Fui questionado para o quinzenário O Portomosense sobre a fusão de freguesias, decidida pela Troika, e promulgada pelo governo português. Queriam saber se concordava e que freguesias deveriam ser fundidas.
Como tinha o limite de três ou quatro frases disse apenas o seguinte:
"Concordo com a ideia em geral.
Mas graças aos nossos governantes, tão amigos de pedir empréstimos, a nossa opinião deixou de contar. Basta a troika assim decidir que as fusões de freguesias e concelhos avançarão.
Se houvesse visão este seria também o momento de negociar a fusão do nosso concelho com o da Batalha e assim evitar que no futuro se tivesse de acatar simplesmente as decisões impostas. Se os próximos anos não forem muito negativos, isso irá acontecer. É uma questão de tempo."
Muito mais poderia ser dito sobre este assunto, sendo que um aspecto especialmente curioso é que a fusão de concelhos e freguesias só será possível de for imposta por estrangeiros. Nunca nenhum político português teria coragem de tocar nesta vaca sagrada.
Se o euro e a UE sobreviveram à actual crise, a médio prazo a fusão de concelhos será uma realidade e assim abre-se a porta à poupança de milhões e reduz-se o espaço aos pequenos tiranetes, escolhidos por eleitores pouco exigentes e de curtas vistas que se sentem em dívida pessoal perante alguém que usa os dinheiros público para lhe tapar os buracos à frente da porta.
Com menos municípios haverá menos desperdício, menos despesa e dívida pública, menos rotundas, menos obras desnesserárias e menos corrupção. O país estará mais próximo da viabilidade.
O pecado da Madeira foi o mesmo de muitas famílias portuguesas, do governo português da Grécia. Confundir prosperidade com o aumento do consumo sustentado pelo crédito.
Seria surpreendente mas muito positivo que PPC fosse além destas declarações. Se retirasse a confiança política a AJJ, assumiria o risco de perder o apoio parlamentar dos deputados PSD Madeira mas mostraria ao país que finalmente tínhamos um PM em quem se podia confiar. No momento seguinte poderia dirigir-se a Seguro e lamentar o orgulho que este declarou ter na obra deixada por Sócrates.
Os grandes políticos seguem os princípios, correm os riscos das consequências e moralizam a sociedade mostrado que a política pode ser algo nobre.
Velhos políticos em pânico
Os discursos, os rituais, as práticas e algumas das últimas decisões corajosas estão a consolidar o início de uma transformação radical, permitindo descortinar um novo tipo de governação que marca uma inequívoca ruptura com as últimas três décadas.
Lentamente, e ainda que com hesitações e até erros, a actuação do governo tem resultado na credibilização de alguns dos seus ministros mais jovens e politicamente desconhecidos.
Não foi por acaso, certamente, que Mário Soares, com a perspicácia que lhe é reconhecida, disparou sobre o porta-aviões da nova geração: Vítor Gaspar. Do alto da sua arrogância política, sempre desculpada pelo seu papel na fundação da democracia, o ex-Presidente da República chamou "político ocasional" ao ministro das Finanças. De facto, foi o maior elogio que lhe podia fazer, atestando que Vítor Gaspar chegou à política por mérito do seu percurso académico e profissional, e não pela via da ascensão partidária ou da habilidade para transportar maletas.
A referência de Soares diz tudo sobre a incomodidade sentida por alguns velhos políticos quando uma nova geração começa a controlar as rédeas do poder.
O mais extraordinário é que o "animal político" confessou, com sinceridade, que não compreende o discurso de Vítor Gaspar. Porventura, até poderia ter acrescentado o mesmo em relação aos ministros Álvaro Santos Pereira (Economia e Emprego), Paula Teixeira da Cruz (Justiça), Paulo Macedo (Saúde), Pedro Mota Soares (Solidariedade e Segurança Social) e Nuno Crato (Educação e Ciência).
Foi preciso bater no fundo para ser perceptível o enorme fosso que o tempo cavou entre os velhos e os novos governantes.
Quem sempre resolveu as crises com a mão esticada em direcção à ajuda externa não entende que há outros caminhos. Ninguém nega o seu mérito em retirar o país da ditadura e da miséria, mas chegou o momento de dar lugar aos mais jovens, sujeitando-se ao julgamento político do esbanjamento do extraordinário fluxo dos fundos comunitários. Por isso não admira que alguns velhos políticos estejam em pânico, temendo cair do pedestal em que os colocaram.
Pior que o legado de um país falido, só mesmo esta tentativa de começar a enfraquecer gratuitamente um governo que acredita que o país não pode continuar a pagar um modelo de de- senvolvimento sustentado pelo Estado, um Serviço Nacional de Saúde medíocre e despesista, uma justiça ineficaz e minada pelos partidos políticos e um sistema de ensino burocratizado e deficiente, entre outros estrangulamentos.
Sem prejuízo da crítica, é preciso dar uma oportunidade a quem está a demonstrar que está apostado na ruptura com um modelo esgotado, cuja tolerância à corrupção engordou escandalosamente a classe dirigente e empobreceu o país, de negócio de Estado em negócio de Estado, de empresa pública falida em empresa pública falida.
Portugal não está condenado a ser pobre, a perpetuar as desigualdades gritantes e a adiar as reformas estruturais vitais sob a capa de slogans estafados. Nem precisa de uma espécie de tutela permanente dos fundadores da democracia. Apenas necessita que a nova geração de governantes esteja à altura dos tempos, seja capaz de se libertar de amarras ideológicas e da teia de compromissos insondáveis, de forma a honrar os sacrifícios exigidos aos portugueses.
O impulso controlador de uma certa esquerda não arrefeceu com a crise que se vive.
Depois da verdadeira caça às bruxas que, pouco a pouco, se tem vindo a tecer contra os fumadores, os pretensos donos da moral dos outros fazem uma nova investida, desta vez contra a comida chamada de fast-food.
O bastonário da ordem dos médicos acha que é reeducando fiscalmente o público ignorante e labrego que se resolve os problemas da saúde. Eu a ele preferia alargar o acesso à formação de médicos e assim possibilitar que milhares de portugueses pudessem ter acesso a um médico de família, o que não acontece em resultado da pressão que o lobby que representa exerce dentro do estado.
Fazendo um esforço por observar o fenómeno a uma distância maior podemos também ver uma das diferenças na acção da esquerda e da direita. Se um 'perigoso' liberal de direita não gostar de fast-food simplesmente escolhe uma alternativa. Já um indivíduo de esquerda, solidário e preocupado com o próximo, além de não frequentar as catedrais das calorias acha que os demais devem ser impedidos de o fazer.
A liberdade é bonita mas é nas cantigas de Abril, de resto só atrapalha.
Negar à sociedade qualquer responsabilidade, ou até a própria existência não é, porém, uma tese menos absurda que a da esquerda idealista que a todos perdoa, imputando as culpas das falhas humanas ao sistema.
As reflexões que os tumultos do Reino Unido suscitaram à direita e à esquerda confirmam que o mundo pode estar a mudar, mas o pensamento não. Enquanto os miúdos partiam montras na rua, os analistas vestiam as camisolas dos respectivos "clubes" e atiravam aviõezinhos de papel uns aos outros despejando as cartilhas da direita e da esquerda que já conhecemos de cor. Em tempo de crise, quando vemos o mundo que conhecemos a ameaçar ruir, estranho esta aparente falta de interesse em tentar perceber o que se passa. Deve ser reactivo este retorno ao discurso vincadamente ideológico que parece estar a voltar em força. O problema é que implica sempre alguma desonestidade intelectual, porque é, por natureza, redutor. Entretanto a História, que não é rapariga para se empatar com estas coisas, vai fazendo o seu caminho. E que depressa que ela vai. Receio que mais uma vez nos ultrapasse pela direita e fique a rir-se de nós.
Teresa Ribeiro, Delito de Opinião
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera