Simpático, Seguro e oco
António José Seguro esteve bem na entrevista que ontem deu a José Gomes Ferreira, no Negócios da Semana. Esteve seguro, cordato, simpático, fluente. O problema de Seguro não é Seguro, o problema de Seguro são mesmo as ideias, umas más, outras más e irrealizáveis.
Há, primeiro, a ideia que Seguro tem de que todos os sucessos políticos e financeiros obedecem a sugestões antigas dele, e a total falta de compreensão do mesmo Seguro sobre os tempos políticos e a necessidade de dar passos para atingir objectivos.
Diz Seguro que foi ele que disse que União Europeia e Banco Central Europeu deviam ter um papel mais activo na resolução da crise. Seguro acha que o papel mais activo de UE e BCE, agora, não tem a ver com o caminho prévio de austeridade, disciplina e consolidação orçamental na Europa.
Diz Seguro que era ele que recomendava há meses que fosse contraído um empréstimo de 5 mil milhões junto do Banco Europeu de Investimento para ajudar as PMEs, sem explicar como seria possível antes do cumprimento das metas da troika, e esquecendo os 4 mil milhões que acabam de nos chegar após cumpridas as metas e exactamente para esse propósito.
Há, depois, as propostas de Seguro.
Diz Seguro que a dívida pública continua a crescer, mas recusa Seguro sequer falar sobre cortes, porque, diz ele, «cortar não resolve nada», e que não se pode reduzir as prestações sociais, nem admitir «o empobrecimento». Então como há-de ser? Ora, pelo crescimento, que na cabeça de Seguro há-de ultrapassar os 4% do PIB (supõe-se que com os exactos rigor e políticas de crescimento com que Sócrates fez crescer a ruína). E pode Seguro garantir que, sendo governo, o país cresce? Não, Seguro diz que não pode fazer promessas dessas.
Diz Seguro que para chegar aos 2,5% de défice em 2014 não se pode ir por aquilo a que ele chama «a austeridade custe o que custar» (os nossos credores chamam-lhe «necessária»), mas antes pela «defesa de políticas públicas que protejam os cidadãos» (o que quer que isso seja).
Reina, pois, o consenso no PS: é que António Costa (o da duplicação de sedes da CML, das trapalhadas na Avenida e dos gastos perdulários com o dinheiro de uns terrenos vendidos) e José Sócrates (o da propaganda e da bancarrota) não hesitariam em subscrever tudo o que disse Seguro.
Disse Seguro, logo no início da entrevista, que «quando o PS ganha, ganhamos todos». Os socialistas, sem dúvida.
José Mendonça da Cruz, Corta-fitas
O regresso aos mercados não alivia o desemprego amanhã nem acaba sequer com a austeridade. Mas sem o regresso aos mercados nunca mais seria possível facilitar, de forma sustentada, o financiamento à economia, sem o qual não haverá nunca crescimento, sem o qual não haverá nunca criação de emprego.
Não é o fim, é o principio do fim, mas para quem ainda há pouco jurava que Portugal não voltaria aos mercados nem no final de 2013, um regresso logo em Janeiro é um golpe de mestre. Bem preparado e bem realizado, e que correu francamente bem, com a maioria dos pedidos a virem do estrangeiro, de quem tem dinheiro para investir a longo prazo, e com uma taxa de juro muito razoável, se bem que ainda elevada.
Há muito que não tínhamos boas notícias como esta. Mas há ainda mais. Sem regresso aos mercados a troika não se podia ir embora, pois continuaríamos a necessitar do dinheiro dela. Ora com a troika em Portugal estaríamos sempre na condição de sermos uma espécie de protectorado. É também por isso que esta notícia é importante e é fundamental que se trata de um movimento sustentável no futuro.
Quem desvaloriza a sua importância está mais do lado dos que acreditam que quanto pior, melhor. E dos que estão furiosos por se terem enganado no seu papel de cassandras.
José Manuel Fernandes, Facebook
Durante os governos PS nunca houve um temporal destes. Isto é uma vergonha.
Malditos neo-liberais!
Mercado da dívida visto pela esquerda
Taxa de juro da dívida a 10 anos no mercado secundário.
João Miranda, Blasfémias
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera