Actualidade e lugares

Sexta-feira, 23 de Julho de 2010
Estará o fim dos boys previsto na Revisão Constitucional?

"O modo como o país está a ser governado foi largamente debatido no Parlamento. Mas às vezes, para lá dos discursos, deparamos com factos que, apesar de parecerem insignificantes, falam por si.

Há certos atos que se tornam demasiado rotineiros. Já ninguém liga aos job for the boys, mas eles aí continuam a asfixiar o Estado, a miná-lo como doença.

Vem isto a propósito da nomeação de José Apolinário como diretor-geral das Pescas. Conheci-o há muitos anos, quando foi eleito líder da JS. Nada me move contra ele, mas não me apercebo das suas qualidades para um cargo que jamais teria não fosse o caso de ter sofrido uma derrota nas autárquicas, em Faro. Pode alegar-se que ele já tinha sido secretário de Estado das Pescas, é verdade! Mas este é um cargo político e aquele é um cargo técnico. Apolinário, licenciado em direito, entrou no Parlamento com 23 anos, foi membro do Governo e deputado europeu. Nunca teve uma profissão que não fosse a política. Do acervo das suas intervenções em Plenário, conclui-se que a sua qualificação para as pescas está no facto de ser algarvio e ter, portanto, nascido à beira-mar. É certo que falou sobre o assunto na AR (trabalha bastante, reconheço). Mas falou também sobre hospitais, linguagem gestual e muitos outros assuntos...

Nada me move contra ele e não sou cínico se disser que pode, até, ser um bom diretor-geral. O que me leva a chamá-lo para esta crónica é o facto de ele ter substituído (por decisão do ministro António Serrano) um homem que era diretor-geral das Pescas desde 1998, de nome Eurico Monteiro. Este é licenciado em Direito e um histórico técnico superior da Direção-Geral das Pescas. Aliás o Governo reconhece-lhe competência, pois já o nomeou assessor especializado no gabinete do secretário de Estado das Pescas e pretende que ele vá para a REPER (representação de Portugal junto da Comissão Europeia). Mas, para isso tem de tirar da REPER Rui Ribeiro do Rosário (economista e técnico superior do Ministério da Agricultura com obra publicada) indicado para Bruxelas por Jaime Silva e confirmado por Luís Amado em setembro último, por mais três anos. Luís Amado quis resistir à nomeação de Eurico, que vai chegar à idade da reforma a meio da comissão, mas acabou por fazer a vontade ao atual ministro. Assim, sai Rui Rosário, com direito a indemnização, provavelmente, e entra Eurico.

E aqui está uma história igual a tantas outras. Um político no desemprego tira o lugar a dois destacados técnicos do Estado.

Esta sucessão irracional de nomeações, que há por aí aos centos, foi noticiada por Isabel Arriaga e Cunha, correspondente do "Público" Bruxelas. É muito significativa do estado da nossa nação e do modo como somos governados.

Não necessita mais palavras..."

 

Texto publicado na edição do Expresso de 17 de julho de 2010

 

O caso que Henrique Monteiro aqui relata é um, entre muitos outros, que têm acontecido durante a governação PS, mas que sabemos também ter sido muito frequente nos governos PSD.

Os boys fazem parte do regime.

Sendo o prémio de consolação daqueles que colaboram com o respectivo partido mas não convencem o eleitorado, a colocação de filiados, muitas vezes sem qualquer experiência na área em que são colocados, é algo que ajuda a corroer a já muito degradada imagem dos políticos.

Li algures que em Itália, um país em que a classe política tem uma  imagem especialmente negativa, as instituições funcionam (Tribunais, Universidades, Hospitais, Administração territorial, …) com uma razoabilidade surpreendente, e isso deve-se ao facto de muitos dos lugares de topo na administração pública serem ocupados por funcionários que permanecem no seu cargo mesmo quando mudam os governos. Assim consegue-se que exista um fio condutor ao longo do tempo e não se assiste à destruição de todos os projectos que estejam em marcha, sempre que um novo governo entra em funções.

Será que as alterações à Constituição prevêem algo para evitar isto?

Estou em crer que quando o próximo governo entre em funções (e que previsivelmente será PSD), tudo fique na mesma.

Passos Coelho pode ter boas intenções, mas existe muita gente no seu partido a fazer contas de cabeça, a fazer mudanças no seu dia-a-dia e a colocar-se em bicos dos pés mostrando-se disponíveis para o que calhar. E não aceitarão ficar de fora.

A existência dos boys depende exactamente dos deputados. Todos sabemos que aquando nas listas, basta um pouco de azar para que se fique de fora. Por isso nada como fazer um 'seguro contra sinistros' na vida política. A existência de boys, é por isso uma espécie com a continuidade garantida.



publicado por Paulo Sousa às 08:00
link do post | comentar | favorito

pesquisar
 
O autor

últ. comentários
Obrigado Laura,Apenas aqui poderia ter chegado pel...
magnífico texto.Cheguei aqui através do "Delito".
Lembram-se de quando as taxas ultrapassaram os 7% ...
Se o discurso do sr burlão da ONU fosse de apoio a...
Um título alternativo: "A realidade não é uma cons...
arquivos

Outubro 2022

Setembro 2019

Maio 2019

Março 2019

Dezembro 2018

Maio 2018

Abril 2018

Dezembro 2017

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Julho 2015

Janeiro 2015

Novembro 2014

Julho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Fevereiro 2014

Outubro 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

links
Leitura em curso


O Futuro e os seus inimigos

 

de Daniel Innerarity

 

Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental

 


Teorema

 


 

 




 

Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos

 

 

de José Manuel Lopes

 

 

 

O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.


Quimera

tags

25 abril

31 da armada

albergue espanhol

alemanha

alpes-maritimes

alsacia

andorra

angola

ano novo

antuerpia

asseio

auschwitz

austria

be

belgica

berlim

blasfemias

blogs

cachimbo de magritte

california

canterbury

cinema

coast to coast

colmar

constituição

copenhaga

corta-fitas

crise

cristianismo

d day

daniel innerarity

delito de opiniao

democracia

desporto

dinamarca

direita

eleiçoes

emigraçao

ensino

escocia

espanha

esquerda

estado

eua

europa

expresso

facebook

filatelia

filosofia

fmi

forte apache

frança

futebol

futuroscope

governo ps

governo psd

grand canyon

imagens

inglaterra

inter rail

irao

islão

jornal de leiria

jornal i

juncal

justiça

las vegas

liberalismo

liberdade

londres

madeira

moçambique

monte s michel

natal

omaha beach

orçamento

overprint

pais de gales

paris

polonia

portugal

ppc

praga

presidenciais

ps

psd

publico

recortes

reino unido

rep checa

route66

rugby

san francisco

sindicatos

socialismo

socrates

suiça

teerao

ue

yorkshire

todas as tags