Desde que me lembro que os analistas políticos evitam que as suas análises sejam ouvidas pouco tempo depois de terem sido proferidas. Muito poucas se concretizam e a maior parte não passam de ´wishfull thinkings´ facciosos não assumidos. Não deixam de ser legítimos opinadores mas também não deixam de ser ridículos e pretensiosos 'fazedores de opinião'.
Essa ideia ajudou-me a lidar hoje com tanto fatalismo apocalíptico perante o Brexit.
A vitória do 'Leave' traduz o divórcio generalizado entre os cidadãos europeus com as instituições europeias. Muito poucos saberão explicar para que serve a comissão, o eurogrupo, o parlamento ou o conselho europeu. Nem querem saber.
Mas à excepção dos radicais que existem nas margens da sociedade e que desejam a ruptura e a implosão do sistema (alguns deles sustentam a geringonça), a maioria dos cidadãos europeus identifica-se profundamente com os valores europeus, a democracia, a liberdade de expressão, os direitos das mulheres, a livre circulação de pessoas, bens e serviços.
Foram os mais novos que no Reino Unido votaram maioritariamente pela manutenção na UE e isso é também um sinal de esperança. Acredito que em termos etários uma divisão idêntica de opiniões se repita na esmagadora maioria dos estados-membros.
Já não vou para novo mas felizmente já não me lembro da Europa do equilíbrio de forças, onde se vê quem é o mais poderoso depois de contar quem tem mais tanques, aviões ou fragatas. Não é nessa Europa que eu quero viver.
Hoje festejam os grunhos do UKIP, da Frente Nacional, outros partidos xenófobos pela Europa e continua a aguardar-se uma posição oficial do PCP e do BE. Também o sr Putin e Trump estão a sorrir. Só isso é motivo para estarmos preocupados e alerta, mas o mais fantástico projecto civilizacional da humanidade não pode ruir depois de um referendo com uma vitória tão marginal.
A Europa não se está a desmoronar pois nenhum europeu de Lisboa a Helsínquia nem de Atenas a Dublin aceita o regresso ao equilíbrio de forças. Todos nos revemos nos valores europeus da democracia e da liberdade, mas poucos se revêem nas instituições europeias. São necessárias reformas sim, mas os credores da Grécia são os contribuintes europeus e os accionistas e depositantes dos bancos que compraram dívida grega. Se os bancos tivessem caído ficaríamos melhor? Quantos BES teriam de cair para que o Syriza fosse o herói da festa? Quantos milhões teria de Portugal perder para que o senhor Varoufakis merecesse uma estátua? Alguns países europeus perderam mais dinheiro no anterior perdão de dívida à Grécia do que gastam com as reformas dos seus idosos ou com os apoios sociais aos seus cidadãos. Onde é que termina a exigência de solidariedade da esquerda grega?
Ver o mundo a preto e branco em que de um lado estão os bons e dignos e do outro lado os pérfidos e fundamentalistas é intelectualmente cómodo mas demasiado simples para o que se está a passar.
A Europa sempre avançou no passado de crise em crise.
Da esquerda à direita são os radicais que desejam o regresso à Europa do equilíbrio de forças, onde se conta quem tem mais tanques, aviões ou fragatas. Os radicais unem-se quando as crises aparecem. De que outra forma se entende a coligação Syriza partido da esquerda radical com os nacionalistas de direita do governo grego? Ou a alegria da Mme LePen na vitória do Não no referendo grego. São eles que produzem os soundbytes repetidos pela imprensa e que alertam os cidadãos europeus.
É verdade que um dos pilares da construção europeia é a igualdade entre os seus membros independentemente da sua dimensão. Não acompanho o dia-a-dia nem sou entendido nos detalhes da política europeia mas apesar do direito de veto se manter, essa igualdade não se verificará dentro da União e ainda menos dentro do Eurogrupo. A distribuição nacional dos deputados europeus ajuda a que assim seja, mas existem também os directórios. O eixo franco-alemão sempre liderou o projecto e sem assim não fosse não teríamos vivído 70 anos em paz.
Discordo em absoluto com qualquer paralelismo entre a actual hegemonia alemã (que até parece que saiu derrotada na aceitação do plano grego) com o nazismo. Fazê-lo é mostrar que se desconhece a história.
Não ter sido prevista a possibilidade de saída do euro, aquando da sua criação, terá sido um erro, mas todos os países que embarcaram neste ambicioso projecto sabiam que estavam a perder soberania, pois deixavam de poder delinear a sua política monetária e cambial. Nem todos o quiseram fazer. O Reino Unido e a Dinamarca ficaram de fora e não são menos europeus por isso.
Ter o euro como moeda própria tem os seus custos e exigências.
Na semana que antecedeu o referendo estive dois dias em Atenas e um taxista disse-me que ter o euro como moeda era como ter uma amante fantástica mas financeiramente muito exigente. Ele achava de a relação devia terminar e preferia a Grécia fora do euro do que manter uma relação insustentável.
Também acho que o governo grego mesmo tendo aprovado o acordo negociado em Bruxelas, não conseguirá nem desejará cumpri-lo. Dentro de meses, muito poucos ou mais alguns, lá terá de se voltar ao assunto.
Se a Grécia saísse do euro já, de uma forma assistida, passaria alguns anos difíceis, como aliás passará em qualquer cenário, e depois da desvalorizar a sua moeda até à proporção da sua economia voltaria a ser competitiva e a crescer para voltar à normalidade. O adiar deste passo mostra a falta de estratégia dos líderes europeus que estão apenas a navegar à vista.
Para já não vou falar da relação dos cidadãos com o estado, que é diferente em cada país da UE e do mundo, e que está por detrás da incapacidade da Grécia em fazer reformas e cobrar impostos.
Nós também padecemos do mesmo problema embora a uma escala diferente. Mas isso fica para outro dia.
É comum ouvir a esquerda defender que as off-shore deviam ser taxadas. O plano cipriota não é mais do que isso. Os oligarcas russos têm aplicações off-shore no Chipre em valor superior a 20 mil milhões de euros. Dez por cento desse valor resolve o caso cipriota. Se a União Europeia assumisse este facto estaria a hostilizar Putin e a Real Politik não o permite.
Em alternativa a este plano, a Russia irá resgatar as finanças cipriotas em troca da exploração das reservas de gás da ilha. Quase sem darmos por isso este ainda Estado Membro da UE passará a estar sob a esfera de influência de Moscovo. Dessa forma o Chipre assegura também a manutenção da distância da Turquia e assim mantém o status quo na divisão da ilha.
Mas o que está a dar é dizer mal da senhora Merkel...
"Que vivas tempos interessantes" é uma conhecida maldição chinesa, de que me lembrei quando vi esta inervenção de Nigel Farage. São de facto tempos interessantes este que nos foram dados a viver.
Estava para fazer um post sobre a reacção do PSD nacional aos resultados das eleições da Madeira, onde diria que, apesar do que aqui já tinha escrito, o partido do governo se soube distanciar condignamente dos resultados e mostrou ao país como está comprometido com a resolução dos graves problemas financeiros deixados pelos socialistas, mas quando soube disto tive de mudar de assunto.
O asseio que pouco a pouco e silenciosamente invade as nossas vidas deu mais um passo. A UE legislou no sentido de que as crianças com menos de oito anos não possam encher balões de ar. A proibição alarga-se aos assobios usados nas festas conhecidos entre nós como línguas-de-sogra. O motivo prende-se com a alegada perigosidade destes engenhos que fazem parte do universo infantil há muitas gerações. Mais uma vez o legislador regula (mal) ao pressupor a incapacidade dos cidadões em tomarem decisões com base no bom senso, e assim pretende privar os nossos filhos de experiências pelas quais nós passamos e (espanto!!!) sobrevivemos.
Mais uma vez se repete a velha regra, alguém de direita que não goste de balões não brinca com eles. Se for de esquerda, não brinca e proibe todos os demais de o fazer.
Fui questionado para o quinzenário O Portomosense sobre a fusão de freguesias, decidida pela Troika, e promulgada pelo governo português. Queriam saber se concordava e que freguesias deveriam ser fundidas.
Como tinha o limite de três ou quatro frases disse apenas o seguinte:
"Concordo com a ideia em geral.
Mas graças aos nossos governantes, tão amigos de pedir empréstimos, a nossa opinião deixou de contar. Basta a troika assim decidir que as fusões de freguesias e concelhos avançarão.
Se houvesse visão este seria também o momento de negociar a fusão do nosso concelho com o da Batalha e assim evitar que no futuro se tivesse de acatar simplesmente as decisões impostas. Se os próximos anos não forem muito negativos, isso irá acontecer. É uma questão de tempo."
Muito mais poderia ser dito sobre este assunto, sendo que um aspecto especialmente curioso é que a fusão de concelhos e freguesias só será possível de for imposta por estrangeiros. Nunca nenhum político português teria coragem de tocar nesta vaca sagrada.
Se o euro e a UE sobreviveram à actual crise, a médio prazo a fusão de concelhos será uma realidade e assim abre-se a porta à poupança de milhões e reduz-se o espaço aos pequenos tiranetes, escolhidos por eleitores pouco exigentes e de curtas vistas que se sentem em dívida pessoal perante alguém que usa os dinheiros público para lhe tapar os buracos à frente da porta.
Com menos municípios haverá menos desperdício, menos despesa e dívida pública, menos rotundas, menos obras desnesserárias e menos corrupção. O país estará mais próximo da viabilidade.
Leitura diária
Debaixo de olho
O Futuro e os seus inimigos
de Daniel Innerarity
Um livro que aposta numa política do optimismo e da esperança numa ocasião em que diminui a confiança no futuro. Boa parte dos nossos mal-estares e da nossa pouca racionalidade colectiva provém de que as sociedades democráticas não mantêm boas relações com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político, e a cultura em geral, estão virados apenas para o presente imediato e porque o nosso relacionamento com o futuro colectivo não é de esperança e projecto mas de precaução e improvisação. Este livro procura contribuir para uma nova teoria do tempo social na perspectiva das relações que a sociedade mantém com o seu futuro: de como este é antevisto, decidido e configurado. Para que a acção não seja reacção insignificante e o projecto se não converta em idealismo utópico, é necessária uma política que faça do futuro a sua tarefa fundamental
Teorema
Cachimbos: Marcas, Fabricantes e Artesãos
de José Manuel Lopes
O mais completo livro sobre cachimbos, da autoria do jornalista José Manuel Lopes, presidente do Cachimbo Clube de Portugal. Profusamente ilustrada, esta obra a que poderíamos chamar enciclopédica, dá-nos ainda em anexo uma completíssima lista de clubes e associações do mundo inteiro e dos seus sites.
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