O regresso aos mercados não alivia o desemprego amanhã nem acaba sequer com a austeridade. Mas sem o regresso aos mercados nunca mais seria possível facilitar, de forma sustentada, o financiamento à economia, sem o qual não haverá nunca crescimento, sem o qual não haverá nunca criação de emprego.
Não é o fim, é o principio do fim, mas para quem ainda há pouco jurava que Portugal não voltaria aos mercados nem no final de 2013, um regresso logo em Janeiro é um golpe de mestre. Bem preparado e bem realizado, e que correu francamente bem, com a maioria dos pedidos a virem do estrangeiro, de quem tem dinheiro para investir a longo prazo, e com uma taxa de juro muito razoável, se bem que ainda elevada.
Há muito que não tínhamos boas notícias como esta. Mas há ainda mais. Sem regresso aos mercados a troika não se podia ir embora, pois continuaríamos a necessitar do dinheiro dela. Ora com a troika em Portugal estaríamos sempre na condição de sermos uma espécie de protectorado. É também por isso que esta notícia é importante e é fundamental que se trata de um movimento sustentável no futuro.
Quem desvaloriza a sua importância está mais do lado dos que acreditam que quanto pior, melhor. E dos que estão furiosos por se terem enganado no seu papel de cassandras.
José Manuel Fernandes, Facebook
A comunicação social portuguesa no seu pior. Durante mais de uma semana, vários órgãos de informação, com destaque para o Expresso e para a TSF, deram palco a um tal Artur Baptista da Silva que falaria em nome da ONU e de um grupo de economistas que observaria a Europa do Sul.
Ninguém procurou saber mais sobre o ilustre economista que apareceu vindo do nada e começou a botar faladura, indo até a um Expresso da Meia-Noite. Ninguém se interrogou sobre ele dizer barbaridades como a de que as Nações Unidas terem pedido explicações à Europa sobre as condições da ajuda a Portugal, algo totalmente implausível. Ninguém fez uma busca simples na Internet para tentar descobrir o passado do "génio da economia" que o país desconhecia. Afinal o homem não passará de um burlão. O organismo que diz dirigir não existir. Nas Nações Unidas ninguém o conhece. E quem colocar o seu nome no Google apenas descobrirá que costuma assinar todas as petições da esquerda bem-pensante e esteve na candidatura de Manuel Alegre. O que talvez explique tudo: a nossa comunicação social, ou grande parte dela, só parece andar à procura de quem repita a narrativa dos jornalistas. Ora o que este burlão dizia encaixava perfeitamente na narrativa dominante nas redacções, pelo que ninguém se incomodou muito a investigar a origem do homem durante mais de uma semana.
É triste, mas é verdade.
José Manuel Fernandes, via facebook
boas
és o meu único contacto online
bom ano
boas.. bom ano
que tudo te corra de feição e com intervenção
igualmente
é preciso esperar pela madrugada do ano novo para que o facebook seja um lugar sossegado
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Foi assim que começou uma conversa que poderia ter acontecido na tangente de um qualquer balcão de onde se sirvam bebidas, mas acabou por ser no facebook.
Só por ter acontecido assim, tête à tête, mano a mano, a solo, no imenso ponto de encontro de muitos milhões de pessoas que por sua vez têm biliões de amigos (e é tão cool ter biliões de amigos), já seria um encontro especial. Mas mais do que isso foi também uma feliz coincidência.
Uma vez li algures sobre dois radio-amadores desconhecidos, oriundos de hemisférios distintos, cujas frequências se tocaram aleatoriamente no éter. Depois de começaram a conversar acabaram por falar sobre as coisas que eram para si mais importantes, as mesmas que sem saberem porquê, não partilhariam com os amigos mais previsíveis. Fizeram-no reciprocamente para depois disso se despedirem com um longo e verdadeiro abraço radiofónico. Nunca mais se encontraram.
Não é isso que pretendo que acontece entre mim e o meu interlocutor, mas lembrei-me que esse será o sentimento que terá levado Plutarco a escrever a frase que serve de mote a este blog. O acaso é Deus quando viaja incógnito.
Feliz 2011
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera