O assunto nacional com maior cobertura mediática de ontem foi o protesto das escolas privadas contra os cortes no financiamento decididos pelo governo. Os 110.000 eur anuais por turma serão reduzidos para 80.000 eur, o que corresponde a uma diminuição (ou deverei dizer variação negativa?) de 27%. Em consequência disso algumas escolas irão fechar, mas não todas.
Questionei-me se a redução do financiamento das escolas públicas será da mesma proporção. Não acredito. O instinto de auto-preservação de Sócrates não lhe permite beliscar a coutada do Sr. Nogueira. Não foi bem sucedido quando estava em maré alta e muito menos o seria agora.
Se todo o universo escolar funcionasse em regime idêntico aos dos estabelecimentos que agora protestam, as vantagens orçamentais seriam imensas. A despesa com a educação seria flexível e, lembrando que nove das dez melhores escolas nacionais são privadas, a qualidade do ensino seria superior. Seria o melhor dos dois mundos mas isso colocar-nos-ia numa sociedade neo-liberal. Deus nos livre de semelhante desgraça.
Na conferência de imprensa que deu hoje, a Ministra Alçada, talvez num deslize irreflectido, verbalizou uma ideia que apesar de não ser surpreendente acabou por ser interessante por confirmar um preconceito mal disfarçado.
Segundo nos informou, os valores até agora transferidos permitiam que algumas das escolas «obtivessem elevadas margens de lucro». Lá está, o lucro, o 'mau da fita', o demónio da sociedade socialista. Temos de nos unir para destruir esse monstro.
Nisso o governo é bem sucedido. Estamos quase lá.
"Tomás desistiu da escola sem ter concluído o secundário. Graças ao programa criado pelo Governo para aumentar as qualificações dos portugueses, teve equivalência ao 12o ano em poucos meses e entrou na universidade com uma média de 20 valores, conseguida com apenas um exame de Inglês. Ainda assim, concorreu em igualdade de circunstâncias com todos os outros. Oficialmente, é o aluno com a mais alta nota de candidatura ao ensino superior. Admite que beneficiou de uma injustiça."
Hoje no Expresso
Hoje é o primeiro dia de escola do meu filho, por isso nada mais adequado que aqui deixar uma carta de autoria atribuída a Abraham Lincoln destinada ao professor do seu filho.
"Caro professor,
ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando esta triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja que pode fazer, caro professor."
Abraham Lincoln, 1830
A poucos dias de ver o meu filho entrar no sistema de ensino deixo-vos um texto do Nuno Lobo que gostei de ler e que copiei daqui. Não é um texto abonatório ao nosso sistema de ensino, mas considero-o realista e por isso preocupante.
"O desafio da educação nos EUA e em Portugal; algumas diferenças essenciaisOs resultados dos alunos dos EUA nas avaliações internacionais não são melhores do que os resultados dos alunos portugueses, nem os vários problemas educativos com que os americanos se confrontam são assim tão diferentes dos nossos. Mas existem actualmente algumas diferenças essenciais entre os dois países.
Em primeiro lugar, tanto no discurso político, como no discurso dos diversos agentes educativos, transparece nos EUA uma preocupação muito grande face ao baixo desempenho escolar dos alunos, o que faz com que actualmente, ao contrário do que acontece noutros sectores, haja um consenso considerável entre democratas e republicanos acerca dos caminhos a seguir para alterar o estado da educação. Por cá, não só ficamos com a sensação de que o baixo desempenho dos alunos é uma inevitabilidade, como continuamos a discutir à moda das tribos: escola pública de um lado e escola privada do outro – como se as famílias e os alunos estivessem preocupados com a propriedade e gestão das escolas, e não com a qualidade da educação!
Em segundo lugar, não obstante a escola pública ser dominante nos EUA, de há 20 anos para cá os americanos inovam e experimentam programas escolares alternativos, a maioria deles assentes na ideia de ampliação da escolha da escola por parte dos pais, mediante o financiamento público de escolas não públicas. É o caso, entre outros, das charter schools (escolas com contrato) e dos programas de vouchers (cheque escolar). A par desta vontade de inovar e melhorar o sistema, os EUA desenvolvem estudos rigorosos sobre os efeitos destes programas: efeitos no desempenho dos alunos em geral; no desempenho dos alunos que à partida manifestam maiores dificuldades; até os efeitos de concorrência que estes programas alternativos causam na melhoria do desempenho das escolas públicas tradicionais. Os resultados são muito animadores e não deixarão, certamente, de levar, se não à universalização completa dos programas de escolha, pelo menos à ampliação progressiva destes programas.
E esta é também uma diferença muito significativa entre o que se passa do lado de lá do atlântico e o que se passa do lado de cá. Nos EUA, melhor ou pior, vai havendo acesso aos dados estatísticos de educação, e os investigadores põem as mãos na massa para chegar a conclusões rigorosas e credíveis. Por cá, há ainda quem continue a ficar escandalizado com a publicação anual dos rankings escolares – esse pequeníssimo passo na transparência do sistema – e o Ministério teima em ficar com os dados estatísticos guardadinhos só para si, não vá algum grupo de investigadores começar a analisar o verdadeiro estado da educação e dar a conhecer ao público com que linhas nos andamos a coser. (Lembro que ainda não passou um mês desde a demissão de Paulo Trigo Pereira do lugar de coordenador do Observatório das Politicas Locais de Educação, OPLE, motivada pela recusa do Ministério em facultar aos centros de investigação o acesso às bases de dados estatísticos na posse do GEP, Gave, GGF e MISI.)
A título meramente ilustrativo do que estou a falar, dou um exemplo concreto a partir de uma notícia do NYT do início de Setembro. Há alguns meses, uma equipa de repórteres do LAT e um economista da área da educação pediram e receberam os resultados dos testes de inglês e matemática dos alunos do 1º ciclo do distrito escolar. A ideia era fazer um estudo estatístico, capaz de quantificar o progresso dos alunos de um ano para o outro, tendo em conta o contributo dos respectivos professores. Concluiu-se que os alunos de determinados professores progrediram muito e de outros progrediram pouco. Os resultados foram publicados. As consequências deste conhecimento por parte dos pais são mais ou menos evidentes. É claro que nem todas as pessoas ficaram igualmente agradadas. Não vou analisar agora os méritos ou deméritos do estudo e da política subjacente (pode ler a notícia aqui para ficar a par dos pormenores e reacções), mas apenas salientar que são estes pequenos passos, muitas vezes experiências cujo êxito terá de ser avaliado num segundo momento, que abrem a possibilidade de os EUA virem um dia a situar-se entre os países com melhores resultados educativos, um lugar que eles não se limitam a ambicionar mas antes consideram ser o seu lugar natural.
Por Portugal, continuamos a brincar à educação, com o Ministério a perder tempo e energia com a pequena politica (leia-se: gestão de cada uma e de todas as escolas) em vez de se dedicar à grande politica (leia-se: criar as condições de possibilidade para toda a sociedade contribuir para mudar e melhorar a educação das crianças portuguesas)."
Quando o Estado se intromete permanentemente na esfera privada, pondo e dispondo da vida dos cidadãos como de incapazes se tratassem, ninguém liga a mais um atentado à liberdade.
Segundo o Público de hoje "Crianças obesas com risco para a saúde podem ser separadas de pais que não os ajudem a perder peso".
Não quero com este texto felicitar os pais que não ajudem os seus filhos a perder peso, mas sim apenas perguntar o que se deve fazer quando o mesmo acontece nas Misericórdias e outras instituições em que o Estado toma conta de crianças.
O que fazer quando alguém que toma conta de crianças, que as deve educar e ajudar se tornarem cidadãos capazes de acrescentar valor à sociedade, não cumpre o seu papel? A mensagem que sobra desta medida aponta para o Estado como solução.
Não quero para aqui trazer o caso Casa Pia, um triste exemplo do que o Estado deixa que aconteça, mas pergunto-me se, na mesma medida não seria lógico retirar crianças das escolas quando estas não cumpram na sua missão de ensinar.
Quando o clima de facilitismo que se assiste na Educação é justificado pela 'necessidade' da escola ser inclusiva, quando se assume que a repetência de ano 'é um mal que gera conflitualidade' é natural que o Ministério pretenda acabar com esse 'sorvedouro de esperança'.
Claro que nas entrelinhas da política educativa dos últimos anos os alunos, que não são idiotas, conseguem ler que o trabalho além de não ser premiado também não é exigido.
Como se o mau resultado não chegasse, registo a opinião de Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, que afirma que a prova teve um grau de exigência inferior ao que seria adequado.
A capacidade de cálculo matemático que esta geração recebeu do ensino oficial é mais uma das heranças que a governação socialista deixará após a sua passagem pelos destinos do país.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera