Simpático, Seguro e oco
António José Seguro esteve bem na entrevista que ontem deu a José Gomes Ferreira, no Negócios da Semana. Esteve seguro, cordato, simpático, fluente. O problema de Seguro não é Seguro, o problema de Seguro são mesmo as ideias, umas más, outras más e irrealizáveis.
Há, primeiro, a ideia que Seguro tem de que todos os sucessos políticos e financeiros obedecem a sugestões antigas dele, e a total falta de compreensão do mesmo Seguro sobre os tempos políticos e a necessidade de dar passos para atingir objectivos.
Diz Seguro que foi ele que disse que União Europeia e Banco Central Europeu deviam ter um papel mais activo na resolução da crise. Seguro acha que o papel mais activo de UE e BCE, agora, não tem a ver com o caminho prévio de austeridade, disciplina e consolidação orçamental na Europa.
Diz Seguro que era ele que recomendava há meses que fosse contraído um empréstimo de 5 mil milhões junto do Banco Europeu de Investimento para ajudar as PMEs, sem explicar como seria possível antes do cumprimento das metas da troika, e esquecendo os 4 mil milhões que acabam de nos chegar após cumpridas as metas e exactamente para esse propósito.
Há, depois, as propostas de Seguro.
Diz Seguro que a dívida pública continua a crescer, mas recusa Seguro sequer falar sobre cortes, porque, diz ele, «cortar não resolve nada», e que não se pode reduzir as prestações sociais, nem admitir «o empobrecimento». Então como há-de ser? Ora, pelo crescimento, que na cabeça de Seguro há-de ultrapassar os 4% do PIB (supõe-se que com os exactos rigor e políticas de crescimento com que Sócrates fez crescer a ruína). E pode Seguro garantir que, sendo governo, o país cresce? Não, Seguro diz que não pode fazer promessas dessas.
Diz Seguro que para chegar aos 2,5% de défice em 2014 não se pode ir por aquilo a que ele chama «a austeridade custe o que custar» (os nossos credores chamam-lhe «necessária»), mas antes pela «defesa de políticas públicas que protejam os cidadãos» (o que quer que isso seja).
Reina, pois, o consenso no PS: é que António Costa (o da duplicação de sedes da CML, das trapalhadas na Avenida e dos gastos perdulários com o dinheiro de uns terrenos vendidos) e José Sócrates (o da propaganda e da bancarrota) não hesitariam em subscrever tudo o que disse Seguro.
Disse Seguro, logo no início da entrevista, que «quando o PS ganha, ganhamos todos». Os socialistas, sem dúvida.
José Mendonça da Cruz, Corta-fitas
Câmara Municipal de Lisboa contratou uma instalação artistica por 229.637 euros, sem concurso público. Segundos alguns relatos parece ser uma árvore de natal.
O autor do projecto descreve-o como 'interactivo' e acrescenta que 'as pessoas são a árvore'. Disse ainda que "neste período de crise em que há uma certa desvalorização das pessoas, achei interessante valorizá-las".
Ora aí está uma excelente forma de valorizar as pessoas só alcançável à elite dos sensíveis sociais.
Pena que as pessoas, essa entidade vaga e abstrata, que a Câmara e o artista pretendia valorizar são também os contribuintes que além dos muitos milhões que devem à Troika têm agora mais 229.637 euros para pagar.
Nas mão destes senhores o espirito de natal fica pelas horas da morte...
Boa Costa!!
A auditoria ao modelo de gestão, financiamento e regulação do sector rodoviário, hoje publicada, apresenta conclusões que apontam, de forma inequívoca, para a existência de um comportamento deliberado do Governo liderado por José Sócrates (e em que era Secretário de Estado Paulo Campos) de sonegação de informação ao Tribunal de Contas e de violação de elementares interesses do Estado. Mais, e em concreto, tal Governo terá promovido a celebração, no âmbito das PPP, de contratos paralelos que importaram o agravamento das condições financeiras a suportar pelo Estado em 705 milhões de euros. A confirmar-se tal situação, todos devem assumir as suas responsabilidades. Desde logo, a Procuradoria-Geral da República, a quem se pede que, por uma vez, cumpra com diligência e competência as suas obrigações, promovendo a investigação que se impõe para determinar a viabilidade da responsabilização, em primeira linha, dos membros desse Governo envolvidos neste esquema predatório do erário público. Mas, também, das concessionárias e entidades bancárias envolvidas na assinatura dos contratos paralelos, cujas consequências e intuitos não podiam desconhecer. Por outro lado, o PS tem a estrita obrigação de tomar uma posição clara sobre este assunto, uma vez que é o partido que suportou politicamente esse Governo e tem como militantes e deputados da sua bancada parlamentar os autores de tais actos. A gravidade da matéria não permite que António José Seguro a ignore ou a desvalorize, sob pena de comprometer irremediavelmente qualquer réstia de credibilidade. Por último, o actual Governo deve ser consequente com os factos apurados, recusando-se a efectuar qualquer pagamento previsto nos ditos contratos paralelos e promovendo a desvinculação jurídica do Estado português de quaisquer obrigações ali previstas. Se isto não for assim, teremos de concluir que Ali Babá teve muita sorte pois só teve de enfrentar 40 enquanto os portugueses se debatem, a cada dia, com muitos mais.
Rui Rocha, Delito de Opinião
Caprichosa realidade
São indisfarçáveis os arrepios de excitação dos cúmplices ou protagonistas da desgovernação das últimas décadas com manchetes tipo “o regresso dos indignados”. No caso é à Puerta del Sol em Madrid, mas poderiam referir-se às dezenas de campistas no Parque Eduardo VII ou a um qualquer grupelho de alienados na Praça Luís de Camões. O “cheiro a sangue” provoca uma reacção pavloviana no jornalismo tuga. Talvez seja afinal o caos a ignição da tão proclamada “Agenda do Crescimento”... nos primeiros tempos até ajuda a vender jornais.
A montante de tudo isto está o enorme equívoco que constitui para a Democracia, a proverbial insubordinação do regime à “realidade”. Como referia o historiador Rui Ramos Sábado na sua coluna do expresso (nutro infinitamente mais apreço por um analista político que consagre a sua vida à investigação da História) “a democracia não é só vontade e representação, esta não pode ser a negação da realidade”, uma perspectiva que fatalmente constitui a sua própria condenação. Acontece que "os cidadãos ocidentais foram educados na crença de que a realidade é uma construção ideológica, e que portanto, pelo singelo expediente de "fazerem ouvir a sua voz" está aos seu alcance tornar as coisas e as pessoas no que mais lhes convém." De facto, "os políticos" teimam vender promessas impossíveis para vencer eleições e foi essa lunática estratégia mais o crédito barato que nos trouxe à falência. Uma estratégia que descredibilizou o regime e hoje coloca em risco a nossa liberdade, à mercê de qualquer grupelho marginal mais aguerrido ou violento.
De facto acabou o dinheiro fácil, o emprego por decreto e o capitalismo popular que manteve as hostes expectantes ou acomodadas. Acabaram-se as certezas e é muito provável que esta ficção chamada Europa se desmorone mais cedo do que possamos imaginar. O colapso da moeda única encarregar-se-á disso.
Em vez de se atirar gasolina para o fogo, por estes dias deveríamos apelar aos valores mais perenes, assumindo-se reforçada a responsabilidade de defender o que se possa ainda salvar: a liberdade. Hoje o único apelo realista é ao estoicismo e sentido patriótico do cidadão. Citando uma vez mais Rui Ramos: “o rei Canuto mostrou um dia que não mandava nas ondas do mar*. Os manifestantes e eleitores europeus precisam de perceber que eles também não”. Uma inevitabilidade que abrange os socialistas portugueses.
* William J. Bennett O Livro das Virtudes
João Távora, Corta Fitas
"Um mistério nas rendas das PPPs
Tenho andado a pensar neste gráfico que o Luís partilhou connosco…
…e há uma coisa que não me entra na cabeça: por que motivos há uma especie de “vale” na cadência dos pagamentos nos anos de 2012 e 2013? A quebra no ritmo dos pagamentos, como se vê no gráfico, ocorre nas PPPs rodoviárias, e nada na sua entrada em funcionamento permite prever esses dois anos de relativa “poupança”.
Se eu não conhecesse o tipo de políticos que assinaram os contratos – José Sócrates como responsável máximo, Paulo Campos a pôr as mãos na massa – acharia que a folga de 2012/2013 nada teria a ver com um ciclo eleitoral em que, se não tivesse havido dissolução, Sócrates iria novamente às urnas em 2013 e tudo faria para repetir a receita de sucesso de 2009. Mas como conheço aqueles dois figurões começo a crer que eles, com a cumplicidade da Estradas de Portugal, planearam mesmo este ciclo de pagamentos com uma espécie de “folga eleitoral”.
Depois ainda dizem que não estávamos nas mãos de um gangue que não olhava a meios para atingir os seus fins…"
José Manuel Fernandes, Blasfémias
Viciados na mentira
Tínhamos todos certificados de habilitações que não serviam para nada passados pelas Novas Oportunidades. Pontes e tolerâncias e ponto consagrados como direitos constitucionais. Todos os dias eram dias históricos porque um evento com a devida cobertura mediática assim o garantia. Éramos todos tão felizes. As principais questões do país eram quem podia casar com quem. Éramos um verdadeiro salão de festas. Medina Carreira era um tremendista. Os ordenados dos funcionários públicos aumentavam 2,9 num ano. E íamos ter aeroportos, TGV, auto-estradas para todo o lado… Essa mistificação acabou neste dia.
Sócrates e Alberto João foram o lado mais grotesco dessa ilusão mas estão longe de ser os únicos. Anda para aí uma legião de gente que todos os dia inventa uma indignação para justificar não se ter feito antes o que se devia. Confesso que tenho pouca paciência para essse exercício de auto-indulgência mas reconheço que funciona num país que se viciou na mentira. Mas o que se espera é que PS e PSD apresentam propostas ideologicamente sustentadas para o país. Que o PS deixe de andar a fazer de conta que é a água oxigenada deste estado que vive acima das sua possibilidades: onde é que estão as propostas socialistas para governar como socialistas sem nos arruinar? E que o PSD se deixe de esconder atrás da troika para justificar as medidas que se estão a tomar.
Helena F Matos, Blasfémias
O ano em que o céu nos caiu nas cabeças. Felizmente
Não há nada que irrite mais os puristas da política e os idealistas de todas as estações do que recordar-lhes algumas verdades essenciais que qualquer dona de casa conhece. De resto, a simples evocação do termo “dona de casa” deixa-os fora de si. Com razão: as donas de casa fazem contas e conhecem as dificuldades do fim do mês, os fala-barato dos grandes projectos têm tendência para ignorar essas realidades comezinhas.
Ora, para compreendermos os que se passou em Portugal no último ano, temos de perceber que, ao fim de muitos anos de desvario, os portugueses voltaram a fazer contas. E começaram a fazê-lo antes do seu próprio Governo.
Há um ano, para quem já não se recorde, ainda vivíamos num mundo irreal. O primeiro-ministro de então abriu a semana antes do Natal com uma ida a Castelo Branco inaugurar uma Loja do Cidadão, prosseguiu com uma cerimónia no CCB com as IPSS e terminou sentado, pela sexta vez, ao volante do automóvel eléctrico que traria para Portugal a fábrica de baterias que afinal não veio. A ministra da Saúde passou a semana a contradizer-se sobre a dimensão do buraco orçamental do sector. O ministro das Obras Públicas inaugurou mais dois troços de PPP-alcatrão, daqueles que só acabaremos de pagar lá para 2050. Entretanto os jornais anunciavam que o fecho das contas de 2010 ameaçava ser problemático (foi ainda pior), que a Moody”s poderia cortar o rating de Portugal (cortou mesmo) e que o salário de Dezembro não chegou a tempo a todos os juízes.
Aprecie-se mais ou aprecie-se menos, já não vivemos neste desvario, apesar de muitas pessoas (como o deputado Pedro Nuno Santos) terem sinceramente saudades dessa época.
O último grande líder político que não tinha medo de assumir que, nas contas públicas, se devia ter o mesmo tipo de preocupação de uma dona de casa foi – poderia deixar de ser? – uma mulher. Margaret Thatcher, é claro. Logo na primeira campanha eleitoral em que participou, em 1949, trinta anos antes de chegar a primeira-ministra, recomendou às suas eleitoras que “não se assustassem com a linguagem complicada dos economistas e dos ministros, antes pensassem na política tal como pensam nos seus problemas domésticos”. Isso para defender que não se deve gastar para além do que se ganha – em casa ou no país.
Quando a “Dama de Ferro” chegou ao poder, no final da década de 1970, uma época de dívidas crescentes e inflação descontrolada, continuou a invocar a mítica dona de casa para lembrar que o endividamento não torna as pessoas mais livres, antes mais dependentes, e que a dependência é uma forma de degradação pessoal e social. E que é fatal para a soberania nacional.
Portugal teve a noção clara do que significava a dependência no dia em que aterraram em Lisboa os enviados da troika. Como “cobradores do fraque”, eles entraram pela nossa casa adentro, vasculharam as contas, ditaram regras, disseram o que podíamos fazer e o que tínhamos de deixar de fazer. Portugal, como acaba de confirmar aEconomist Intelligence Unit no seu índice Index of Democracy 2011, deixou nessa altura de ser “uma democracia plena” para ser apenas uma “democracia com falhas”. Porquê? Porque os portugueses deixaram de poder decidir livremente sobre aspectos essenciais da sua vida colectiva. Porque perdemos soberania.
Antes de o país, e de o Estado, se ver nesta lamentável situação, já muitos portugueses tinham começado a sentir, nas suas economias domésticas, as consequências de anos de vida desvairada. O primeiro choque chegou ainda antes da crise internacional: veio na forma da subida das taxas de juro sentida nos primeiros meses de 2008, momento a partir do qual começaram a chegar a muitos empregadores notificações para reterem parte dos ordenados de alguns trabalhadores, retenção feita a favor dos seus credores. Se olharmos para o índice de confiança dos consumidores do INE, confirmamos que é nessa altura, há mais de três anos, que os portugueses começam a desacreditar.
Para muitos portugueses aquilo que o Governo está a fazer agora – apertar o cinto, e muito – é o que eles já começaram a fazer há bastante tempo. A linguagem simples e directa de Vítor Gaspar não lhes é estranha. Pelo contrário.
Mesmo assim, em Portugal, continua a ser tabu considerar que o Estado se deve comportar com a probidade e o rigor de uma dona de casa. Isso ainda é visto como um insulto. Mas tal não impediu que uma parte da linguagem doméstica dos lares com dificuldades no fim do mês tivesse ganho foros de alforria: “Não há dinheiro.” Tal como um pai que recusa mais um pedido de um filho, o ministro das Finanças começou por repetir aos seus colegas, e estes agora repetem ao país a mais dura das verdades: o dinheiro acabou.
Foi esta a realidade com que todos (ou quase todos, há sempre uns irredutíveis proponentes de novos “investimentos”) fomos confrontados em 2011. Foi este o céu que nos caiu em cima da cabeça. E por muito duro que tal seja, ainda bem que sucedeu. Mais tempo passasse e mais peso teríamos de suportar, mais difícil seria sacudirmos a dependência.
Durante muitos anos, em Portugal, na Europa, no mundo ocidental, um optimismo esfuziante permitiu que se chegasse ao poder com base em lemas do tipo “as coisas só podem ficar melhores”, como sucedeu com Tony Blair em 1997. Não parecia mais necessário realizar escolhas dolorosas ou ter de fazer sacrifícios: o progresso chegaria naturalmente, bastavam as boas intenções da famosa “Estratégia de Lisboa” (lembram-se? Era a que faria da Europa, em 2010, a economia mais dinâmica do mundo…) e manter viva “a confiança” dos eleitorados.
Nessa época – a época de Blair e de Clinton, de Guterres e de Schroeder, de Prodi e de Jospin – o mapa político da Europa pintava-se de cor-de-rosa e havia “um amigo na Casa Branca”. A ideia thatcheriana de que se devem enfrentar os problemas em vez de os varrer para debaixo do tapete, esperando que se resolvam por si, parecia coisa de um passado longínquo.
Cruel engano, terrível desilusão. Dez anos depois o mapa político da Europa não podia ser mais diferente. Neste momento 97 por cento dos europeus são governados por executivos de centro-direita e a crise não parece estar a abrir caminho a um eventual regresso do centro-esquerda. Pior: sem dinheiro, sem capacidade de endividamento ilimitada, até os governos de centro-esquerda estão obrigados a políticas que antes execravam. Para socialistas e sociais-democratas, terem colocado os seus países e a Europa na mão dos credores correspondeu a um suicídio político de consequências ainda difíceis de prever. Sobretudo pelos que ainda pensam que pagar as dívidas é uma ideia de criança…
Jose Manuel Fernandes, Público e Blasfémias, 23 Dezembro 2011
Há poucos dias o ex-PM Sócrates assumiu o que realmente lhe ia na alma durante os anos que nos levou à bancarrota, quando afirmou que para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança acrescentando ainda que as dívidas dos Estados são por definição eternas.
Depois disso, Pedro Nuno Santos, um dos vice-presidentes da bancada parlamentar do PS, quis mostrar que aprendeu a lição do seu mestre e criticou o actual governo por não acenar aos credores do nosso país com um eventual incumprimento, caso não aceitassem as regras definidas.
Se o nosso sistema de Justiça punisse devidamente os prevaricadores, o pano já teria caído sobre estas nódoas...
Carta a um filho sobre estes dias que correm
Escrevo-te no final de um estranho mês de Outubro. Depois de um Verão triste, tivemos sol e calor. Na praia e o mar estava estranhamente calmo. Teriam sido semanas descontraídas e alegres se não fossemos lendo as notícias. Sabíamos que elas, quando chegassem, seriam más – mas não estávamos à espera de notícias tão más.
Não sou funcionário público e ainda nem falei com o teu avô, que perderá, nos próximos anos, os subsídios de férias e de Natal. Mas sei que os funcionários públicos e os pensionistas estão atordoados. É natural. Não estavam à espera. Ninguém estava à espera. Mesmo eu, que há muito defendia a necessidade de diminuir os gastos com a função pública, não imaginava que fosse assim.
No entanto tenho a percepção da fatalidade. Julgo que muita gente a tem. O dinheiro acabou. O nosso e até o que nos emprestam. Não posso nem quero imaginar que fosse através de mais impostos que se resolvessem as aflições do próximo Orçamento, como parece sugerir o Presidente da República. Não posso nem quero imaginar que o governo deste país continuasse a fazer como os governos do passado, a fingir que cumpria as metas disfarçando as dívidas.
É por isso que não posso deixar de pensar: o que foi que nos trouxe até aqui? O que foi que nos meteu neste poço a que só agora vemos as paredes escuras, negras?
Também te escrevo envergonhado. Porque escrevo para te dizer, por exemplo, que quando tiveres a minha idade, se ainda andares por este país, continuarás a pagar centenas e centenas de quilómetros de auto-estradas que se degradarão antes de chegarem a ter movimento que se veja. Ou para te alertar que bem antes de chegares à idade da reforma o sistema de pensões terá entrado em colapso (dizem-me que ainda haverá dinheiro para os da minha idade, mas não acredito).
Escrevo-te sobretudo para te contar como desperdiçámos a melhor oportunidade de um século de história. Ou mesmo dos últimos dois séculos.
Sei que muitos andam por aí a culpar “os políticos”. Têm razão: houve muita irresponsabilidade política, houve dolo e houve corrupção. Há alguns figurões a que nunca perdoarei, e espero que o país não perdoe. Mas eu não culpo só “os políticos”. Ou só “os banqueiros”, apesar de estes também terem contribuído para a irresponsabilidade do festim. Eu culpo também uma nação que se embebedou com a ilusão da riqueza fácil, do sonho de “ser como os outros europeus” no espaço de uma década.
No outro dia pus-me a olhar para o meu carro. Seria necessário ter um modelo tão bom? Não. Mas tudo estava feito para que o tivesse. Em poucos anos, Portugal encheu-se de automóveis. Na Europa só os italianos têm proporcionalmente mais carros do que os portugueses. O parque automóvel de Lisboa é imensamente mais rico do que o de Copenhaga ou Estocolmo. Mas não só. Somos o povo com mais telemóveis. E o que mais casas próprias comprou. Até casas de segunda habitação.
Muitos da minha geração fizeram tudo para proporcionar aos filhos os bens de consumo a que eles próprios não haviam tido acesso, mas não fizeram o suficiente para que muitos da tua geração saíssem mais cede de casa dos pais. Há quem diga que é assim porque ainda acreditamos nos valores familiares, mas eu desconfio. Afinal com que família sonhamos se, ao mesmo tempo, somos um dos países da Europa onde nascem menos crianças?
Não te vou contar a história de todas as oportunidades falhadas. Ou de todas as políticas criminosas. Ou de todos os roubos, que também os houve. Prefiro tentar, mais humildemente, explicar como te expropriámos o futuro.
Nasceste, como eu nasci, num país de cultura atávica. Num país onde se prefere a protecção do nepotismo ao risco da emancipação. Um país habituado à segurança, mesmo que na pobreza relativa. A revolução não nos mudou, apenas transformou tudo em direitos. Os empregos tinham de ser para a vida, de preferência empregos no Estado. Ninguém pôde tocar nas rendas antigas, pelo que a minha geração teve de ir á procura de casa própria e a tua… nem isso. Os despedimentos são tabu. Houve até quem assumisse “direitos” como a reforma aos 55 ou 56 anos.
Neste país não há profissões: há posições. Quem as ocupa chama-lhes suas, e barra os caminho a todos os competidores. Neste país não há feriados: há “pontes” e fins-de-semana alargados. Neste país detesta-se a avaliação: somos todos “bons” ou “muito bons”. Neste país fala-se muito dos jovens, mas não há oportunidades nem bons olhos para os mais novos.
Enquanto a economia foi crescendo, enquanto o dinheiro (primeiro o dos emigrantes, depois o da Europa) foi chegando, parecia que corria tudo bem. Mas isso tinha de acabar, e acabou. Foi nessa altura que o desemprego dos da tua idade começou a disparar. Antes de disparar todo o desemprego. Ninguém que, nessa época, chamasse a atenção para a insustentabilidade da nossa economia era ouvido. Gozava-se com o Medina Carreira. Diziam que todos os que chamavam a atenção para o risco de nos embebedarmos com os juros baixos eram apenas “velhos do Restelo”. Na nossa vida privada, compravamos mais um plasma. No Estado, contratava-se mais uma PPP para outra auto-estrada.
Quando penso no que nos aconteceu como país, e no que aconteceu ao Estado, lembro-me das campanhas da Cofidis e outras empresas de crédito fácil. Para muitos, esse dinheiro ao virar da esquina e a ilusão de que os ordenados aumentariam todos os anos, levou-os a comprar hoje o que julgavam poder pagar amanhã. Até que começaram a ver o salário penhorado por dívidas e, mesmo sem perderem os empregos, perderam os rendimentos.
O país todo portou-se da mesma forma. Desde 1995 que consumimos, em média, mais dez por cento do que produzimos. Sempre a crédito. Sempre com dívidas maiores. Sempre sem sermos capazes de nos emendarmos a tempo.
O que se passou no Estado – por via de vários governos centrais, dos governos regionais e das autarquias – foi muito pior. Inventaram-se expedientes para continuar a gastar sem pagar. Já deves ter ouvido falar das PPP’s, mas são só uma parte do problema. Há empresas públicas fictícias que, para financiar o Estado, lhe compram os imóveis e, depois, lhos alugam. Outras que fazem as obras para as quais não há (nem havia) dinheiro, como nas escolas. Outras, como as de transportes, que são veículos de endividamento. Se na Madeira se construiu uma marina que nunca teve barcos, em Lisboa há outra marina na Expo que nunca serviu para nada e em Beja um aeroporto vazio. O Alqueva já consumiu milhões e ainda não rega um hectare. E por aí adiante. A lista é infindável e o espantoso é que os autores dos desmandos andam por aí a rir e a atirar setas aos que, agora, tentam concertar a casa em ruínas.
Vivemos de mentiras – votámos mesmo em mentiras apesar de vários alertas – e na ilusão de que o dinheiro chegaria sempre. Não chegou. A factura que estamos a pagar é imensa. A que te vamos deixar, além de imensa, é imoral.
Chegámos a uma altura em que um governo nos veio dizer que temos de empobrecer. Admiro-lhe a frontalidade (gostei muito de ver, por exemplo, a franqueza com que o ministro das Finanças se explicou na televisão). Gosto da lufada de ar fresco que representa esta sinceridade.
A ti isso pouco te importa. O que conta é saber se saímos inteiros do embate deste “martelo-pilão”, como lhe chama o Pacheco Pereira. Acho que sim. Podemos ter um Orçamento que é como “um Houdini algemado dentro de uma camisa-de-forças fechado num aquário de água salgada”, uma imagem do Pedro Guerreiro, mas tal como o Houdini não temos alternativa senão safarmo-nos.
Talvez tenhas ouvido dizer que assim se acrescenta recessão à recessão. É verdade, mas só num primeiro momento. Depois, a única esperança que a minha geração pode devolver à tua é quebrar o ciclo da dívida e permitir que, sem loucuras, os bancos possam voltar a financiar a economia. Prosseguir o caminho que vinha detrás é alimentar a ilusão de que, continuando o Estado a gastar dinheiro, ou a estimular o consumo que nos levou ao endividamento, a economia recupera. Não acredites: afunda-se ainda mais. E passará aos da tua idade um passivo ainda maior.
O dever dos que têm a minha idade, sobretudo dos que, melhor ou pior, viveram os anos do bem-bom e estão razoavelmente instalados, não é declarem-se “indignados” por perderem alguns direitos – é aceitarem que algum ajustamento nos seus hábitos, mesmo um ajustamento doloroso e duro, é necessário para libertar recursos para os que têm realmente razões para se indignarem. Os da tua idade.
A minha geração passou a vida a reivindicar direitos pagos pelo dinheiro de todos. Ainda hoje continuo a ouvir por todo lado gente a pedir que se use o Estado para “apostar” na economia, o que quase sempre significa apostar nas empresas amigas. Possa a tua geração fazer em Portugal o que tantos de vocês fizeram emigrando: correr riscos, inovar, trabalhar com ambição, cerrar os dentes. A muitos da minha geração só se lhes saírem da frente. Mesmo deixando-te as SCUT’s para pagar.
Público, 21 Outubro 2011
«O País está a fazer o seu trabalho e bem. O défice abaixo de 7,3% em 2010 é provavelmente o primeiro resultado que o País apresenta como estímulo à confiança dos mercados internacionais.»
«O Governo português não vai pedir nenhuma ajuda financeira, pela simples razão que não é necessário. Portugal tem condições de se financiar no mercado.»
José Sócrates, 11 de Janeiro de 2011
Em período de austeridade, a Freguesia do Juncal encheu hoje 4 autocarros para o gratuito passeio anual de idosos. Como sempre o Juncal ficou quase vazio e nem todos os que seguiam a bordo eram idosos.
Podíamos consumir energias a tratar de negociar as inevitáveis fusões de freguesias, mas todos preferimos vir a ser um dia surpreendidos com aquilo que sabemos que irá acontecer.
Mas a culpa é da Moody's.
O aeroporto custou cerca de 33 milhões de euros, foi aberto no meio do nada e recebe apenas um voo por semana - há alguns dias, um avião com capacidade para 49 passageiros trouxe só sete. Para chegarem à cidade, esses turistas destemidos tiveram de se deslocar numa estrada com poucas condições - mas em breve esse problemas será resolvido, uma vez que está a ser construída uma auto-estrada.
Sábado, editorial
Francisco Assis considerou “muito perigosa” a proposta avançada pelo grupo “Mais Sociedade” para que o recurso ao subsídio de desemprego implique uma redução de direitos na pensão de reforma.
Depois de seis anos de regabofe irresponsável, ainda conseguem fingir que não será o FMI a decidir o que irá restar do Estado Social, seja lá o que isso for.
Num cenário de Sócrates voltar a ser PM (cruzes canhoto!!) seria interessante ver quem aceitaria ser o seu Ministro das Finanças.
A avaliar pelos lamentáveis episódios dos últimos dias, já dá para perceber que esta campanha eleitoral promete ser lamentável. A única maneira de não se discutirem os problemas do País será discutir até à náusea todos os assuntos irrelevantes. E é isso que os socialistas tentarão fazer.
Trata-se de um sintoma de uma patologia cada vez mais crónica na nossa sociedade, a negação da realidade. Existe muito nas famílias divididas, nos casais à beira do divórcio, nas empresas perto do colapso, nos países com más elites.
Fala-se durante tempos imensos sobre coisas laterais e escondem-se os temas importantes. O que possa ser incómodo é ignorado.
A crise não explica tudo, sobretudo não explica o clima de violência verbal quando estala o verniz numa simples conversa sobre clubes de futebol. Imagino que o mal seja mais profundo e que muitos portugueses, de facto, acreditem que estamos a entrar num período de declínio irreversível. Um deslizar fatalista para o desastre.
Os eleitores sabem que isto falhou tudo, que estão perante a perspectiva do empobrecimento acentuado num horizonte de uma década, mas a responsabilidade é algo difusa, imprecisa. Ouvimos dizer que "a culpa é de todos" e questionamo-nos sobre a nossa culpa. "Que fiz eu de errado, senão trabalhar como um louco e para o país acabar nisto?"
Ao fim de um ano de sacrifícios mal distribuídos, estamos perante a perspectiva de um resgate internacional onde aparecemos como pedintes irresponsáveis. Os nossos parceiros europeus (supostamente mais do que simples aliados) humilham-nos como não aconteceu em intervenções anteriores. E, desta vez, não temos a margem de manobra do passado, não podemos desvalorizar a moeda, sendo a dívida bem mais elevada.
Seria lógico que o País estivesse a discutir o seu modelo económico, que fracassou em toda a linha; a mudar tranquilamente as elites políticas, que não souberam ou não quiseram actuar. Mas parece existir uma paralisia da inteligência que transforma todos debates em berratas laterais, todas as discussões em trincheiras.
Os socialistas estiveram no poder nos últimos seis anos e presidiram a um processo de endividamento sem precedentes, surdos a todos os avisos, concentrados em satisfazer a avidez das suas clientelas. E, no entanto, a comunicação social parece aceitar bovinamente que não haja discussão sobre esta herança.
A negação da realidade que se instalou nos últimos anos é um fenómeno muito perigoso. Nas famílias divididas acaba em zangas de décadas; os casais, em divórcios mais dolorosos, com as crianças transformadas em armas de arremesso. As empresas e os países, esses, caminham para a falência e para o conflito civil.
Encarar a realidade é a nossa única saída. Os portugueses devem exigir uma campanha política transparente e verdadeira, que discuta de forma séria e compreensível como foi cavado este buraco e como é que o País sai dele. Os eleitores devem punir quem tentar desviar as atenções do essencial: da crise, dos seus efeitos e das opções que se colocam para a resolver.
Roubado ao Luis Naves daqui.
Mais desemprego e mais crise económica num mundo em recuperação ou com um crescimento exponencial.
E o alerta do FMI é claro: vem aí um ajustamento «muito duro».
A contrariar a tendência da maioria dos países do mundo, Portugal vai contrair 1,5% em 2011 e 0,5% em 2012. Ora, na Europa, as economias deverão crescer, em média, 2%; a Rússia deverá crescer 4,5%; o continente asiático, muito impulsionado pela China, 6,8%; a América do Norte 3% e a América do Sul, com Brasil à cabeça, 4,2%. Até no continente africano, o crescimento económico deverá ser acima de 4%.
Portugal fica assim isolado das economias do mundo inteiro, desenvolvidas ou emergentes, mesmo atrás da Grécia e da Costa do Marfim, únicos países que, em 2011, vão sofrer quedas na economia real juntamente com o nosso país."
Agência Financeira, 11 de Abril de 2011
Ouvir alguém dizer o óbvio é por vezes surpreendente. Os assobios que se ouvem em fundo são um indicador da distância do actual PS (Partido Sócrates) da realidade e mostra como uma vitória socialista levaria o país não à falência porque isso é um facto consumado, mas à total alucinação.
Já está. A realidade vergou o tipo. O triste alívio que senti ao ver Primeiro Ministro do meu país a assumir a incapacidade da República em cumprir com as suas obrigações financeiras, só tem explicação pela clivagem e pelo clima de persiguição que Sócrates insituiu na sua relação com todos os que se lhe opõem. Desse modo levou-nos à falência, dividiu o país e enfranqueceu a democracia.
Na conferência de impensa após o jogo, um dos derrotados da noite (os outros foram os 10 milhões de portugueses) não hesitou em tentar manter as mentiras e apontou o chumbo do PEC IV como a causadora da sua/nossa derrota. Mas como disse o Bruno Nogueira no Tubo de Ensaio, os PEC's de Sócrates fazem lembrar aquelas gordas que enfardam três brigadeiros, duas fatias de bolo de bolacha, uma de cheesecake e no fim pedem adoçante para o café. Depois da imensa estúrdia de quinze anos de socialismo alimentado por dinheiro dos outros, passo a redundância, a culpa da obesidade mórbida da República, é do Canderel. Sócrates igual a si mesmo.
Um video de Campanha do PS de 2009. Cómico e Trágico. Estando o país em contenção deveria ser aproveitado para a campanha eleitoral em curso.
Este é um cartoon adaptado ao se passa no nosso país.
Os socialistas querem a toda a força manter o 'status quo' a que erroneamente chamam de estabilidade. Os juros pagos pelo estado português pela sua imensa dívida é apenas um dos indicadores da falta de credibilidade de quem nos governa.
Como já conhecemos o Primeiro Ministro há algum tempo, para o entendermos temos a obrigação de recorrer ao tradutor da dupla negação. Onde se lê que 'não estou agarrado ao poder' deve ler-se exactamente o contrário.
O mundo árabe deseja uma mudança e saiu para a rua. Começou na Tunisia e seguiu-se o ainda há pouco tempo inabalável regime egípcio. A Líbia vive uma guerra civil entre um louco ditador que para se manter o poder não hesitará em ordenar aos seus mercenários que abatam todos os que não o apoiam. Não sabemos que tipo de mudança desejam e receio que nem eles próprios o saibam.
Alguns comentadores dizer que a Líbia se pode tornar numa Somália, ou seja, um território sem lei nem ordem, ainda por cima junto à Europa e rico em petróleo.
Do outro lado do mundo, depois da cheias que bateram todos os recordes na Austrália, do terramoto na Nova Zelândia assistimos às terríveis imagens do terramoto seguido de vários tsunamis no Japão, onde além da destruição imediata provocou um acidente nuclear, de que desconhecem as possíveis consequências.
Perante todos estes cenários terríveis e assustadores há no entanto sinais de esperança… dois diários portugueses, o i e o Diário Económico, afirmam no seus editoriais que não se sairá da crise sem eleições legislativas.
"Segundo Manuela Ferreira Leite e PSD há um problema que condiciona todos os outros - a dívida pública portuguesa!!!"
Blog Simplex, Blog de apoio à candidatura do PS nas legislativas de 2009.
Há dias recebi um email que comparava as convicções de direita com as de esquerda, no que toca à liberdade individual. Alguém de direita que não goste de fumar não fuma, enquanto que alguém de esquerda com gosto idêntico, além de não fumar pretende proibir que os outros fumem.
Em Espanha o governo socialista a braços com uma grave crise económica e social, entendeu ser importante que neste momento se proibisse a possibilidade de fumar em casa se aí houver uma empregada a trabalhar. Olhando para a notícia do ABC a lei aplica-se a empregadas, o que não deixa de ser uma curiosa presunção sexista, mas o que sobra de facto é a violação das liberdades individuais dentro de último reduto da esfera privada, a habitação.
Esta medida enquadra-se num largo conjunto de muitas outras que visam formatar o indivíduo de acordo com os standards do que é considerado correcto. Eu chamo-lhe o asseio.
Nunca consegui gostar do acto de fumar, mas perante este frenesim, assumo o compromisso de que VOU COMEÇAR A FUMAR. Talvez me dedique ao cachimbo, para já como acto simbólico, mas com sorte talvez fique viciado.
Quando vemos empresas a fechar por não suportarem tantos impostos e exigências por parte do Estado e os seus empregados a emigrarem, quando vemos filas de carros para abastecer onde o combustível é mais barato uns cêntimos, tentando ingloriamente minimizar o efeito dos mais altos impostos sobre combustível da UE, quando pagamos uma das taxas de IVA mais castradoras do consumo, quando vemos escolas a reduzir os seus quadros em consequência dos cortes orçamentais, quando lembramos com saudade o tempo em que eram as empresas do nosso concelho que mais emprego criavam, ao contrário do que agora acontece, onde além da Câmara são empregadores de referência as Juntas de Freguesia e as Instituições de Solidariedade, não deixa de ser caricato abrir o quinzenário regional O Portomosense e tomar conhecimento que o socialista Governador Civil de Leiria, Paiva de Carvalho conseguiu disponibilizar fundos no montante de 2,3 milhões de euros para a aquisição de viaturas de Bombeiros. Este valor custeará 70% das viaturas, sendo os restantes 30% suportados pelas respectivas corporações.
Era este investimento imprescindível? Não sejas parvo que um investimento na nossa terra é sempre bom. Ok! Mas com que critério foram escolhidas as viaturas?
Carlos Alberto, Comandante dos Bombeiros de Mira de Aire, confessa que "não havia necessidade de um carro tão bom", até pelo que isso representará em termos de esforço financeiro, "quando o que precisávamos mesmo era de viaturas para a secção de São Bento. Embora reconheça que a actual viatura adaptada para desencarceramento está aquém das necessidades, não esconde a sua preferência por um carro mais "modesto em vez de um de 150 mil euros". Acrescenta que a proximidade geográfica a Minde (a menos de 5km, mas já no distrito de Santarém) faz com que estejamos perante uma duplicação de meios. Para resolver o 'problema' dos 30% de 150 mil euros, o Comandante considera a possibilidade de contrair um empréstimo ou então terá de ir bater à porta da Câmara para ver se o podem ajudar.
Os Bombeiros do Juncal também receberam um presente e a população está a preparar diversas iniciativas de forma a angariar fundos para ajudar a corporação. Uma delas será um concurso de sopas e já convidaram um grupo de dançarinas e outro de cavaquinhos para animar o evento.
E tudo vai bem no Reino de Sua Majestade.
Sabem quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Europeia?
Três.
Grécia, Portugal e Espanha !!
"o socialismo dura até se acabar o dinheiro dos outros"
Margaret Thatcher
recebido por mail.
"Graças às inesperadas e arrasadoras medidas recém anunciadas quando às prestações para a Segurança Social, a imensidão de portugueses que trabalhava a recibo verde vai ter de correr a uma consevatória para criar uma empresa unipessoal. Quem não o fizer será ainda mais penalizado do que já era, e acrescentará à precaridade da sua situação uma pesada contribuição para o famigerado Estado Social de faz-de-conta, que cada dia lhe garante menos apoio em todas as frentes. Mais uma esperteza encapotada deste (des)governo criminoso, que anunciará - aposto! - uma "explosão de novas empresas que revela uma economia florescente e saudável", e arrecadará cerca de quinhentos euros por cada uma delas (o custo inicial aproximado da criação de uma "empresa na hora"). Quantas sobreviverão já é outra história, irrelevante para as estatísticas de crescimento a apresentar, triunfalmente, aos vorazes "mercados" que têm de ser acalmados. Simplex, não?"
Roubado daqui.
De forma a apoiar as empresas o Governo anunciou a criação de um fundo para financiar as indemnizações pagas aos trabalhadores em caso de cessação do contrato de trabalho. A ministra do Trabalho deixou claro que “não haverá nenhuma contribuição pública” para o fundo, pelo que este terá de ser alimentado exclusivamente com a participação das empresas.
Esta medida é fantástica, ficando apenas por esclarecer se as empresas que, com maior ou menos esforço não despedem, também terão de contribuir para esse fundo. Se tiverem de o fazer, esta medida constituirá apenas num novo e imaginativo encargo para penalizar quem não pratica o que se pretende evitar, o que não poderia ser mais socialista. Se a medida for exclusiva às empresas que despedem, então isto não será mais que um baralhar e dar de novo, pois os encargos do despedimento serão suportados por quem despede, o que vendo bem… já acontece agora.
Falta apenas saber se, num caso ou noutro, as empresas terão de contribuir antes do despedimento ou apenas depois. Se for antes, então isto não será mais que uma antecipação de encargos o que poderá levar a uma antecipação de novos despedimentos. Se for depois, então alguém terá de adiantar o valor da indemnização a receber pelo empregado despedido, mas esse caso será o mais fácil de resolver... manda-se dívida para a China.
Cá por mim, que tenho mau feitio, estamos perante mais uma prova do estado de negação em que vive o Eng. Sócrates.
A única forma de reduzir os encargos para quem despede é limitar os direitos de quem é despedido. Tudo o que for feito além disto não será mais do que poesia sem graça.
Este fim-de-semana decorreu mais uma campanha de recolha de alimentos para o Banco Alimentar. Tudo aponta para tenha sido mais uma campanha bem sucedida na recolha de alimentos. Perante a adversidade os portugueses são generosos.
Do site da Federação de Bancos Alimentares Contra a Fome recolhi este excerto:
"Portugal é um dos países mais pobres da União Europeia, com cerca de dois milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com pouco mais de 4 euros por dia."
Olhando para estes dados questiono-me sobre tudo quanto durante anos me tentaram convencer, de que o Estado cobra impostos para redistribuir a riqueza numa lógica de justiça fiscal. Nessa linha de raciocínio, pagar impostos era assim além de obrigatório (afinal como o nome indica são-nos impostos) também ético, pois dessa forma estávamos a colaborar com o Estado Social que amparava os mais necessitados.
Após décadas desta conversa que agora classifico sem hesitações como conversa da treta e após milhares de milhões de euros de impostos cobrados, o resultado é este:
"Portugal é um dos países mais pobres da União Europeia, com cerca de dois milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com pouco mais de 4 euros por dia."
Não vale a pena enumerar os milhões que o morbidamente obeso Estado Português desperdiça em caprichos, mordomias e juros, para concluir que sem mudanças significativas na trajectória, deixaremos para os nossos filhos um país irremediavelmente pobre e endividado.
Os números que o Banco Alimentar nos apresenta são a confirmação da falência do modelo que escolhemos para os governos do nosso país.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
Quimera