Seria surpreendente mas muito positivo que PPC fosse além destas declarações. Se retirasse a confiança política a AJJ, assumiria o risco de perder o apoio parlamentar dos deputados PSD Madeira mas mostraria ao país que finalmente tínhamos um PM em quem se podia confiar. No momento seguinte poderia dirigir-se a Seguro e lamentar o orgulho que este declarou ter na obra deixada por Sócrates.
Os grandes políticos seguem os princípios, correm os riscos das consequências e moralizam a sociedade mostrado que a política pode ser algo nobre.
PPC: Agora é a minha vez!!
Esta é a frase que fica do debate.
Já várias vezes disse que Pedro Passos Coelho não me entusiasma, mas assumo que gostaria bastante de estar enganado.
Ao contrário do que muitos dos esclarecidos analistas que têm avaliado como desastrosa a estratégia de negociar a abstenção ao OE com o governo (não estamos a falar de um voto favorável), parece que PPC está a conseguir levar a água ao seu moinho. Pelo caminho soube lidar com a retirada de apoio dos chamados notáveis do partido, e até de Angelo Correia, o seu mentor político, mostrando assim alguma teimosia e até coragem política.
Os mesmos analistas também já tinham criticado PPC pelo momento escolhido para o lançamento da revisão constitucional, que lhe terá custado alguns pontos nas sondagens.
Segundo a sondagem da Universidade Católica divulgada esta semana, o PSD descolou do empate recente e subiu para os 40% das intenções de voto, enquanto o PS desceu para 26%, valor que já não verificava desde o final dos anos 80.
Olhando para imagem acima o que imediatamente pensei foi que com a arrogância que o PS (Partido Sócrates) nos tem habituado, o espaço a cinzento entre as bancadas laranja e rosa terá de ser ocupado por stewards.
Perante estes dados, que surgem exactamente na sequência da dita negociação do OE, os mesmos sempre infalíveis analistas dirão que tudo resulta de um acaso e da incompetência do Governo, até porque em democracia a oposição nunca conquista o poder mas é quem está no poder que se deixa derrotar.
Mas enquanto eles ridicularizam a estratégia do PSD, PPC além de ter lançado a revisão constitucional, afirmou há dias que "há direitos adquiridos que o deixam de ser quando o Estado não os puder resolver". Apesar de óbvia esta declaração merece um destaque que os media não lhe reconheceram. Ao violar a fronteira do politicamente correcto em matérias que nenhum político ousou beliscar nas últimas décadas, PPC assumiu que tem de se mexer nos direitos dos intocáveis, e a revisão constitucional está em curso. Dessa forma ganha legitimidade para o fazer caso venha a ser eleito, o que a cada dia que passa se torna mais inevitável.
Independentemente da sua capacidade levar a cabo as mudanças necessárias para que o país volte a devolver a economia à iniciativa privada e assim volte a criar a riqueza para conseguir pagar as dívidas criadas pela bebedeira socialista que vivemos nos últimos 15 anos, o que o eleitorado não duvida é que o canário canta bem (opinião com a qual nunca concordei) mas está a dar cabo da gaiola e por isso tem de se escolher outro pássaro para o seu lugar. Saiu-nos muito caro e demorou muitos anos mas espero que esta semana tenha marcado o ponto de viragem.
Quem duvidar, veja esta avaliação do desempenho do Governo, com 80% dos inquiridos classificam como Mau e Muito Mau.
Olhando para a auto-estrada sem portagem que se abre dia após dia para que Pedro Passos Coelho chegue a Primeiro-Ministro, questiono-me se não deveria o PSD tomar as rédeas dos acontecimentos e em vez de gerir calendários eleitorais. Fazer algo pelo país hoje é diferente de o fazer daqui a um ano ou dois. A realidade de hoje é diferente do que será 2011 ou 2012 (La Palisse não diria melhor) e o país sabe que é necessário inverter a trajectória. Há que fazê-lo quanto antes. Se os dias corressem linearmente sem perturbações nunca um vulcão esquecido na Islândia interromperia o quotidiano de meio globo, nem o Tsunami no extremo oriente teria acontecido. E no entanto, sem ninguém os esperar, aconteceram. Achará o PSD que tem todas as variáveis no bolso?
Será que deixando o PS cozer em lume brando não estará a ser demasiado cínico para um partido que quer ser alternativa?
Claro que todos gostamos de assistir ao estertor político de Sócrates, que todos os dias nos brinda com uma nova sessão de break-dance dentro de uma poça de ridículo. Mas o tempo passa e, como aqui diz o Eduardo, estamos apenas a deixar passar o tempo, sem nada fazer. Não faz sentido. A história mostra que os líderes visionários foram capazes, eles próprios, de marcar o quotidiano dos outros e não o contrário.
Santos Silva avisou há dias: PSD tem uma agenda neo-liberal de desmantelamento do Estado Social.
Sabemos que Santos Silva gosta de malhar na direita e, por isso, Pedro Passos Coelho mesmo em silêncio seria um alvo apetecível.
O 'malhador de serviço' descansa-nos dizendo que o PS, pelo contrário, tem uma agenda da esquerda democrática que pretende, ele sim, desenvolver e sustentar o estado providência.
José Sócrates alarga o âmbito das criticas à direita e introduz a palavra 'ideologia' nas diferenças o PS e o PSD, o que não deixa de ser uma inovação arrojada, até porque, se olharmos com atenção, é exactamente o PS que está a promover cortes nas remunerações e nos benefícios sociais (i.e. subsídios de desemprego e alargamento da idade da reforma). Estas medidas que o governo justifica serem tomadas de forma a garantir a sustentabilidade do Estado Social, se fossem tomadas por um governo PSD, seriam claramente neo-liberais. É nesta falta de simetria retórica, e no limite de seriedade, que reside o que resta da governação de Sócrates.
Engraçado é lembrar Mario Soares há dois meses a elogiar o sentido de estado de Pedro Passos Coelho.
Seguindo o repto do Jornal de Leiria, transporto esta questão aqui para o Vale do Anzel.
Saúde e educação gratuitas fora da constituição?
"O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, defendeu em entrevista ao Diário Económico que a constituição deve deixar de contemplar a Educação e a Saúde como tendencialmente gratuitas e suportadas pelo Estado. Segundo Passos Coelho, deve-se acabar com um Estado que “enfia pela goela abaixo dos portugueses o social que cada Governo quer” até porque, afirma ainda, na prática são cada vez mais os portugueses que recorrem aos hospitais e escolas privados, acabando por pagar duas vezes.
O líder do PSD garante, no entanto, que “o fim da Educação e Saúde tendencialmente gratuitas não significa que o acesso a estes serviços será deteriorado, antes pelo contrário”.
Que comentário lhe merece este assunto?"
Pedro Passos Coelho assume-se sem pudor como um liberal. No nosso país isso é realmente inovador e, no meu entender, louvável. Se procurarmos entre os parceiros europeus, os que menos sofreram com a crise e que mais rapidamente estão a sair dela, encontraremos exactamente aqueles em que o Estado tem menor peso. Se pelo contrário procurarmos os Estados-Membros menos liberais e com maior peso do Estado na economia, encontramos exactamente a Grécia e Portugal no topo desse ranking. Perante estes factos, que são inegáveis, a esquerda tuga exige que o Estado controle ainda mais o dia-a-dia dos portugueses (veja-se o levantamento do sigilo bancário) e lança ainda mais proibições e obrigações.
De facto, perante o muro de betão que avança a toda a velocidade na nossa direcção, importa mudar de rumo e dar mais espaço à criatividade dos cidadãos e das empresas. Mais liberalismo precisa-se.
Há muito que sinto que liberdade no nosso país ficou, depois do 25 de Abril, refém da esquerda. A esquerda bacoca chega a emocionar-se quando cantam as cantigas da revolução, mas quase lhes saem os olhos das órbitas quando alguém diz que o Estado controla demasiado a sociedade.
Mas será que essa mudança de rumo se deve iniciar por alterações à constituição? Sobre este ponto discordo da sequência. Ao lançar o debate desta forma Passos Coelho arrisca-se a comprar uma guerra para a qual sabe como entra (como reconhecido próximo PM do país) e não sabe como sairá dela.
Da mesma forma que o facto da saúde não ser gratuita no nosso país (a quem acreditar nisso pergunto se da última vez que foi ao dentista recorreu ao SNS) coexiste com essa referência na lei fundamental, o rumo do país pode ser alterado sem que se comece por acordar fantasmas e recalcamentos da esquerda reinante.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera