A Europa não se está a desmoronar pois nenhum europeu de Lisboa a Helsínquia nem de Atenas a Dublin aceita o regresso ao equilíbrio de forças. Todos nos revemos nos valores europeus da democracia e da liberdade, mas poucos se revêem nas instituições europeias. São necessárias reformas sim, mas os credores da Grécia são os contribuintes europeus e os accionistas e depositantes dos bancos que compraram dívida grega. Se os bancos tivessem caído ficaríamos melhor? Quantos BES teriam de cair para que o Syriza fosse o herói da festa? Quantos milhões teria de Portugal perder para que o senhor Varoufakis merecesse uma estátua? Alguns países europeus perderam mais dinheiro no anterior perdão de dívida à Grécia do que gastam com as reformas dos seus idosos ou com os apoios sociais aos seus cidadãos. Onde é que termina a exigência de solidariedade da esquerda grega?
Ver o mundo a preto e branco em que de um lado estão os bons e dignos e do outro lado os pérfidos e fundamentalistas é intelectualmente cómodo mas demasiado simples para o que se está a passar.
A Europa sempre avançou no passado de crise em crise.
Da esquerda à direita são os radicais que desejam o regresso à Europa do equilíbrio de forças, onde se conta quem tem mais tanques, aviões ou fragatas. Os radicais unem-se quando as crises aparecem. De que outra forma se entende a coligação Syriza partido da esquerda radical com os nacionalistas de direita do governo grego? Ou a alegria da Mme LePen na vitória do Não no referendo grego. São eles que produzem os soundbytes repetidos pela imprensa e que alertam os cidadãos europeus.
É verdade que um dos pilares da construção europeia é a igualdade entre os seus membros independentemente da sua dimensão. Não acompanho o dia-a-dia nem sou entendido nos detalhes da política europeia mas apesar do direito de veto se manter, essa igualdade não se verificará dentro da União e ainda menos dentro do Eurogrupo. A distribuição nacional dos deputados europeus ajuda a que assim seja, mas existem também os directórios. O eixo franco-alemão sempre liderou o projecto e sem assim não fosse não teríamos vivído 70 anos em paz.
Discordo em absoluto com qualquer paralelismo entre a actual hegemonia alemã (que até parece que saiu derrotada na aceitação do plano grego) com o nazismo. Fazê-lo é mostrar que se desconhece a história.
Não ter sido prevista a possibilidade de saída do euro, aquando da sua criação, terá sido um erro, mas todos os países que embarcaram neste ambicioso projecto sabiam que estavam a perder soberania, pois deixavam de poder delinear a sua política monetária e cambial. Nem todos o quiseram fazer. O Reino Unido e a Dinamarca ficaram de fora e não são menos europeus por isso.
Ter o euro como moeda própria tem os seus custos e exigências.
Na semana que antecedeu o referendo estive dois dias em Atenas e um taxista disse-me que ter o euro como moeda era como ter uma amante fantástica mas financeiramente muito exigente. Ele achava de a relação devia terminar e preferia a Grécia fora do euro do que manter uma relação insustentável.
Também acho que o governo grego mesmo tendo aprovado o acordo negociado em Bruxelas, não conseguirá nem desejará cumpri-lo. Dentro de meses, muito poucos ou mais alguns, lá terá de se voltar ao assunto.
Se a Grécia saísse do euro já, de uma forma assistida, passaria alguns anos difíceis, como aliás passará em qualquer cenário, e depois da desvalorizar a sua moeda até à proporção da sua economia voltaria a ser competitiva e a crescer para voltar à normalidade. O adiar deste passo mostra a falta de estratégia dos líderes europeus que estão apenas a navegar à vista.
Para já não vou falar da relação dos cidadãos com o estado, que é diferente em cada país da UE e do mundo, e que está por detrás da incapacidade da Grécia em fazer reformas e cobrar impostos.
Nós também padecemos do mesmo problema embora a uma escala diferente. Mas isso fica para outro dia.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera