"Ao contrário de muitos, penso ser cedo para dizermos que o actual rumo político é o errado. O País chegou a esta situação após anos em que acumulou défices orçamentais e externos insustentáveis, devido a políticas expansionistas imprudentes e aumentos salariais acima do crescimento da produtividade. De facto não somos a Grécia, que nunca aplicou as reformas estruturais mais difíceis e cuja liderança política irresponsável continua a tentar "dar a volta" aos europeus que pagam as contas (veja-se o último episódio dos 300 milhões das pensões e os insultos presidenciais a meio de uma negociação sensível). Outro exemplo: o défice da balança de pagamentos continua acima de 10% do PIB, o que é extraordinário, quando o mesmo indicador português caminha depressa para o equilíbrio. A questão do salário mínimo grego é absurda e não admira que os alemães tenham perdido a confiança nos dirigentes de Atenas.
Naquilo que nos diz respeito, e para além de um improvável milagre de Fátima, Portugal só tem duas hipóteses: ou cumpre até ao fim o memorando da troika ou entra em bancarrota. Esta última é muito pior do que o Pacto Orçamental adoptado na UE. As despesas serão iguais às receitas e acabam as expansões dos gastos sociais ou os investimentos em grandes projectos. Fora do euro voltaremos a ser um país pobre e sem peso político. As poupanças serão destruídas e quem tiver dívidas será sufocado pelo aumento das taxas de juro.
A blogosfera devia servir para discutir seriamente estes assuntos. Como se pagam os brilhantes planos de criação de empregos ou de crescimento económico? Mas também devia servir para explicar que o actual rumo não pode ser mantido por muito tempo e que os países que financiam o nosso resgate têm vantagens em facilitar a vida ao devedor.
Um país que não consegue empregar os seus jovens e que despede os trabalhadores mais velhos também não terá perspectivas de crescimento, mesmo com contas públicas equilibradas. Por um lado, não há nova geração de trabalhadores a descontarem para a segurança social, por outro os trabalhadores mais antigos não conseguem chegar à idade da reforma a trabalhar, pelo que terão pensões de miséria. É uma sociedade em vias de ser desmantelada.
O número real de desempregados (somados com os inactivos que querem trabalhar, ou seja, desempregados de longa duração) anda nos 950 mil e isso é uma catástrofe. Visto de outra maneira: no início desta crise, em 2008, havia 5,197 milhões de empregados; agora, há 4,735 milhões. Portugal perdeu 462 mil postos de trabalho em quatro anos. Do quatro trimestre de 2010 para o quatro trimestre de 2011, as perdas foram de 213 mil empregos, quase 600 por dia (583). Ou seja, esta crise não está sobretudo nas medidas de austeridade ou no plano da troika (é cedo para os efeitos), mas em questões mais profundas de falta de competitividade, leis laborais e endividamento das empresas.
No entanto, as discussões destes temas são geralmente de tipo Benfica-Sporting, em que toda a análise é clubística e partidária. Os socialistas sacodem a água do capote, como se não tivessem qualquer responsabilidade no descalabro do país, a esquerda exterior ao acordo da troika parece incapaz de aceitar medidas onde o país não tem alternativa, mas isto é válido também para a direita que detesta o actual PSD e que fica exterior à troika apenas porque odeia o actual poder. As tias de Cascais não gramam Cavaco e também detestam Passos Coelho.
Mas esqueçamos as tias e os seus ódios de estimação à classe média, a mesma que está a pagar esta crise. A alternativa aos actuais sacrifícios é a bancarrota, da qual a Grécia provavelmente já não escapa. Mas muitos intelectuais continuam a pensar que o falhanço do remédio é o problema, que a Alemanha é a culpada, que Hitler de alguma forma está envolvido, que a UE tem mecanismos que podem actuar nesta emergência. A Grécia não chegou a cumprir a sua parte, mas o problema não foi o resgate, foi a situação que exigiu o resgate e as mentiras permanentes, as estatísticas falsas e as promessas inúteis, que os mercados nunca engoliram.
A ideia de que o resgate é o problema não pode triunfar, pois a alternativa é muito pior.
Também devemos combater a ideia de que esta crise europeia se resolve com decisões comunitárias. O chamado "método comunitário" que usa as instituições comuns, nunca funcionou em questões de dinheiro. Aí, só existe o método intergovernamental, ou seja, a negociação ao nível dos poderes nacionais, portanto, potências e directório. No que respeita a verbas, como é o caso das ajudas externas, decide quem assina os cheques e quem tem de responder perante os seus contribuintes, portanto podem fazer os manifestos que quiserem."
Luis Naves, Forte Apache
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera