Hoje é dia de reflexão. Amanhã é um dia em que os portugueses deveriam sentir alegria pelo exercício de um direito pelo qual se lutou durante décadas e, em alguns lugares do mundo ainda se luta. É pena mas encontramos mais facilmente cepticismo, desilusão e medo do que alegria.
Pelo contacto que tenho com um segmento específico e bem conservador dos portugueses, ouvi apenas falar em eleições pela boca de uns poucos, dos quais destaco duas fortes referências ao voto em Cavaco pelo medo dos outros, dos comunistas, dos radicais, da esquerda em geral. E não valeu a pena lembrar a facilidade com que aceitou a lei dos casamentos gay pois a resposta foi pronta: os outros fariam pior.
O conceito de auto-infalibilidade que Cavaco tem de si próprio, que quando se distrai o faz apresentar-se como uma espécie summit da evolução do homo politicus, é serôdio e idiota. Claro que numa segunda volta também eu votaria Cavaco contra o resto da esquerda, e digo 'resto' pois ele é também parte dela. Mas as sondagens garantem-nos que não vale a pena votar nele, pois já ganhou. OK, não leva o meu voto.
Posto isto, resta-me o voto irresponsável num dos restantes dworfs que constam no boletim de voto ou o ineficaz voto em branco.
Confesso que há algo na figura de Fernando Nobre que merece uns minutos de reflexão pré-eleitoral. Chega às eleições vindo de fora da partidocracia, não é fluente no politiquês, tem uma vivência internacional como nenhum outro candidato, foi ostracizado pelos media que gosta de gozar com os cromos (clarifico que todos estes pontos são para mim uma vantagem) mas tem um óbice tremendo... é um activista. Ter um activista como Comandante Supremo das Forças Armadas é algo assustador.
Talvez por culpa dos jornalistas que nunca ousaram perguntar-lhe, Nobre nunca nos informou o que pensa da NATO, nem do papel das nossas forças armadas no seu âmbito. Claro que nenhum dos outros candidatos foi confrontado com essa questão, mas à excepção de Alegre que está encravado entre o PS e o BE, a resposta de qualquer dos restantes candidatos seria previsível.
Talvez em jeito de uma epifania irreflectida, dei por mim a reparar que, da mesma forma que Cavaco não necessita do meu voto, este também não será suficiente para que Nobre ganhe. Além de que, confesso, há um cenário que amanhã me deixaria Alegre: ver Nobre como o segundo mais votado.
O melhor é ir votar cedo antes que isto me passe.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera