Com o caso PT/TVI ainda fresco na memória e olhando para a inevitabilidade da compra da PT pela Telefónica, torna-se óbvio que a 'golden share' não serve coisa nenhuma para impedir que sectores estratégicos da nossa economia saiam de mãos portuguesas, mas sim para que o governo instrumentalize empresas de grande dimensão.
Foi por isso que toda a esquerda rejubilou quando se soube do insucesso da tentativa da SONAE em comprar a PT.
Alguém dúvida que com Belmiro de Azevedo à frente da PT, Rui Pedro Soares nunca se teria tornado uma figura pública da forma como se tornou?
Quando se oficializar a passagem da PT para mãos espanholas (depois da também simbólica eliminação da selecção nacional pelos 'nuestros hermanos'), será mais uma confirmação da trajectória do nosso país ao ser governado pela esquerda.
PÊ ÉSSE!!
PÊ ÉSSE!!
PÊ ÉSSE!!
O difícil apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo deu razão aos que, como eu, não se incluíam no clube de fans de Carlos Queiroz. Depois disso, já na África do Sul, achei que poderíamos ter ganho à Costa do Marfim e que não o fizemos por falta de esclarecimento e de ambição.
Depois do 7-0, resultado que pela dimensão poderá ser enganador, comecei a mudar de ideias.
Sem ser entendido em futebol, acabei por concordar que a inegável experiência dos jogadores é posta ao serviço da estratégia de cada jogo. Em cada jogo a equipa tem uma disposição diferente e a sua história acaba por ser também diferente.
Depois das entrevistas que se seguiram ao jogo com o Brasil, comecei a apreciar o trabalho de Queiroz, e isso foi reforçado pelas entrevistas que deu ontem e hoje, em antecipação ao jogo de amanhã com Espanha. Há claramente optimismo do nosso lado e sinto receio nas entrevistas do treinador e jogadores espanhóis.
Hoje, ao ver o Jornal da Noite, soube que Queiroz convidou para o jantar com a Selecção, nada mais nada menos que François Pienaar, figura que entre nós não é muito conhecida, mas que não é nada mais nada menos que o ex-capitão da Selecção Sul-Africana de Rugby que ganhou o título mundial em 1995.
A história deste título faz parte da história do Rugby mundial. Sendo país organizador, a selecção sul-africana chegou ao Campeonato sem que tivesse de passar pela fase de apuramento, fazendo por isso apenas jogos amigáveis. Durante o período que antecedeu o Campeonato os Spingboks foram humilhados em todos os jogos. A descrença do país na sua equipa era total. Importa lembrar que tudo isto se passa nos primeiros meses de Mandela como Presidente da África do Sul, e que, não será exagerado dize-lo, o país se encontrava à beira de uma guerra civil. O Rugby era o desporto-rei da população branca e o ódio racial fazia com que a população negra festejasse no estádio os pontos sofridos pela equipa do seu país, e fazia que o debate sobre a mudança do emblema nas camisolas fosse um assunto de estado.
Foi nesse ambiente que Mandela chamou o capitão da equipa, o tal François Pienaar de quem vos falo, e lhe pediu que liderasse a equipa, lutasse pelas vitórias e assim o ajudasse a pacificar o país. Entre outros actos simbólicos, foram realizados treinos de preparação para os jogos em bairros de lata de forma a angariar a simpatia da população negra.
O Campeonato começou e, vitória improvável após vitória improvável, os Springboks chegaram à final onde defrontaram a sempre temível selecção dos All Blacks neozelandeses. O título foi ganho nos últimos minutos do jogo e os pontos decisivos foram marcados pelo tal François Pienaar de quem vos falo.
O filme Invictus, sobre o qual já bloguei conta esta história.
Esse tal François Pienaar de quem vos falo, jantou hoje com a selecção portuguesa e depois de terem visto algumas imagens do filme, fez por lhes transmitir três ideias:
- Devem imaginar o que se passa em Portugal hoje e como os portugueses se estão a sentir. Amanhã quando acordarem devem imaginar qual será a sensação de ser campeão do mundo;
- Devem trazer energia positiva para o jogo. As equipas campeãs têm todas uma energia positiva. Os seus jogadores jogam uns pelos outros e lutam por cada tufo de relva. Essas equipas são muito difíceis de bater;
- Devem jogar sem arrependimentos e sem vacilar. Devem jogar o jogo pelo jogo sem qualquer ideia na cabeça para além de ganhar.
Achei a escolhe muito adequada e muito feliz.
Embarquei no espírito e hoje também digo: I got a feeling!!
Arredando (e arreliado por isso) há algumas semanas da blogosfera, foram vários os assuntos sobre os quais tive vontade de postar e que por falta de sitio não o fiz. As reflexões pessoais que os referidos assuntos suscitaram perderam o futuro que o registo escrito lhes garante.
Estando o Mundial 2010 em curso foram várias as metáforas em que já tropecei e que aqui gostava de registar.
Uma delas foi a forma com todos lidamos com este circus romano da actualidade que entretém e anestesia milhões de pessoas pelo mundo inteiro. No caso português (também no espanhol…) o Mundial funciona como a metadona. Não resolve, não compromete, mas alivia.
Fiz um comentário há dias no Albergue Espanhol sobre a metadona futebolística, que aqui passo a reproduzir.
"O dealer para ganhar a confiança do seu protegido teve apenas que dizer umas frases bonitas sobre um prazer infinito e duradouro. As primeiras experiências correram bem, muito bem. Durante essas experiências o dealer mostrou ao futuro junkie que na sua companhia no futuro poderia ser muito feliz, teria dinheiro nos bolsos e viveria a alta velocidade.
Por vezes nos curtos períodos em que não estava sobre efeito do encantamento, o futuro junkie ouvia algumas vozes (sempre pelo seu ouvido direito) que garantiam que a conversa do dealer era perigosa e que este o levaria à ruína. Como é que isso era possível? Quando chegava à hora da diversão o dealer tinha sempre dinheiro para as farras. Ele sabia como fazer as coisas. Com ele havia sempre boa disposição e os seus amigos estavam sempre descansados pois não havia azar que os apoquentasse.
E foi neste clima que as doses de encantamento se foram sucedendo e com o correr do tempo já nem se lembrava da sua vida antes de conhecer o seu dealer, o grande dealer.
No entanto, o seu ouvido direito não deixava de o perturbar. As doses de encantamento começavam a ser insuficientes. O grande dealer, sempre atento aos estados de espírito do seu junkie, repetia ininterruptamente as suas mensagem de entusiasmo e boa disposição. Apesar disso, por vezes irritava-se com tanto alerta, e o junkie suspeitou estar a ser agredido, directamente no seu ouvido direito durante o sono. Desconfiou do dealer e perguntou-lhe se sabia alguma coisa sobre o assunto. Ele logo mostrou que tinha um feitio forte e que não aceitava que desconfiassem do seu optimismo. O junkie logo entendeu que o melhor era não lhe contar mais nada sobre as vozes estranhas.
Um dia o grande dealer juntou muitos amigos e deu uma festa espectacular. Todos estavam entusiasmados e no fim fizeram um brinde. O grande dealer estava inflamadíssimo e encantado consigo próprio. Sem contar com o microfone aberto disse para consigo: Porreiro, pá! A expressão chegou em alto som às colunas de som (compradas a prestações) e a gargalhada foi geral. Todos estavam encantados com ele, e ele adorava ser o centro das atenções.
No entanto, alguns dos amigos do dealer começaram a avisar o junkie que a vida que levada, sem esforço e só com facilidades, era perigosa e que a prazo teria de mudar de trajectória. O dealer quando soube disso juntou, os amigos e o junkie e começou a falar, falar, falar. No final do encontro todos tinham ouvido algumas ideias com que concordavam e outras não. Ninguém notou que, o que ele fazia era apenas dizer uma coisa e o seu contrário para dois públicos em simultâneo, e logo de imediato, dizer o seu contrário e uma coisa de forma a que todos encontravam alguns pontos de ligação. Ninguém notou que todos estavam a ser anulados num jogo de dupla negação.
O encantamento começou a criar habituação e o junkie começou pedir mais coisas além de conversa. O dealer para o acalmar começou a andar com mais notas nos bolsos. Sabia bem que isso funcionava com alguém como o seu protegido, que toda a vida tivera de contar os tostões.
O junkie no entanto começava a ficar cansado de tanto encantamento.
Um dia, os dois encontraram-se numa mesa de café. O dealer estava diferente. Ao contrário do habitual não se mostrava entusiasmado. Disse-lhe que o mundo tinha mudado e que agora não lhe poderia dar mais dinheiro. O junkei tentou saber porquê e, apesar do seu dealer nunca o assumir, entendeu que ele andara a pedir dinheiro emprestado para toda aquela estúrdia e que já ninguém lhe emprestava mais. O dealer tentando justificar-se disse que iria arranjar mais dinheiro, fosse como fosse, desse por onde desse. Nesse momento o junkie, que cada vez mais se sentia deprimido e esmagado pelas vozes que desde o início o tinham avisado do frenesim gastador em que estava a viver, sentiu que as pernas lhe tremiam notou que transpirava abundantemente. O mau estar era geral. Como é que tinha embarcado num conto do vigário?
Perguntou ao dealer se havia alguma forma de ultrapassar aquela situação com dores menos intensas?
O dealer sorriu e disse: Este ano o campeonato mundial da metadona é na África do Sul!!
Ao dizer isto viu que torcia os dedos para que as actuais tormentas virassem boa esperança…
Para que a metadona funcionasse tínhamos de ganhar os jogos!!
Ao fundo ouviam-se vuvuzelas."
O Vale do Anzel é o lugar de regresso após todas as partidas.
Claro que sem saídas não haveria regressos e por isso sem partidas o Vale do Anzel não seria igual.
Neste blog será comentada a actualidade, serão partilhadas imagens e será o local de balanço após o regresso.
Este blog é também uma experiência individual, que seria inevitavelmente diferente sem a experiência que foi o Vila Forte.
Espero vir a gostar do blog Vale do Anzel como gosto de viver no Vale do Anzel.
Todos são bem vindos.
“O desejo de evasão sempre levou os homens a trocar o conforto da segurança pela sensação-limite de enfrentar o estranho e o imprevisível, como se da passagem por territórios desconhecidos pudesse chegar uma sorte de revelação sobre o seu lugar no mundo. [...] Na verdade, não importa tanto se à nossa frente está o Templo de Karnak em Luxor, os desfiladeiros do Grande Canyon ou os fiordes da Noruega. Todos os lugares são sugestões explícitas de comunicação, varia a linguagem do nosso registo – verbal ou não verbal, manifesta ou silenciosa, partilhável ou solitária. Varia, sobretudo da disponibilidade do olhar: curioso, enfastiado, inquieto, apaixonado, demorado, descrente, superficial, humilde, rotineiro, arrogante, apressado, respeitoso... Diz-me como olhas o mundo, dir-te-ei que mundo é o teu.
Cresceram exponencialmente as possibilidades de viajar, mas a exaltação à aventura é uma ideia cada vez mais remota. Tudo se oferece acondicionado e espartilhado em embrulhos turísticos, calculados para se adaptarem o melhor possível aos nosso hábitos e estilos de vida, quando faria mais sentido estimular a ruptura e provocar a aprendizagem e descoberta do inadquirido.
Uma das diferenças entre o turista e o viajante “é que o primeiro aceita a sua própria civilização sem questioná-la, enquanto o viajante, ao compará-la com as outras civilizações, rejeita aquilo de que não gosta”. [...]
Só um espírito empedernido em tédio e cepticismo pode ficar indiferente ao sobressalto feliz de uma viagem, ao deslumbramento e à sabedoria que daí pode advir. Subtraídos à banalidade e lançados para um registo vivencial único, que relativiza as nossas concepções pessoais de tempo e espaço, somos invadidos por uma consciência aguda e perspicaz da dimensão do real, da sua infinita diversidade e complexidade. Não é raro que viajar produza um estado de aclaramento mental de consciências mais duradouras do que à partida julgaríamos. [...] Tal como das grandes paixões, ninguém regressa intacto de uma grande viagem, desde que reserve ao seu lado um lugar para o acaso. “O acaso é Deus quando viaja incógnito”, disse Plutarco.”
In Notícias Magazine, 25/01/98
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera