O difícil apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo deu razão aos que, como eu, não se incluíam no clube de fans de Carlos Queiroz. Depois disso, já na África do Sul, achei que poderíamos ter ganho à Costa do Marfim e que não o fizemos por falta de esclarecimento e de ambição.
Depois do 7-0, resultado que pela dimensão poderá ser enganador, comecei a mudar de ideias.
Sem ser entendido em futebol, acabei por concordar que a inegável experiência dos jogadores é posta ao serviço da estratégia de cada jogo. Em cada jogo a equipa tem uma disposição diferente e a sua história acaba por ser também diferente.
Depois das entrevistas que se seguiram ao jogo com o Brasil, comecei a apreciar o trabalho de Queiroz, e isso foi reforçado pelas entrevistas que deu ontem e hoje, em antecipação ao jogo de amanhã com Espanha. Há claramente optimismo do nosso lado e sinto receio nas entrevistas do treinador e jogadores espanhóis.
Hoje, ao ver o Jornal da Noite, soube que Queiroz convidou para o jantar com a Selecção, nada mais nada menos que François Pienaar, figura que entre nós não é muito conhecida, mas que não é nada mais nada menos que o ex-capitão da Selecção Sul-Africana de Rugby que ganhou o título mundial em 1995.
A história deste título faz parte da história do Rugby mundial. Sendo país organizador, a selecção sul-africana chegou ao Campeonato sem que tivesse de passar pela fase de apuramento, fazendo por isso apenas jogos amigáveis. Durante o período que antecedeu o Campeonato os Spingboks foram humilhados em todos os jogos. A descrença do país na sua equipa era total. Importa lembrar que tudo isto se passa nos primeiros meses de Mandela como Presidente da África do Sul, e que, não será exagerado dize-lo, o país se encontrava à beira de uma guerra civil. O Rugby era o desporto-rei da população branca e o ódio racial fazia com que a população negra festejasse no estádio os pontos sofridos pela equipa do seu país, e fazia que o debate sobre a mudança do emblema nas camisolas fosse um assunto de estado.
Foi nesse ambiente que Mandela chamou o capitão da equipa, o tal François Pienaar de quem vos falo, e lhe pediu que liderasse a equipa, lutasse pelas vitórias e assim o ajudasse a pacificar o país. Entre outros actos simbólicos, foram realizados treinos de preparação para os jogos em bairros de lata de forma a angariar a simpatia da população negra.
O Campeonato começou e, vitória improvável após vitória improvável, os Springboks chegaram à final onde defrontaram a sempre temível selecção dos All Blacks neozelandeses. O título foi ganho nos últimos minutos do jogo e os pontos decisivos foram marcados pelo tal François Pienaar de quem vos falo.
O filme Invictus, sobre o qual já bloguei conta esta história.
Esse tal François Pienaar de quem vos falo, jantou hoje com a selecção portuguesa e depois de terem visto algumas imagens do filme, fez por lhes transmitir três ideias:
- Devem imaginar o que se passa em Portugal hoje e como os portugueses se estão a sentir. Amanhã quando acordarem devem imaginar qual será a sensação de ser campeão do mundo;
- Devem trazer energia positiva para o jogo. As equipas campeãs têm todas uma energia positiva. Os seus jogadores jogam uns pelos outros e lutam por cada tufo de relva. Essas equipas são muito difíceis de bater;
- Devem jogar sem arrependimentos e sem vacilar. Devem jogar o jogo pelo jogo sem qualquer ideia na cabeça para além de ganhar.
Achei a escolhe muito adequada e muito feliz.
Embarquei no espírito e hoje também digo: I got a feeling!!
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera