Esta semana em Paris dois grunhos entraram na redacção de um jornal e assassinaram 10 jornalistas e 2 policias. Estavam combinados com um terceiro grunho que invadiu um supermercado e fez reféns os seus clientes, tendo vindo a assassinar quatro deles. Mais uma vez o radicalismo islâmico tenta espalhar o terror no mundo ocidental.
Importa dizer que o Charlie Hebdo era um jornal dirigido a um reduzido nicho de mercado e o ateísmo era um seus pilares. Não fosse terem sido alvo há uns anos de um ataque com uma bomba incendiária, seriam uns desconhecidos à escala global. Para a maioria do público francês era apenas um jornal desprezível e provocador. O seus editores, herdeiros do espírito de Maio de 68, desprezavam a sociedade mas ainda assim mereciam protecção especial da república, o que não deixa de ser caricato.
A questão que se coloca é se este tipo de publicação, ou outra, deve ser sujeita a limitações para prevenir problemas futuros, seja lá que isso for. Por isso o debate que levanta é sobre a essência da liberdade de expressão.
Exibindo cartazes dizendo 'Je suis Charlie' o mundo mostrou-se solidário nas redes sociais e nas manifestações que reuniram vários milhões de pessoas um pouco por todo o mundo ocidental. Mais que solidariedade a mensagem foi de defesa da liberdade e dos nossos valores.
Vestindo a camisola de pós-modernos super-moderados surgiram algumas vozes que, condenando o terrorismo, lembraram que os conteúdos do Charlie eram abusivos e por isso eles andavam a pôr-se a jeito. Construíram-se muitas frases à volta desta ideia mas o 'andavam a pôr-se a jeito' está lá sempre. E isto não é mais que reduzir o quão hediondo é o radicalismo religioso, seja ele cristão na Idade Média ou muçulmano no sec XXI.
Limitar os conteúdos dos media ao bom gosto é algo que sempre existiu e existe nas ditaduras. E quem é que é o juiz do bom gosto? Quem é que pode usar a caneta azul? Cada um de nós tem critérios diferentes e se para uns faria sentido banir por exemplo a pornografia, para outros todas as publicações religiosas teriam de deixar de existir.
O pensamento do mundo ocidental formou-se ao longo de séculos. Foi a Revolução Francesa que iniciou a queda do Antigo Regime e um dos pensadores dessa época, Voltaire, disse: “Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”. Revejo-me nesta abordagem e por isso discordo abertamente com qualquer 'andavam a pôr-se a jeito' na análise do que aconteceu. Acrescento dizendo que depois disto passei a adorar o detestável Charlie Hebdo.
Emmanuel Kant foi outro filosofo que contribuiu para o pensamento ocidental. Distinguiu que o que é legal pode não ser moral e vice-versa. O que é moral varia de pessoa para pessoa, ou de grupo de pessoas para grupo de pessoas, mas a lei é universal. Individualmente podemos considerar o aborto, o casamento gay, a eutanásia, etc, como sendo imorais mas aceitamos viver num país em que isso possa ser legal. E isso não é aceite por estes terroristas nem pelos seus instigadores. Tal como na Idade Média e ainda hoje nas ditaduras e nos regimes autoritários essa diferença não existe. Os líderes medievais assim como os dirigentes dos regimes autoritários eram e são donos da moralidade. Por isso temos de colocar no mesmo saco a Inquisição e os clérigos radicais muçulmanos. Uns organizavam autos de fé e os outros apelam ao assassinato de infiéis. O que aconteceu em França foi um auto de fé, não contra uma mulher a quem chamavam bruxa mas contra uns tipos que faziam uns desenhos provocadores e que até tinham pouca tiragem. Quem quiser inventar justificações para os inquisidores, ou para os carrascos que apenas cumpriram ordens, que o faça mas o que assistimos em Paris foi ataque medieval aos valores ocidentais.
Para um bilião e meio de seres humanos, este é um mês especial.
A práctica do jejum ritual é o quarto dos cinco pilares do Islão. Além do jejum, neste período recomenda-se a práctica mais intensa da caridade, a vivência da fraternidade e dos valores familiares.
O facto deste período ser definido pelo calendário islâmico, um calendário lunar, faz com que seja celebrado em diferentes meses do calendário gregoriano. É imensa a informação que se pode encontrar na internet sobre este assunto.
A imagem que o mundo ocidental tem sobre o Ramadão é muito limitada. Não fosse a fraca performance dos jogadores muçulmanos que actuam no futebol ocidental e esta data passaria quase despercebida.
Há alguns anos estive num país árabe durante o Ramadão e fiquei com uma imagem diferente deste mês, que é um mês de festa.
As cidades são esvaziadas dos trabalhadores de origem rural, pois estes deixam o trabalho e juntam-se à família para junto deles celebrar o Ramadão. Isto implica que tudo funcione em serviços mínimos, ou simplesmente não funcione. Faz lembrar o que se passa no período de férias, com a diferença de que cá isso dura três meses. A título de exemplo, sucedeu-me num Hotel ser avisado que não havia água quente pois a pessoa que acendia a caldeira estava fora da cidade a celebrar o Ramadão.
Ao contrário da ideia de punição do corpo que associamos ao jejum, algumas pessoas com quem falei sobre o assunto justificam-no com base em recomendações médicas, ou seja, podemos compara-lo a um mês de dieta. Alguém discute as suas vantagens?
Ao contrário da ideia de oração e de penitência que associamos ao Ramadão, não deixa de ser incrível a animação que invade as ruas logo que o sol se põe. As esplanadas ficam cheias, os vendedores de comida estão por todo o lado, a música entoa pelos altifalantes do vendedores de cassetes e de CD's, as crianças brincam e correm, alguns jovens dançam, os idosos jogam dominó e outros jogos de mesa e aos mais pobres é oferecida comida e esmolas.
Entendi que almoçar no Ramadão fosse uma falta de respeito pelos muçulmanos e seguindo a máxima 'em Roma faz como os romanos' tive de fazer umas sandes e comê-las enquanto conduzia, sempre com a preocupação de quando me cruzava com outro carro não ser apanhado com a boca na botija, quer dizer, da sandoca.
Tive um guia que me explicou que estão dispensados do jejum as crianças, os idosos e os doentes. Pediu-me para parar ao anoitecer para rezar e depois disso aceitou um iogurte.
A ideia que fazemos do mundo árabe e do Islão é deturpada por muito ruído noticioso, facto que interessa, e muito, a uma extremamente reduzida minoria de islamitas radicais, que ganha relevo quanto maior for o atrito entre o mundo ocidental e o mundo árabe. Têm ambições de poder e para isso não hesitam em aliciar jovens para se suicidar em nome de uma religião que apela à paz e ao entendimento entre os povos.
Texto já editado aqui.
Muito já foi dito e escrito sobre o massacre de um psicopata na Noruega, mas registo dois momentos da terrível novela que se encontra em fim de ciclo.
O primeiro prende-se com a primeira explicação avançada pela imprensa. A imaginação de alguns jornalistas noticiou que o atentado se devia ao envolvimento norueguês na Guerra do Afeganistão. A lógica é simples e linear, quem se mete com o islão leva. Nas entrelinhas deste raciocínio, apenas para quem o quiser ler, pode encontrar-se uma legitimação para o sempre ilegítimo terrorismo. É uma imagem dos media que supostamente nos servem. No seu melhor.
O segundo registo, mas com destaque, foi a elevação com que as autoridades norueguesas lidaram com a tragédia. Uma semana após o atentado Jens Stoltenberg, o primeiro-ministro quis assinalar a data escolhendo para o ponto alto da cerimónia a maior mesquita de Oslo. Ali discursou sobre democracia, multiculturalidade e tolerância. Dessa forma mostrou-nos aquilo que já sabemos, e que é: esses três conceitos são a resposta civilizada para o que já todos assumimos com um facto e que é o chamado choque de civilizações.
A escolha entre a barbárie e a civilização cabe-nos a nós.
Passados nove anos do 11 de Setembro, confirma-se o que alguém disse logo após o ataque a NY, o mundo mudou nesse dia.
Após as intervenções no Afeganistão e no Iraque, é óbvio que apenas a primeira destas fez sentido. A esta distância é fácil concluir que o esforço dispendido pelos EUA e seus aliados na antiga Babilónia teria tido mais frutos se tivesse sido concentrado no Afeganistão assim como em algumas regiões do Paquistão, conhecidas por Zonas Tribais, onde as autoridades formais não tem poder efectivo. É nestas Zonas Tribais que os terroristas recrutam e treinam jovens para combater a civilização ocidental. Depois do 11 de Setembro ficamos a saber que esta ameaça é efectiva.
Os governos dos países da Nato, que dependem dos respectivos eleitorados, sentem falta de apoio da opinião pública para dispender o esforço necessário para eliminar esta ameaça.
Ao contrário do sentimento para com o que se passa muito longe, verificam-se alguns sinais de intolerância para o que está próximo, e que é o vizinho diferente, especialmente para com os muçulmanos.
Não sei o que se irá passar com a ameaça da queima do Corão por parte de um qualquer pastor radical na Flórida, mas a confirmar-se será exactamente o contrário do que necessitamos. Os radicais islâmicos, uma minoria ávida de poder, não hesitarão em usar este facto para incentivar ainda mais os seus seguidores. Além além da Real Politik sabemos que a queima de livros esteve sempre associada a períodos negros da história da humanidade e só quem estiver interessado nisso pode apoiar a ideia.
Da mesma forma, acho que o impedimento em construir uma Mesquita numa área próxima do Ground Zero, seria aproveitado pelos radicais islâmicos e por isso não seria desejável. Pelo contrário, a autorização da sua construção, mostra ao Islão e ao mundo que o Ocidente respeita todas as crenças e daí sobra uma lição de tolerância, palavra que não rima com 11 de Setembro.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera