Este post do Pedro Correia, no Delito de Opinião, acordou em mim várias memórias assim como uma forte vontade de regressar às Azenhas do Mar. Deixei no Delito um comentário que aqui quero reproduzir. Aqui vai:
Um dia comprei em Andorra uma máquina fotografica que viria a tornar-se um objecto quase mitico da minha juventude. A marca prometia facilidades, Praktica e no fundo tinha inscrito o país de fabrico que pouco tempo depois deixou de existir, DDR.
Com ela aprendi a usar a luz e a velocidade para guardar imagens em películas, que depois de reveladas se guardavam em envelopes especiais que as protegiam da luz e do pó. Os pixeis, esses, chegariam muito mais tarde. Para ver o resultado era necessário esperar algum tempo pela revelação e além disso cada imagem custava mais de 100$00. Tudo isso contava para que cada disparo fosse um momento solene.
Viajou comigo por muitos quilómetros e juntos cruzamos algumas fronteiras, muitas menos do que a nossa vontade exigia, é certo, mas sempre cumpriu na ilusão de que carregando num botão seria possível guardar algumas vivências para sempre.
Um dia nas Azenhas do Mar, exactamente no local onde a imagem que o Pedro aqui colocou foi recolhida, um elemento do obturador, cansado, soltou-se e a máquina deixou de funcionar. Após várias visitas a casas da espacialidade o diagnóstico foi unânime, não valia a pena reparar.
Como quem vê um amigo a partir, consolou-me o facto de que o ultimo disparo tivesse acontecido ali, de frente às Azenhas.
Durante algum tempo pensei que este seria o fim da história, mas alguns anos mais tarde, já no tempo dos pixeis, encontrei uma máquina usada do mesmo modelo à venda. Comprei-a para dar de prenda de anos à minha irmã, alguns anos mais nova e também interessada pela estranha química das imagens congeladas.
Hoje usa-a em simultâneo com uma poderosa máquina digital, e exibe-a com falsa modéstia entre os amigos designers que num silêncio esverdeado a invejam. Ao lado da Praktica BMS, os iPod's, iPad's, iPhone's, etc, todos ficam em segundo plano.
Há pouco tempo perguntou-me se eu tinha a consciência de que a Praktica tinha sido a sua melhor prenda de sempre.
Obrigado Pedro por ter motivado este texto.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera