De entre os seres vivos, o humano é o único que sabe que há futuro. Se nos preocupamos é porque sabemos que o futuro existe, e que pode ser melhor ou pior, dependendo em certa medida de nós próprios.
A relação individual com o futuro repete-se, a uma escala alargada, com as sociedades.
Na sociedade do consumo imediato em que vivemos, a incerteza do amanhã é esmagada pelo imediatismo de curta perspectiva, que se verifica nas decisões individuais e colectivas.
O colonialismo territorial de outros tempos foi assim substítuido por um colonialismo do presente que absorve e parasita o tempo futuro. O benefício que, no passado, se pretendeu usufruiu sobre os ‘de fora’, é exercido hoje sobre os ‘de depois’.
Os ataques do presente, seja sob a forma de endividamento ou de poluição, desrespeitam os ‘agoras’ dos outros e fazem do futuro uma lixeira do presente.
Jefferson, no séc XIX, questionou-se se não se deveriam aprovar todas as leis ao ritmo das gerações e considerava que cada geração era como uma nação diferente e tinha, por isso, o direito de tomar decisões, sem no entanto poder obrigar as seguintes.
Cada vez que os responsáveis políticos endividam as suas comunidades ou os seus países a prazo alargado, para concretizar obras não produtivas comportam-se como uns okupas do futuro. Entre a liberdade de acção das gerações futuras e o fascinio imediatista da inauguração com uma placa com o seu nome gravado, os políticos preferem, sem pudor, a segunda.
E os eleitores apaludem, porque o futuro é dos outros e o presente é deles próprios.
A crescente dimensão do grupo de eleitores de terceira idade dentro do universo eleitoral alimenta também este processo. Antecipar uma reforma é sobrecarregar um sistema que não sabemos se será sustentável no futuro, mas, perante os abusos descabidos todos encolhemos os ombros. Quem não faria o mesmo? Exigir aumentos das reformas é normal, pois tem de se acompanhar o aumento do custo de vida. Quanto ao futuro ... logo se vê.
Se nada for feito para interromper esta lógica, desprovida de ética, o futuro terá cada vez menos peso político.
A ideia da responsabilidade está essencialmente virada para o passado. Temos de prestar contas pelo que fizemos ou deixamos de fazer, mas quanto às responsabilidades futuras, essas ... são sempre envolvidas na incerteza do amanhã desconhecido.
Mas um dia o futuro será presente, e os dos futuro, aprisionados pela vaidade dos do passado, saberão identificar os seus tiranos e dar-lhe o devido lugar na memória que será a deles e que é a memória futura.
Para uma visão mais profunda e alargada sobre este tema, recomendo a leitura do livro ‘O Futuro e os seus inimigos’ de Daniel Innerarity
Publicado no Portomosense, 03 de Agosto de 2011
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera