas um pouco por todo o mundo ocidental. Mais que solidariedade a mensagem foi de defesa da liberdade e dos nossos valores.

Vestindo a camisola de pós-modernos super-moderados surgiram algumas vozes que, condenando o terrorismo, lembraram que os conteúdos do Charlie eram abusivos e por isso eles andavam a pôr-se a jeito. Construíram-se muitas frases à volta desta ideia mas o 'andavam a pôr-se a jeito' está lá sempre. E isto não é mais que reduzir o quão hediondo é o radicalismo religioso, seja ele cristão na Idade Média ou muçulmano no sec XXI.

Limitar os conteúdos dos media ao bom gosto é algo que sempre existiu e existe nas ditaduras. E quem é que é o juiz do bom gosto? Quem é que pode usar a caneta azul? Cada um de nós tem critérios diferentes e se para uns faria sentido banir por exemplo a pornografia, para outros todas as publicações religiosas teriam de deixar de existir.

O pensamento do mundo ocidental formou-se ao longo de séculos. Foi a Revolução Francesa que iniciou a queda do Antigo Regime e um dos pensadores dessa época, Voltaire, disse: “Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”. Revejo-me nesta abordagem e por isso discordo abertamente com qualquer 'andavam a pôr-se a jeito' na análise do que aconteceu. Acrescento dizendo que depois disto passei a adorar o detestável Charlie Hebdo.

Emmanuel Kant foi outro filosofo que contribuiu para o pensamento ocidental. Distinguiu que o que é legal pode não ser moral e vice-versa. O que é moral varia de pessoa para pessoa, ou de grupo de pessoas para grupo de pessoas, mas a lei é universal. Individualmente podemos considerar o aborto, o casamento gay, a eutanásia, etc, como sendo imorais mas aceitamos viver num país em que isso possa ser legal. E isso não é aceite por estes terroristas nem pelos seus instigadores. Tal como na Idade Média e ainda hoje nas ditaduras e nos regimes autoritários essa diferença não existe. Os líderes medievais assim como os dirigentes dos regimes autoritários eram e são donos da moralidade. Por isso temos de colocar no mesmo saco a Inquisição e os clérigos radicais muçulmanos. Uns organizavam autos de fé e os outros apelam ao assassinato de infiéis. O que aconteceu em França foi um auto de fé, não contra uma mulher a quem chamavam bruxa mas contra uns tipos que faziam uns desenhos provocadores e que até tinham pouca tiragem. Quem quiser inventar justificações para os inquisidores, ou para os carrascos que apenas cumpriram ordens, que o faça mas o que assistimos em Paris foi ataque medieval aos valores ocidentais.



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Quinta-feira, 27 de Novembro de 2014
Recortes da blogosfera

"Não há conversa sobre Sócrates que não acabe com alguém a utilizar a expressão “é bem-feito”. Na taberna ou na consultora por igual. É bem-feito por tudo o que fez ao país. É bem-feito porque os políticos deviam ser todos presos. É bem-feito porque o gajo merece. O bem-feito é vingança. Não é justiça.

Querem prender os verdadeiros responsáveis pelo estado miserável a que o país chegou? Prendam os dois milhões de portugueses que votaram em Sócrates. Prendam os outros oito milhões que abdicaram do seu juízo crítico e preferiram viver o conto de fadas. Prendam todos os dez milhões de portugueses que continuam a queixar-se que “isto está tudo mal” mas depois não se levantam do sofá para fazer alguma coisa. E mais os outros que se queixam que é preciso “fazer alguma coisa” mas depois não deixam que se faça nada. Votar é uma responsabilidade. Só depois é um direito. Sócrates até pode ser culpado de tudo. Mas a responsabilidade não é dele. É nossa.

É que neste país extraordinário continuamos a preferir ser mandados que a fazer qualquer coisa que nos possa responsabilizar. Adoramos ser mandados. Do senhor que fala alto dizemos que é um líder carismático. Do senhor que faz sem pensar dizemos que é um lutador. Do senhor que não tem medo de tomar decisões (mesmo as más) dizemos que é um predestinado. Preferimos ser enganados a que alguém nos chateie com a verdade. Preferimos delegar a responsabilidade das nossas vidinhas ao estado e aos outros. Somos assim. Uns palermas. Centenários palermas. E quando a coisa corre mal explicamos no café que é bem-feito. É culpado. Culpado. Na melhor lógica do "rouba mas faz" Sócrates é culpado não do roubo mas de ter roubado sem fazer. 

É bem-feito? Bem-feito para quem? Saber que um homem está preso sem ter sido julgado ajuda em quê?"

 

Rodrigo Moita de Deus, 31 da Armada



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Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014
Associação de ideias

Quando soube da prisão de Sócrates, foi deste episódio que me lembrei...

 


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Sexta-feira, 25 de Julho de 2014
Atlas 1999

 

Uma lata de óleo, uns bocados de madeira e umas linhas são suficientes para proporcionar um momento de alto impacto a quem atravessa o Alto Atlas.

Depois de conduzir centenas de quilómetros muito longe do alcatrão, sem se ver no meio de tantas pedras as mínimas condições para ali viver, não se consegue ficar indiferente alguém que nos espera para tocar uma musica para nós com este instrumento artesanal.

Ele, um pastor berbere acompanhado por uns miúdos, passam a primavera e o verão na montanha, esperava-nos há muitos minutos. Desde que nos tinha visto bastantes quilómetros antes sabia que ali iríamos passar. A pista é tão estreita e os declives tão acentuados que não existe alternativa. Quando estávamos a uns dez metros dele começou a tocar.

Ali ficamos durante um breve sempre a ouvi-lo confusos neste misto de expressão musical, arte e necessidade.

Os mais novos correm sua volta a rir envergonhados. Um bate palmas a acompanhar.

Todos andam descalços à volta do carro. Os mais pequenos desviam as pedras do trilho que foram colocadas antes por eles próprios. Sabem que assim obrigam o forasteiro a parar e a agradecer o favor.

No fim entregamos uns 'cadeaux' e continuamos por mais umas horas até chegarmos ao alcatrão.

 

Vida real, aqui tão perto.



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Terça-feira, 6 de Maio de 2014
Heidegger

“Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um desportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.”

 

Martin Heidegger (1889-1976)

Introdução à Metafísica - 1953


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Domingo, 27 de Abril de 2014
Recortes da imprensa

Não ser de esquerda

 

Eu tenho um enorme problema: não sou de esquerda. Estes 40 anos não me converteram e continuo a ser uma herege de direita. Continuo a sofrer de uma espécie de masoquismo idealista que me mantém na barricada da direita e que faz com que eu não passe no crivo moralista da crítica nacional. Sempre me senti à margem do crivo moralista da crítica nacional e isso magoa, ofende mesmo. É que apesar de ser de direita sou sensível. Juro que sou. Tenho imensa inveja dos capitães de Abril, de Freitas do Amaral, de Mário Soares, de Ricardo Araújo Pereira e de todos os representantes genuínos dos ideais de Abril, que são certamente melhores pessoas do que eu. São de esquerda e ser de esquerda é estar do lado certo da força.

Se eu fosse de esquerda a minha vida seria muito mais simples. Ser de esquerda é ser boa pessoa e eu gostava que toda a gente me considerasse boa pessoa - ninguém duvidaria das minhas boas intenções mesmo que eu tivesse como sol o regime da Coreia do Norte. Mas quis o destino que eu gostasse mais dos mercados do que de Hugo Chávez e isso trama--me a vida. Não tenho credibilidade em matéria de bondades. É injusto.

Mas o pior nem é isso, o pior é que além de ser de direita também sou católica. Ora um católico praticante de direita 40 anos depois do 25 de Abril não é mais do que um beato fascista. Um retrógrado. Como se não não bastasse ser de direita, ainda tinha de inventar ser católica. É mau de mais. Se eu fosse de esquerda e católica, a minha circunstância seria muito mais agradável e já ninguém me chamava beata fascista. Seria com muita pinta apelidada de católica progressista, o que é muito mais chique e moderno. E eu gostava de ser chique e moderna, apesar de católica e de gostar dos mercados.

Sendo de direita, não tenho perdão: até podia ser a favor do casamento dos padres, da ordenação das mulheres, da distribuição de preservativos nas igrejas, mas como sou de direita, lá está, ninguém iria acreditar nas minhas boas intenções. Sou beata e pronto.

A coisa agrava-se ainda mais pelo facto de eu ter muitos filhos. Ter seis filhos, ser de direita e ainda por cima ser católica, é uma desgraça completa. É quase estupidez. É pedir chuva. É como gostar de ser gozado no recreio por causa da franja e teimar em manter a franja. Ainda por cima tenho o supremo azar de os meus filhos serem loiros (só tenho um moreno). Ora loiros, neste contexto, quer dizer betos. Tudo mau. Se eu fosse de esquerda ninguém olhava para os meus filhos como meia dúzia de betinhos mimados. Agora, esta coisa de ter uma família do tipo "Música no Coração" dá cabo da minha reputação. 40 anos depois do 25 de Abril e sem nenhum capitão de Abril na família (apenas um católico progressista), a minha reputação é, fatalmente, miserável.

Ora, 40 anos depois do 25 de Abril, ter muitos filhos, ser de direita e ser católica só pode querer dizer uma coisa: sou um caso perdido dos ideais de Abril. Ninguém que sofra desta tríade nociva pode ser tolerante, democrata ou defensor da liberdade. Mas eu sou. Juro que sou.

Se eu fosse de esquerda, de qualquer esquerda de Freitas a Louçã, não vivia neste sufoco moral (com jeitinho até podia ser monárquica). Também não passava a minha pobre existência de direita a explicar que tenho muitos filhos apesar de não ser rica, que sou católica apesar de não ser beata (até gosto muito dos Jesuítas...), que sou de direita mas não sou fascista. Fosse eu de esquerda e o povo de Abril seria tolerante com a minha condição, já podia ter dez filhos loirinhos, podia ser capitalista e até católica (tipo Guterres).

Passaram 40 anos do 25 de Abril e eu não sou de esquerda. No entanto, ainda tenho esperança de vir a ser de esquerda - Freitas e muitos outros demonstraram que a conversão é possível em qualquer idade - porque sei que seria mais livre. É que se eu me afirmasse de esquerda já podia ser livremente a pessoa de direita que de facto sou. Pois, apesar de já terem passado 40 anos do 25 de Abril, a nossa esquerda só tolera a esquerda.

 

Inês Teotónio Pereira, Jornal i



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Quarta-feira, 5 de Fevereiro de 2014
Recortes da blogosfera

bloco de esquerda: uma análise de mercado

 

O mercado político português é um mercado fechado à concorrência, um regime oligopolista concentrado em quatro grandes prestadores de serviços: PS, PSD, PCP e CDS.

Estes quatro partidos, não por acaso os fundadores do regime e da Constituição política que o rege, definiram, em seu favor, as leis que regem o sistema eleitoral, o mesmo é dizer, o sistema partidário. Criaram regras leoninas que, na prática, impedem a concorrência: limitação de candidaturas independentes, círculos plurinominais com acesso exclusivo a listas partidárias, método de Hondt, financiamentos discriminatórios em razão de resultados eleitorais precedentes, acesso diferenciado aos meios de comunicação social em períodos de campanha eleitoral, limitações rígidas ao financiamento privado dos partidos, etc..

Graças a isto, os quatro partidos fundadores do regime mantêm-se os únicos com poder político real, com acesso aos órgãos de soberania, às empresas públicas, ao poder local, aos canais de informação e de formação de opinião, ao orçamento de estado. Em quarenta anos de democracia, apenas uma força política desafiou, duradouramente, este status quo: o Bloco de Esquerda.

A eclosão do Bloco foi resultado do espírito empresarial de mercado de um grupo de pequenos empresários políticos que conseguiram antecipar as necessidades dos consumidores e aproveitar circunstâncias excepcionalmente benéficas para conseguirem furar o bloqueio oligopolista existente. Esses pequenos empresários andaram, durante muitos anos, a tentar entrar no mercado e vender os seus produtos com as suas pequenas empresas partidárias, sem nenhum sucesso. Resolveram, por conseguinte, juntar os seus pequenos partidos e criar uma empresa maior que, para além de agregar o que cada um deles já possuía, conseguiu um resultado final que ultrapassava a simples soma das partes.

O novo produto oferecido aos consumidores foi cuidadosamente pensado e preparado. Surgiu como um híbrido de radicalismo político e diletantismo académico inofensivo, explorando um conjunto de temas que tinham consumo assegurado e que ninguém à esquerda, desde logo o conservador Partido Comunista Português, tinha interesse em explorar: os direitos das minorias, a descriminalização do aborto, a liberalização do consumo de drogas, a eutanásia, o casamento gay, etc.. Os patrões do Bloco de Esquerda, utilizando o melhor do espírito empresarial, conseguiram antever as necessidades do mercado eleitoral e ofereceram aos consumidores aquilo que eles pretendiam e mais ninguém oferecia. Quando José Sócrates, preocupado com a erosão do PS por causa destes “temas fracturantes” assumidos pelo Bloco, tentou fazer deles bandeiras do seu partido e do seu governo, já era tarde: os eleitores perceberam que o PS ia a reboque do Bloco de Esquerda, o verdadeiro proprietário desses produtos políticos inovadores.

A falência dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes abriu condições de mercado excepcionais para a esquerda, e o Bloco, que teve a sorte de estar já em plena actuação empresarial nessa ocasião, aproveitou-as muito bem. Cresceu acima do Partido Comunista nas eleições legislativas e quase formou maioria absoluta com José Sócrates naquelas que se seguiram.

A estrutura directiva do partido seguiu, também, o bom modelo da empresa capitalista: um Conselho de Administração onde se concentravam todos os poderes deliberativos, no qual tinham assento todos os representantes do seu capital social originário (UDP, PSR, etc.), que foi transposta para as listas eleitorais e para o grupo parlamentar, chefiado por um Presidente – Francisco Louçã – que inegavelmente representava a maioria do capital social da empresa.

Uma vez conseguido sucesso empresarial com um produto inovador no mercado, o Bloco entrou na bolsa de valores políticos, abriu o seu capital ao público e, em consequência, começou a contratar quadros intermédios, aos quais, devido ao crescimento inusitado do partido e à falta de dirigentes que preenchessem todas as suas necessidades, deu responsabilidades, protagonismo e poder.

Só que nenhum destes novos dirigentes do partido tinha a percepção do que custara a Louçã, Fazenda, Miguel Portas e Fernando Rosas, entre outros fundadores, terem alcançado o sucesso empresarial que conseguiram. Eram todos muito novos, estavam fascinados consigo mesmos e com o seu imenso “talento” e, por conseguinte, não valorizaram a empresa à qual foram chamados a participar.

Assim, quando a lei da vida se impôs aos fundadores do partido e estes, por uma ou por outra razão, se tiveram de afastar de funções de responsabilidade, os seus putativos sucessores, quais filhos mimados de ricos capitalistas, não foram capazes de valorizar a herança recebida e, gastando-a perdulariamente em projectos megalómanos e em birras e zangas uns com os outros, desfizeram-na alegremente. Os dois cabeças-de-casal que ficaram a administrar o espólio já não acreditam na sua sobrevivência. Alguns dos herdeiros mais conhecidos passeiam-se por aí com os seus novos carros, a velocidade tresloucada, convencidos que continuarão a ter dinheiro para sustentarem infinitamente os seus luxos. Todos dizem mal uns dos outros e ninguém respeita a memória dos seus antepassados. O PC e o PS assistem, alegremente, ao espectáculo.

A aventura empresarial do Bloco de Esquerda, verdadeiro hino ao espírito empreendedor do capitalismo de livre-mercado, terminará, assim, como muitos dos poucos grupos empresariais portugueses: sem resistir à segunda geração. Paz à sua alma!

 

Rui A.

Blasfémias



publicado por Paulo Sousa às 23:00
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Domingo, 27 de Outubro de 2013
O conflito de gerações que irá marcar as próximas décadas



publicado por Paulo Sousa às 01:00
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Sábado, 19 de Outubro de 2013
A Constituição da Republica Portuguesa

Teriam sido os descobrimentos portugueses possíveis com a atual Constituição?

 



publicado por Paulo Sousa às 18:50
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Terça-feira, 19 de Março de 2013
O caso cipriota

É comum ouvir a esquerda defender que as off-shore deviam ser taxadas. O plano cipriota não é mais do que isso. Os oligarcas russos têm aplicações off-shore no Chipre em valor superior a 20 mil milhões de euros. Dez por cento desse valor resolve o caso cipriota. Se a União Europeia assumisse este facto estaria a hostilizar Putin e a Real Politik não o permite.
Em alternativa a este plano, a Russia irá resgatar as finanças cipriotas em troca da exploração das reservas de gás da ilha. Quase sem darmos por isso este ainda Estado Membro da UE passará a estar sob a esfera de influência de Moscovo. Dessa forma o Chipre assegura também a manutenção da distância da Turquia e assim mantém o status quo na divisão da ilha.
Mas o que está a dar é dizer mal da senhora Merkel...



publicado por Paulo Sousa às 21:00
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Sábado, 16 de Fevereiro de 2013
Recortes da imprensa



publicado por Paulo Sousa às 14:00
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Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013
Recortes da blogosfera

Simpático, Seguro e oco

António José Seguro esteve bem na entrevista que ontem deu a José Gomes Ferreira, no Negócios da Semana. Esteve seguro, cordato, simpático, fluente. O problema de Seguro não é Seguro, o problema de Seguro são mesmo as ideias, umas más, outras más e irrealizáveis.

Há, primeiro, a ideia que Seguro tem de que todos os sucessos políticos e financeiros obedecem a sugestões antigas dele, e a total falta de compreensão do mesmo Seguro sobre os tempos políticos e a necessidade de dar passos para atingir objectivos.

Diz Seguro que foi ele que disse que União Europeia e Banco Central Europeu deviam ter um papel mais activo na resolução da crise. Seguro acha que o papel mais activo de UE e BCE, agora, não tem a ver com o caminho prévio de austeridade, disciplina e consolidação orçamental na Europa.

Diz Seguro que era ele que recomendava há meses que fosse contraído um empréstimo de 5 mil milhões junto do Banco Europeu de Investimento para ajudar as PMEs, sem explicar como seria possível antes do cumprimento das metas da troika, e esquecendo os 4 mil milhões que acabam de nos chegar após cumpridas as metas e exactamente para esse propósito.

Há, depois, as propostas de Seguro.

Diz Seguro que a dívida pública continua a crescer, mas recusa Seguro sequer falar sobre cortes, porque, diz ele, «cortar não resolve nada», e que não se pode reduzir as prestações sociais, nem admitir «o empobrecimento». Então como há-de ser? Ora, pelo crescimento, que na cabeça de Seguro há-de ultrapassar os 4% do PIB (supõe-se que com os exactos rigor e políticas de crescimento com que Sócrates fez crescer a ruína). E pode Seguro garantir que, sendo governo, o país cresce? Não, Seguro diz que não pode fazer promessas dessas.

Diz Seguro que para chegar aos 2,5% de défice em 2014 não se pode ir por aquilo a que ele chama «a austeridade custe o que custar» (os nossos credores chamam-lhe «necessária»), mas antes pela «defesa de políticas públicas que protejam os cidadãos» (o que quer que isso seja).

Reina, pois, o consenso no PS: é que António Costa (o da duplicação de sedes da CML, das trapalhadas na Avenida e dos gastos perdulários com o dinheiro de uns terrenos vendidos) e José Sócrates (o da propaganda e da bancarrota) não hesitariam em subscrever tudo o que disse Seguro.

Disse Seguro, logo no início da entrevista, que «quando o PS ganha, ganhamos todos». Os socialistas, sem dúvida.

 

 

José Mendonça da Cruz, Corta-fitas



publicado por Paulo Sousa às 13:00
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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013
Recortes da blogosfera

O regresso aos mercados não alivia o desemprego amanhã nem acaba sequer com a austeridade. Mas sem o regresso aos mercados nunca mais seria possível facilitar, de forma sustentada, o financiamento à economia, sem o qual não haverá nunca crescimento, sem o qual não haverá nunca criação de emprego.

Não é o fim, é o principio do fim, mas para quem ainda há pouco jurava que Portugal não voltaria aos mercados nem no final de 2013, um regresso logo em Janeiro é um golpe de mestre. Bem preparado e bem realizado, e que correu francamente bem, com a maioria dos pedidos a virem do estrangeiro, de quem tem dinheiro para investir a longo prazo, e com uma taxa de juro muito razoável, se bem que ainda elevada.

Há muito que não tínhamos boas notícias como esta. Mas há ainda mais. Sem regresso aos mercados a troika não se podia ir embora, pois continuaríamos a necessitar do dinheiro dela. Ora com a troika em Portugal estaríamos sempre na condição de sermos uma espécie de protectorado. É também por isso que esta notícia é importante e é fundamental que se trata de um movimento sustentável no futuro.

Quem desvaloriza a sua importância está mais do lado dos que acreditam que quanto pior, melhor. E dos que estão furiosos por se terem enganado no seu papel de cassandras.

 

 

José Manuel Fernandes, Facebook 



publicado por Paulo Sousa às 19:00
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Domingo, 20 de Janeiro de 2013
Não têm vergonha...!!!

 

Durante os governos PS nunca houve um temporal destes. Isto é uma vergonha.

Malditos neo-liberais! 

 



publicado por Paulo Sousa às 00:01
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Terça-feira, 1 de Janeiro de 2013
Recortes da blogosfera

Mercado da dívida visto pela esquerda 

 

Mercado da dívida visto pela esquerda

 

Taxa de juro da dívida a 10 anos no mercado secundário.

 

 

João Miranda, Blasfémias 

 

 

 

 



publicado por Paulo Sousa às 13:00
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Segunda-feira, 24 de Dezembro de 2012
Recortes da blogosfera

A comunicação social portuguesa no seu pior. Durante mais de uma semana, vários órgãos de informação, com destaque para o Expresso e para a TSF, deram palco a um tal Artur Baptista da Silva que falaria em nome da ONU e de um grupo de economistas que observaria a Europa do Sul.

Ninguém procurou saber mais sobre o ilustre economista que apareceu vindo do nada e começou a botar faladura, indo até a um Expresso da Meia-Noite. Ninguém se interrogou sobre ele dizer barbaridades como a de que as Nações Unidas terem pedido explicações à Europa sobre as condições da ajuda a Portugal, algo totalmente implausível. Ninguém fez uma busca simples na Internet para tentar descobrir o passado do "génio da economia" que o país desconhecia. Afinal o homem não passará de um burlão. O organismo que diz dirigir não existir. Nas Nações Unidas ninguém o conhece. E quem colocar o seu nome no Google apenas descobrirá que costuma assinar todas as petições da esquerda bem-pensante e esteve na candidatura de Manuel Alegre. O que talvez explique tudo: a nossa comunicação social, ou grande parte dela, só parece andar à procura de quem repita a narrativa dos jornalistas. Ora o que este burlão dizia encaixava perfeitamente na narrativa dominante nas redacções, pelo que ninguém se incomodou muito a investigar a origem do homem durante mais de uma semana.

É triste, mas é verdade. 

 

 

José Manuel Fernandes, via facebook 

 



publicado por Paulo Sousa às 10:00
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Obrigado Laura,Apenas aqui poderia ter chegado pel...
magnífico texto.Cheguei aqui através do "Delito".
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Se o discurso do sr burlão da ONU fosse de apoio a...
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Leitura em curso


O Futuro e os seus inimigos

 

de Daniel Innerarity

 

Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental

 


Teorema

 


 

 




 

Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos

 

 

de José Manuel Lopes

 

 

 

O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.


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