Nem todos se lembrarão mas o Estádio de France em St Denis foi construído para o Mundial de 1998 onde a França disputou a final e celebrou a titulo mundial.
Lembro-me de ouvir uma entrevista a emigrante português que trabalhou na construção desse mesmo estádio. Disse que todos os dias em ia trabalhar sonhava em ver ali a nossa equipa a jogar... e a ganhar.
Lembro-me também de não termos participado nesse mundial. Nesse tempo era habitual não nos apurarmos para as fases finais do troféus importantes. Mas a nossa equipa era na altura constituída pela chamada geração de ouro, que tinha sido duas vezes campeã mundial de juniores. Havia muita esperança no apuramento.
Lembro-me de no jogo decisivo do apuramento, contra a Alemanha, termos ficado sem o Rui Costa por cartão vermelho direto mostrado quando já estava a ser substituído. O árbito, Marc Batta, francês, achou que estava a demorar muito tempo a sair de campo. Ficamos fora do mundial e essa expulsão, completamente injusta, foi o momento que me ficou na memória. O Estádio de France ficou dessa vez inacessível para a nossa seleção.
Nos últimos jogos lembrei-me várias vezes deste emigrante, que para mim representa milhões de outros e que hoje, tantos anos depois e que talvez já cá não esteja, viu finalmente o seu sonho realizado.
Depois da derrota do Benfica da Liga Europa, os seus adeptos e dirigentes mostraram a sua pior face e lembraram-me porque é que me merecem pouca atenção.
Todos ficamos encharcados de tanto ouvir dizer que foi uma jornada histórica para o futebol português, mas ainda assim todos reagiram como se o que estivesse em causa fosse apenas mais um troféu nacional.
Gostava de ter ouvido o treinador do Benfica lembrar aos adeptos que a equipa estava de parabéns por ter chegado até aquela fase do torneio e podia acrescentar que se nos próximos cinco anos o SLB repetisse a façanha de chegar às meias-finais, certamente que disputaria três finais e pelo menos conquistaria uma.
Jorge Jesus preferiu encolher-se e chorar lágrimas de crocodilo, seguido também por Luis Filipe Vieira que repetiu as lamurias.
Como já aconteceu no passado, algumas dezenas de inergumenos deram-se ao trabalho de ir esperar a equipa ao aeroporto para os assobiar. Estou certo que não lá punham os pés aquela hora se a sua entidade patronal o solicitasse.
É mais uma imagem do país que temos.
Lamentavelmente a mudança deste tipo de atitudes não consta no memorando da Troika.
Sempre lá estiveram. Mais ao fundo e do lado oposto da segunda circular.
Confesso que não foram poucas as vezes que detestei os 'lagartos'. Assisti a vitórias e a derrotas vermelhas na Luz e em Alvalade. Não me esquecerei do 3-6, nem da derrota na estreia do novo estádio. Já quase não sou do tempo de um fatídico 7-1, mas lembrar-me-ei sempre do golo do Luisão que decidiu o campeonato no ano em fomos treinados por Trapatoni.
Vendo bem, detestei-os por me merecerem respeito. Temi antecipadamente o resultado dos jogos e celebrei deliciadamente as vitórias que lhes conseguimos infligir.
Confesso que gostei (não disse celebrei!) que fossem campeões após dezoito anos de interregno (se alguma vez for confrontado com esta frase vou dizer o meu user foi pirateado).
A picardia com os adeptos sportinguistas faz parte da essência do adepto das águias. Precisamos deles (não é fácil escrever isto).
Hoje ganhamos, mas não consegui celebrar efusivamente.
A derrapagem do Clube já começou há algum tempo e parece que está para continuar.
Mais que o resultado de hoje é triste ver o desnorte de uma instituição cheia de história e com um lugar inquestionável no futebol nacional.
O Sporting dos meus amigos não merecia esta crise.
Ontem disputou-se um jogo de futebol entre a União Recreativa e Desportiva Juncalense e a equipa da Atouguia da Baleia.
Antes do início do encontro, estas duas equipas encontravam-se em segundo e primeiro lugar respectivamente, na 1ªDivisão da Associação de Futebol de Leiria. Tendo o Atougia dois pontos de vantagem, estava em causa a confirmação do primeiro lugar ou o acesso ao primeiro posto.
Importa referir que o plantel da URDJ é o único de toda a divisão que não remunera os seus jogadores. Todas as outras equipas o fazem, algumas sob a forma de remuneração outras a título de compensação de combustível. Todas excepto a URDJ.
Há uns anos fiz parte da Direcção da URDJ e lembro-me da dificuldade que era cumprir com as comparticipações para com os jogadores no dia estabelecido. Algum anos depois, outras Direcções entenderam, e bem, que o a URDJ proporcionava aos seus jogadores a possibilidade de participar num desporto de equipa num clube com uma tradição proporcional à respectiva escala e isso, juntamente com o forte espírito de equipa que sempre se viveu no balneário, deveria ser suficiente para que cada um se sentisse motivado em dar o seu melhor.
Depois disso as finanças da URDJ entraram e velocidade de cruzeiro, o que equivale a dizer que cumprem pontualmente com as suas responsabilidade, e cada treino passou a ser não uma obrigação, mas uma oportunidade de confraternizar com os amigos que Domingo após Domingo jogam com uma farda da mesma cor.
Não há muito tempo assisti a um treino numa noite fria, e regressei a casa convencido de que ali há equipa.
Poucos dias depois numa conversa informal com um dos seus históricos dirigentes, soube que numa outra noite, ainda mais fria, em que chegou a cair uma saraivada de pedraço, todo o plantel se apresentou ao treino.
Regressando ao início do post, importa dizer que no jogo de ontem, o Atouguia iniciou o marcador. Depois do balde de água fria do 0-1, a URDJ, jogando em casa, consegui virar o resultado para 2-1. No fim do jogo celebrou-se o título de Campeão de Inverno.
À noite o plantel juntou o Jantar de Natal da equipa, na sede da Associação, com a celebração da subida ao primeiro lugar.
Estive com eles e foi bonito assistir aos relatos na primeira pessoa dos momentos do jogo. Num canto do bar, com uma bola imaginária, recriou-se as simulações que levaram ao empate, assim como aos dois túneis consecutivos que abriram a porta ao segundo golo. Tudo acompanhado com atenção pelos adeptos, como se de uma repetição se tratasse.
A subida ao primeiro lugar foi assim celebrada até tarde, com garrafas de Beirão e de Favaios que circularam livremente pelo balcão, como que movidas por toques e dribles cheios de jeito, amizade e admiração trocadas entre jogadores e adeptos.
Sinto que assisti a um exemplo do que o desporto tem de melhor, e em que futebol amador deu uma lição ao ditador futebol profissional.
À nossa escala, a única hipótese de notoriedade televisiva seria pela mão do programa 'Liga do Últimos', mas o nosso sucesso impossibilita-nos tal privilégio. É pena, mas não temos pena nenhuma.
Estádio da Luz, 15 de Novembro de 1995
Tinham passado oito anos desde a última participação da Selecção Nacional numa fase final dos grande torneios de selecções. Não estávamos habituados a ver a Selecção A ganhar. Hoje pode ser difícil de explicar, mas o Selecção não era a equipa de todos nós. O hino e da bandeira ainda sofriam do estigma pós-25 de Abril. Ligava-se pouco, havia pouco apoio e os resultados eram medíocres. Tudo era equilibrado.
O preço do bilhete mostra o esforço da Federação em atrair o público. Importa lembrar que qualquer jogo do SLB para o Terceiro Anel custava nessa época no uns 2.000$00.
No entanto, desta vez a atmosfera era diferente. A equipa era composta pelos campeões de Riad e de Lisboa, a geração de ouro do futebol português. Lembro-me claramente do Figo (com o cabelo à Figo), do Rui Costa e de João Pinto.
A caminhada de apuramento até àquele jogo, davam-nos motivo para sonhar. No ar respirava-se a possibilidade de nos apurarmos sem depender dos resultados de outras equipas, o que era inédito.
A República da Irlanda e o seu futebol britânico metiam-nos respeito. Os adeptos irlandeses, ao contrário dos hooligans que acompanhavam as equipas inglesas, eram calorosos e alinhavam no despique alternado de apoio às equipas.
A chuva cerrada marcou o encontro. O velhinho Estádio da Luz não lhe dava confiança e deixava-a cair sobre nós, que desde cedo desistimos de usar os assentos de pedra.
Lembro-me do resultado de três golos sem resposta. O primeiro deles, um fantástico chapéu, do maestro Rui Costa na baliza sul, a sua preferida. O jogo terminou numa euforia digna do que foram os anos 90 em Portugal.
Depois do jogo, a RTP mostrou imagens dos adeptos irlandeses a dar os parabéns e a trocar cachecóis com os adeptos portugueses.
Há dias, quando o PM em directo se tentava convencer a si próprio que o caso Irlandês é diferente do nosso, lembrei-me desta noite de Novembro de 1995 e, sem dar por isso, e concordei com ele. Pois é, há diferenças. Naquela noite deram-nos uma lição de fair-play.
Segundo o jornal Le Figaro, Kim Jong-hun, o treinador da selecção de futebol da Coreia do Norte no último mundial, ao chegar ao seu país, foi humilhado em público, expulso do partido e condenado a trabalhos forçados.
De acordo com o que relata o jornal francês, depois da derrota honrosa por 2-1 contra o Brasil, as autoridades decidiram transmitir em directo o jogo contra Portugal, na que terá sido a primeira transmissão em directo da TV norte-coreana. O resultado do jogo sabemos qual foi, mas como os desafios se prolongam para além do apito do árbitro, o 7-0 teve este desfecho.
Um dia depois de um milhão de catalães se manifestarem nas ruas de Barcelona contra a continuidade da Catalunha sobre a alçada de Madrid, usando palavras de ordem como "Somos uma nação. Nós decidimos" e "Adeus Espanha", a selecção de futebol do Reino de Espanha (constituída essencialmente por jogadores catalães) ganha o campeonato do Mundo de Futebol.
A atravessar uma grave crie económica e social, Espanha vive assim uma existência bi-polar de curta distância entre o Olimpo e o Inferno e sem saber quando é que a sua continuidade como país voltará a ser posta em causa.
Ao ver as imagens da chegada da selecção nacional ao aeroporto, talvez por efeito-sugestão das palavras de ordem que se ouviam em megafone ("Vergonha!, Vergonha!"), fiquei envergonhado.
É incrível como existem portugueses que se dão ao trabalho de sair de casa para estar no aeroporto às 6h00 da manhã para incomodar aquela que, independentemente dos resultados obtidos, é a equipa de futebol que representa o nosso país. Sim, fiquei envergonhado pela recepção.
Digo isto e concordo que Carlos Queiroz não foi feliz nas substituições e até na constituição da equipa e, pior que isso, não tem o dom de cativar as pessoas o que lhe complica a natural ambição de ser um líder natural de um grupo de mais de duas dezenas de jogadores com grande experiência internacional. Quem duvidasse dessa sua incapacidade bastaria ouvi-lo na longa de conferência de imprensa que deu antes de regressar da Africa do Sul. Tem uma retórica muito limitada e os profundos conhecimentos técnicos que terá, poderão ajuda-lo a ser um excelente número dois, tarefa que pelo que sabe, desempenhou com saciedade no Manchester United.
Mas importa ainda lembrar que chegamos ao nível das 16 melhores do mundo (lembro que existem 203 países com soberania reconhecida) o que não é vergonha nenhuma, antes pelo contrário.
Até porque eu sou do tempo em que quando chegavam os europeus e mundiais, íamos apenas ver futebol e não ver a selecção (o que é uma diferença enorme) e isto acontecia porque nunca nos conseguíamos apurar. Importa lembrar que desde 1996 estivemos presentes nas fases finais de todos os grandes torneios de futebol de selecções (à excepção do mundial de 1998) e que eu me lembre, sempre passamos a fase de grupos. Todos sabemos que a nossa Selecção é respeitada e até temida pelos nossos adversários.
Queríamos mais? Claro que sim! Mas isso não faz da nossa Selecção e do seu treinador um grupo de bandidos.
Estaríamos bem melhor se no ensino, na competitividade económica, na justiça, nos níveis de emprego, nos níveis de literacia, … tivéssemos um nível idêntico ao do futebol.
Comparemos a passividade dos portugueses relativa aos muitos abusos e ainda mais carências dos nossos governantes, com o empenho em vilipendiar quem nos representou, insisto, condignamente no Mundial de Futebol.
Estou certo que perante os escândalos consecutivos perpetados pelo nosso PM (licenciatura num domingo, caso freeport, caso PT-TVI, caso Cova da Beira, ... estou certamente a deixar vários casos para trás) nenhuma das pessoas que ali esteve a incomodar a nossa Selecção foi capaz de fazer mais do que encolher os ombros, e isso é prova da magia do futebol e também do tipo de povo que somos.
O difícil apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo deu razão aos que, como eu, não se incluíam no clube de fans de Carlos Queiroz. Depois disso, já na África do Sul, achei que poderíamos ter ganho à Costa do Marfim e que não o fizemos por falta de esclarecimento e de ambição.
Depois do 7-0, resultado que pela dimensão poderá ser enganador, comecei a mudar de ideias.
Sem ser entendido em futebol, acabei por concordar que a inegável experiência dos jogadores é posta ao serviço da estratégia de cada jogo. Em cada jogo a equipa tem uma disposição diferente e a sua história acaba por ser também diferente.
Depois das entrevistas que se seguiram ao jogo com o Brasil, comecei a apreciar o trabalho de Queiroz, e isso foi reforçado pelas entrevistas que deu ontem e hoje, em antecipação ao jogo de amanhã com Espanha. Há claramente optimismo do nosso lado e sinto receio nas entrevistas do treinador e jogadores espanhóis.
Hoje, ao ver o Jornal da Noite, soube que Queiroz convidou para o jantar com a Selecção, nada mais nada menos que François Pienaar, figura que entre nós não é muito conhecida, mas que não é nada mais nada menos que o ex-capitão da Selecção Sul-Africana de Rugby que ganhou o título mundial em 1995.
A história deste título faz parte da história do Rugby mundial. Sendo país organizador, a selecção sul-africana chegou ao Campeonato sem que tivesse de passar pela fase de apuramento, fazendo por isso apenas jogos amigáveis. Durante o período que antecedeu o Campeonato os Spingboks foram humilhados em todos os jogos. A descrença do país na sua equipa era total. Importa lembrar que tudo isto se passa nos primeiros meses de Mandela como Presidente da África do Sul, e que, não será exagerado dize-lo, o país se encontrava à beira de uma guerra civil. O Rugby era o desporto-rei da população branca e o ódio racial fazia com que a população negra festejasse no estádio os pontos sofridos pela equipa do seu país, e fazia que o debate sobre a mudança do emblema nas camisolas fosse um assunto de estado.
Foi nesse ambiente que Mandela chamou o capitão da equipa, o tal François Pienaar de quem vos falo, e lhe pediu que liderasse a equipa, lutasse pelas vitórias e assim o ajudasse a pacificar o país. Entre outros actos simbólicos, foram realizados treinos de preparação para os jogos em bairros de lata de forma a angariar a simpatia da população negra.
O Campeonato começou e, vitória improvável após vitória improvável, os Springboks chegaram à final onde defrontaram a sempre temível selecção dos All Blacks neozelandeses. O título foi ganho nos últimos minutos do jogo e os pontos decisivos foram marcados pelo tal François Pienaar de quem vos falo.
O filme Invictus, sobre o qual já bloguei conta esta história.
Esse tal François Pienaar de quem vos falo, jantou hoje com a selecção portuguesa e depois de terem visto algumas imagens do filme, fez por lhes transmitir três ideias:
- Devem imaginar o que se passa em Portugal hoje e como os portugueses se estão a sentir. Amanhã quando acordarem devem imaginar qual será a sensação de ser campeão do mundo;
- Devem trazer energia positiva para o jogo. As equipas campeãs têm todas uma energia positiva. Os seus jogadores jogam uns pelos outros e lutam por cada tufo de relva. Essas equipas são muito difíceis de bater;
- Devem jogar sem arrependimentos e sem vacilar. Devem jogar o jogo pelo jogo sem qualquer ideia na cabeça para além de ganhar.
Achei a escolhe muito adequada e muito feliz.
Embarquei no espírito e hoje também digo: I got a feeling!!
Arredando (e arreliado por isso) há algumas semanas da blogosfera, foram vários os assuntos sobre os quais tive vontade de postar e que por falta de sitio não o fiz. As reflexões pessoais que os referidos assuntos suscitaram perderam o futuro que o registo escrito lhes garante.
Estando o Mundial 2010 em curso foram várias as metáforas em que já tropecei e que aqui gostava de registar.
Uma delas foi a forma com todos lidamos com este circus romano da actualidade que entretém e anestesia milhões de pessoas pelo mundo inteiro. No caso português (também no espanhol…) o Mundial funciona como a metadona. Não resolve, não compromete, mas alivia.
Fiz um comentário há dias no Albergue Espanhol sobre a metadona futebolística, que aqui passo a reproduzir.
"O dealer para ganhar a confiança do seu protegido teve apenas que dizer umas frases bonitas sobre um prazer infinito e duradouro. As primeiras experiências correram bem, muito bem. Durante essas experiências o dealer mostrou ao futuro junkie que na sua companhia no futuro poderia ser muito feliz, teria dinheiro nos bolsos e viveria a alta velocidade.
Por vezes nos curtos períodos em que não estava sobre efeito do encantamento, o futuro junkie ouvia algumas vozes (sempre pelo seu ouvido direito) que garantiam que a conversa do dealer era perigosa e que este o levaria à ruína. Como é que isso era possível? Quando chegava à hora da diversão o dealer tinha sempre dinheiro para as farras. Ele sabia como fazer as coisas. Com ele havia sempre boa disposição e os seus amigos estavam sempre descansados pois não havia azar que os apoquentasse.
E foi neste clima que as doses de encantamento se foram sucedendo e com o correr do tempo já nem se lembrava da sua vida antes de conhecer o seu dealer, o grande dealer.
No entanto, o seu ouvido direito não deixava de o perturbar. As doses de encantamento começavam a ser insuficientes. O grande dealer, sempre atento aos estados de espírito do seu junkie, repetia ininterruptamente as suas mensagem de entusiasmo e boa disposição. Apesar disso, por vezes irritava-se com tanto alerta, e o junkie suspeitou estar a ser agredido, directamente no seu ouvido direito durante o sono. Desconfiou do dealer e perguntou-lhe se sabia alguma coisa sobre o assunto. Ele logo mostrou que tinha um feitio forte e que não aceitava que desconfiassem do seu optimismo. O junkie logo entendeu que o melhor era não lhe contar mais nada sobre as vozes estranhas.
Um dia o grande dealer juntou muitos amigos e deu uma festa espectacular. Todos estavam entusiasmados e no fim fizeram um brinde. O grande dealer estava inflamadíssimo e encantado consigo próprio. Sem contar com o microfone aberto disse para consigo: Porreiro, pá! A expressão chegou em alto som às colunas de som (compradas a prestações) e a gargalhada foi geral. Todos estavam encantados com ele, e ele adorava ser o centro das atenções.
No entanto, alguns dos amigos do dealer começaram a avisar o junkie que a vida que levada, sem esforço e só com facilidades, era perigosa e que a prazo teria de mudar de trajectória. O dealer quando soube disso juntou, os amigos e o junkie e começou a falar, falar, falar. No final do encontro todos tinham ouvido algumas ideias com que concordavam e outras não. Ninguém notou que, o que ele fazia era apenas dizer uma coisa e o seu contrário para dois públicos em simultâneo, e logo de imediato, dizer o seu contrário e uma coisa de forma a que todos encontravam alguns pontos de ligação. Ninguém notou que todos estavam a ser anulados num jogo de dupla negação.
O encantamento começou a criar habituação e o junkie começou pedir mais coisas além de conversa. O dealer para o acalmar começou a andar com mais notas nos bolsos. Sabia bem que isso funcionava com alguém como o seu protegido, que toda a vida tivera de contar os tostões.
O junkie no entanto começava a ficar cansado de tanto encantamento.
Um dia, os dois encontraram-se numa mesa de café. O dealer estava diferente. Ao contrário do habitual não se mostrava entusiasmado. Disse-lhe que o mundo tinha mudado e que agora não lhe poderia dar mais dinheiro. O junkei tentou saber porquê e, apesar do seu dealer nunca o assumir, entendeu que ele andara a pedir dinheiro emprestado para toda aquela estúrdia e que já ninguém lhe emprestava mais. O dealer tentando justificar-se disse que iria arranjar mais dinheiro, fosse como fosse, desse por onde desse. Nesse momento o junkie, que cada vez mais se sentia deprimido e esmagado pelas vozes que desde o início o tinham avisado do frenesim gastador em que estava a viver, sentiu que as pernas lhe tremiam notou que transpirava abundantemente. O mau estar era geral. Como é que tinha embarcado num conto do vigário?
Perguntou ao dealer se havia alguma forma de ultrapassar aquela situação com dores menos intensas?
O dealer sorriu e disse: Este ano o campeonato mundial da metadona é na África do Sul!!
Ao dizer isto viu que torcia os dedos para que as actuais tormentas virassem boa esperança…
Para que a metadona funcionasse tínhamos de ganhar os jogos!!
Ao fundo ouviam-se vuvuzelas."
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera