Actualidade e lugares
Domingo, 12 de Setembro de 2010
A educação em Portugal

 

A poucos dias de ver o meu filho entrar no sistema de ensino deixo-vos um texto do Nuno Lobo que gostei de ler e que copiei daqui. Não é um texto abonatório ao nosso sistema de ensino, mas considero-o realista e por isso preocupante.

 

"O desafio da educação nos EUA e em Portugal; algumas diferenças essenciaisOs resultados dos alunos dos EUA nas avaliações internacionais não são melhores do que os resultados dos alunos portugueses, nem os vários problemas educativos com que os americanos se confrontam são assim tão diferentes dos nossos. Mas existem actualmente algumas diferenças essenciais entre os dois países.

Em primeiro lugar, tanto no discurso político, como no discurso dos diversos agentes educativos, transparece nos EUA uma preocupação muito grande face ao baixo desempenho escolar dos alunos, o que faz com que actualmente, ao contrário do que acontece noutros sectores, haja um consenso considerável entre democratas e republicanos acerca dos caminhos a seguir para alterar o estado da educação. Por cá, não só ficamos com a sensação de que o baixo desempenho dos alunos é uma inevitabilidade, como continuamos a discutir à moda das tribos: escola pública de um lado e escola privada do outro – como se as famílias e os alunos estivessem preocupados com a propriedade e gestão das escolas, e não com a qualidade da educação!

Em segundo lugar, não obstante a escola pública ser dominante nos EUA, de há 20 anos para cá os americanos inovam e experimentam programas escolares alternativos, a maioria deles assentes na ideia de ampliação da escolha da escola por parte dos pais, mediante o financiamento público de escolas não públicas. É o caso, entre outros, das charter schools (escolas com contrato) e dos programas de vouchers (cheque escolar). A par desta vontade de inovar e melhorar o sistema, os EUA desenvolvem estudos rigorosos sobre os efeitos destes programas: efeitos no desempenho dos alunos em geral; no desempenho dos alunos que à partida manifestam maiores dificuldades; até os efeitos de concorrência que estes programas alternativos causam na melhoria do desempenho das escolas públicas tradicionais. Os resultados são muito animadores e não deixarão, certamente, de levar, se não à universalização completa dos programas de escolha, pelo menos à ampliação progressiva destes programas.

E esta é também uma diferença muito significativa entre o que se passa do lado de lá do atlântico e o que se passa do lado de cá. Nos EUA, melhor ou pior, vai havendo acesso aos dados estatísticos de educação, e os investigadores põem as mãos na massa para chegar a conclusões rigorosas e credíveis. Por cá, há ainda quem continue a ficar escandalizado com a publicação anual dos rankings escolares – esse pequeníssimo passo na transparência do sistema – e o Ministério teima em ficar com os dados estatísticos guardadinhos só para si, não vá algum grupo de investigadores começar a analisar o verdadeiro estado da educação e dar a conhecer ao público com que linhas nos andamos a coser. (Lembro que ainda não passou um mês desde a demissão de Paulo Trigo Pereira do lugar de coordenador do Observatório das Politicas Locais de Educação, OPLE, motivada pela recusa do Ministério em facultar aos centros de investigação o acesso às bases de dados estatísticos na posse do GEP, Gave, GGF e MISI.)

A título meramente ilustrativo do que estou a falar, dou um exemplo concreto a partir de uma notícia do NYT do início de Setembro. Há alguns meses, uma equipa de repórteres do LAT e um economista da área da educação pediram e receberam os resultados dos testes de inglês e matemática dos alunos do 1º ciclo do distrito escolar. A ideia era fazer um estudo estatístico, capaz de quantificar o progresso dos alunos de um ano para o outro, tendo em conta o contributo dos respectivos professores. Concluiu-se que os alunos de determinados professores progrediram muito e de outros progrediram pouco. Os resultados foram publicados. As consequências deste conhecimento por parte dos pais são mais ou menos evidentes. É claro que nem todas as pessoas ficaram igualmente agradadas. Não vou analisar agora os méritos ou deméritos do estudo e da política subjacente (pode ler a notícia aqui para ficar a par dos pormenores e reacções), mas apenas salientar que são estes pequenos passos, muitas vezes experiências cujo êxito terá de ser avaliado num segundo momento, que abrem a possibilidade de os EUA virem um dia a situar-se entre os países com melhores resultados educativos, um lugar que eles não se limitam a ambicionar mas antes consideram ser o seu lugar natural.

Por Portugal, continuamos a brincar à educação, com o Ministério a perder tempo e energia com a pequena politica (leia-se: gestão de cada uma e de todas as escolas) em vez de se dedicar à grande politica (leia-se: criar as condições de possibilidade para toda a sociedade contribuir para mudar e melhorar a educação das crianças portuguesas)."


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publicado por Paulo Sousa às 08:00
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Obrigado Laura,Apenas aqui poderia ter chegado pel...
magnífico texto.Cheguei aqui através do "Delito".
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